Home   /   Notícias  /   Carolina Deslandes «Não faço arte porque quero, faço arte porque preciso»
Carolina Deslandes «Não faço arte porque quero, faço arte porque preciso»
Carolina Deslandes, 24 anos, ficou conhecida dos portugueses em 2010 com a participação no programa de talentos “Ídolos”, em que conseguiu o terceiro lugar. Em 2012, lançou um primeiro álbum homónimo e o segundo álbum, “Blossom”, chegou às bancas a 19 de fevereiro. Encontrámo-nos com a artista no Royale Café, em Lisboa, para uma entrevista sobre o novo disco e os projetos que tem em mente.
Carolina Deslandes

Carolina Deslandes

 

Foram quatro anos de intervalo entre os dois discos. Sente algum tipo de alteração ou de mudança?
Todos (risos). Acho que os últimos quatro anos foram o maior período de mudança da minha vida, e daí o nome do disco ser “Blossom”, florescer. É exatamente um simbolismo que explica bem a mudança pela qual passei. Não estou necessariamente diferente, mas sinto uma evolução muito grande, tanto a nível pessoal como de identidade artística, das coisas que componho, que escrevo… foram todas as mudanças e mais algumas, passei de menina a mulher.

Falando desse crescimento “de menina a mulher”, como diz, conhemo-la no Ídolos em 2010. Que crescimento é que nota na Carolina dessa altura para a Carolina de agora? Qual foi a importância do programa?
Há gente que me diz “ah, não sei se não gostas de falar do Ídolos”. Eu não tenho problema nenhum com isso, sou muito grata ao programa. O Ídolos serviu para me mostrar um bocadinho mais às pessoas, mas na altura tinha 19 anos. Agora vou fazer 25 e isso faz uma diferença muito grande. Cresci muito, mudou muita coisa: fui viver fora, saí de casa dos meus pais, agora vou ter um filho… Portanto, foi todo um crescimento. Acho que qualquer pessoa de 24 anos que pense em si quando tinha 18 tem vontade de rir, porque muda muita coisa. Só que essa mudança ainda está mais presente quando apareces na televisão e na comunicação social e vês que os teus passos são todos um bocadinho documentados e seguidos.

Além do disco, tem um projeto diferente, um livro, que até se chama “Isto Não É Um Livro”. Acha que o livro e o disco se acabam por complementar?
Sim. Acho que o livro foi importante para mostrar a minha escrita, que era uma coisa que eu nunca tinha feito, tirando alguns textos no facebook, e para mostrar o meu amor à língua portuguesa, apesar de estar a cantar em inglês neste disco. Sou uma grande consumidora de autores portugueses, quer a nível de escrita, quer de composição. Acho que o livro serviu para mostrar isso.

Carolina Deslandes — “Acredito que todas as pessoas têm fases e esta minha fase agora deu-me para escrever em inglês”

Nesse caso, por que é que este disco tem apenas canções em inglês, ao contrário do que aconteceu no anterior, maioritariamente em português?
Porque são sonoridades completamente diferentes. Eu componho na língua em que sinto que devo compor. Não me forço, não digo “ah, isto devia fazer em português, isto tem de ser em inglês”… O que acabou por acontecer foi que ouvia os instrumentais que queria que fizessem parte do disco e as letras saíam-me em inglês. E pensei: “ok, não vale a pena contrariar isto nem fazer força para que assim não seja”. É uma fase. Acredito que todas as pessoas têm fases e esta minha fase agora deu-me para escrever em inglês. Ao mesmo tempo, também compus muita coisa em português, mas é noutra sonoridade completamente diferente. No ano passado até compus mais em português do que em inglês, só que para o tipo de sonoridade que queria para este disco, o inglês encaixava melhor.

E também não pode ter a ver com o facto de este disco também ter produtores internacionais, além de portugueses?
Sim, também pode. E, além disso, consumo séries, música e filmes “de fora” sem legendas, passava verões em Londres e falo inglês desde muito nova. O inglês sempre fez parte da minha vida, nunca foi um extra. Sempre fez parte da minha forma de expressar.

No disco há muito R&B, hip hop, música eletrónica… Quem são as suas grandes influências?
A minha maior influência de todas, e acho que está muito presente no disco, é a Sia. É uma artista que eu adoro. E o Stromae, que é um artista que eu sigo muito, e que também tem muito esta componente eletrónica presente nos trabalhos dele. São os dois artistas que tenho seguido mais.

Uma das músicas mais conhecidas do público português é “Mountains”, com Agir. Como foi gravar com ele?
É sempre bom. Qualquer coisa com ele é sempre melhor, seja uma música, um filme, o que for.

Ele também entra na produção do disco…
Sim. É um dos produtores do disco e é o meu melhor amigo. De facto, faz parte da minha vida em todos os aspectos. Já nos quiseram casar muitas vezes, o que é uma coisa engraçada (risos). Somos amigos desde sempre e espero que por muitos anos. Gravar o “Mountains” foi muito importante, quer para mim, quer para ele. Foi um marco nas nossas carreiras e uma maneira de dizer: “estamos aqui, gostamos disto e fazemos música com qualidade”. Foi uma maneira de as pessoas prestarem atenção ao nosso trabalho.

Há canções muito intimistas no “Blossom”. O que é que a inspira mais?
As pessoas. Não preciso que haja algum acontecimento fora do normal para me sentir inspirada. A minha arte, a minha música, o que escrevo, tudo isso é sobre pessoas que conheço, relações entre pessoas, histórias… É isso que me inspira, a cidade, o barulho, as coisas que acontecem.

Carolina Deslandes — “Escrevi o “Heaven” no dia em que o meu avô faleceu”

Houve alguma canção mais tocante ou mais difícil de escrever?
O “Heaven”. Nunca é fácil falar da morte, ou pelo menos numa fase tão recente como aquela em que escrevi a canção. Escrevi o “Heaven” no dia em que o meu avô faleceu e é muito difícil pôr em palavras o que se está a sentir. Ajudou-me muito. Ajuda sempre ter uma oração que possas dizer e cantar vezes sem conta.

Diz no livro que escrever é uma necessidade “física e psicológica”. A música também é uma necessidade de se exprimir?
Sim, sem dúvida alguma. Eu costumo dizer que não faço arte porque quero, faço arte porque preciso. Mesmo que ninguém me ouvisse ou que ninguém me lesse, eu iria ter cadernos e discos amontoados em casa. Desde pequena que sinto as coisas com muita intensidade, até de uma maneira fora do normal. Sempre pensei em milhões de coisas ao mesmo tempo e sentia-me diferente. A minha mãe diz que eu fazia as perguntas mais surreais quando era pequena. Diz que acordava a meio da noite e dizia: “mãe, por que é que há pessoas que não têm comida e há outras com casas cheias de comida? Por que é que as pessoas que têm muita comida não dão comida às outras?”. Este género de pensamentos… A minha mãe pensava: “como é que vou explicar isto a uma criança de seis anos?”. E a arte acaba por ser um bocadinho uma forma de expulsar as coisas em que penso.

Tem algum projeto em mente para o futuro?
Apesar de ser uma coisa que já toda a gente faz, gostava muito de ter um blog aonde pudesse juntar todas as minhas vertentes, onde pudesse pôr textos, ilustrações, músicas, livros que gosto de ler, CD’s que gosto de ouvir… Construir uma plataforma onde pudesse mostrar todas as coisas que fazem parte do meu dia a dia e que acredito que fazem parte do de muita gente.

E musicalmente?
Gostava de escrever um próximo disco todo em português. Acredito que vai acontecer, não sei é quando.

Entrevista realizada por: Adriana Dias

 

Related Article