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Entrevista | Retimbrar «é difícil montar e sustentar um grupo desta natureza»

Depois de 6 anos a acumular experiências diversas, os Retimbrar editam o seu primeiro disco “Voa Pé” que traz consigo os ecos dos bombos na rua e a emoção das canções partilhadas nos palcos e fora deles.

Neste disco, os Retimbrar são Afonso Passos, André Nunes, André Rodrigues, Andrés Tarabbia ‘Pancho’, António Serginho, Francisco ‘Killo’ Beirão, João Grilo, Miguel Arruda, Nuno Xandinho, Rita Sá, Rui Ferreira ‘Caps’, Rui Rodrigues, Sara Yasmine e Tiago Soares. Os convidados do disco são Alexandre Meirinhos, António Augusto Aguiar ‘Togú’, Catarina Valadas, Nicô Tricot e Renato Monteiro.

Estivemos à conversa com António Serginho que nos revelou mais de “Voa Pé”.

Retimbrar @ Bons Sons '15 // Photography by Tiago Alves Silva

Foto dos Retimbrar no Festival Bons Sons ’15

Começaram como um grupo de percussão com mais de 30 pessoas, hoje são uma banda e lançaram recentemente o disco de estreia. O que vos levou até aqui?

Como diz a música, ‘caminhando se faz caminho’. Fomos andando, fomos fazendo experiências, várias pessoas foram entrando e saindo do grupo. No início éramos um grupo de percussão, mais tarde fomos aproveitando a polivalência de alguns músicos do grupo e começámos, a pouco e pouco, a introduzir instrumentos de cordas e vozes. A nossa formação fixou-se em 11 elementos em 2012/13 e desde então temos trabalhado neste formato que agora apresentamos em disco.

O grupo foi fundado em 2008, porquê só agora a edição de um disco? Nunca tiveram como principal objetivo editar um disco?
De início, não havia sequer a pretensão de vir a editar um disco. Éramos um grupo de percussão – a ideia era tocar na rua, eventualmente fazer espectáculos de palco. Com a evolução do grupo e a entrada de novos instrumentos e vozes, fomos criando músicas mais próximas do formato-canção. Quando já tínhamos algum material que nos agradava, resolvemos partir para a gravação de um disco.

Não é fácil criar e compôr em democracia (como temos tentado)

A criação deste álbum foi um processo demoroso? Quais as principais dificuldades na criação do mesmo?
Sim, foi um processo bastante demorado e difícil. Em cada fase do processo se encontram problemas diferentes. Começando pelo início, é difícil montar e sustentar um grupo desta natureza. Depois, também não é fácil criar e compôr em democracia (como temos tentado)! Também nunca tínhamos tido a experiência de gravar as nossas músicas. Tivemos de pensar no melhor método de o fazer e arriscar. Todo o processo passa por tentar, errar e aprender algo com os erros. Por fim, também nunca tínhamos editado um disco, e como esta é uma edição de autor tivemos de resolver muitos contratempos burocráticos de que não estávamos à espera.

Como definem este vosso álbum de estreia?
Parece-nos francamente fresco.

No disco há títulos de canções que se repetem mas com versões diferentes. Porquê esta opção?
Cada caso tem uma explicação diferente. No caso do ‘Ao Alto’, é um ritmo que já tocamos na rua há cerca de 5 anos. Na rua podemos tocá-lo durante 20 minutos, estendendo e explorando bastante cada parte do tema. Para o disco, pensámos numa estrutura de 4 ou 5 minutos e gravámos assim. Na fase de escolha do alinhamento a música ainda nos soava demasiado grande para ser ouvida num disco e resolvemos dividir a música em duas partes.
No caso do ‘Voa Pé’ – ‘cá fora’ e ‘cá dentro’ são mesmo duas músicas diferentes mas que têm o mesmo refrão em comum. No fundo, acabam por falar do mesmo assunto mas com perspectivas e estados de espírito diferentes.
O ‘Deixai o Menino’ (faixa 4) é a música a sério! A faixa 3 é apenas uma introdução, um registo de 20 segundos. Foi gravada na rua, em Novi Sad na Sérvia.

Retimbrar_voa péQuanto à capa do disco, que é bastante ilustrativa, como surgiu a ideia dos recortes fotográficos?
Esta não foi a primeira ideia que tivemos para capa do disco. A ideia original não satisfazia por completo e andávamos a matutar sobre o assunto, pedindo opiniões a vários amigos. Alguns deles deram um ‘input’ idêntico, que a nossa capa devia ser cheia de gente, uma praça, com animais, uma mistura de cidade e aldeia. O Manel Cruz foi uma dessas pessoas, mas além de ter essa visão, teve a brilhante ideia de como a concretizar. Juntámos várias fotografias de momentos relevantes para o grupo e para as pessoas que o compõe, e construímos de raiz uma paisagem, um lugar. Podem ver tudo no vídeo do ‘Ao Alto’!

No dia 23 de abril atuam na Casa da Música, o que podemos esperar desse concerto?
Podem esperar uma grande festa! Vamos apresentar o nosso espetáculo ‘Voa Pé’ com direção cénica do João Pedro Correia. É um concerto encenado, com uma história, uma viagem pelo universo dos arraiais portugueses. Vale mesmo a pena virem espreitar! Não vamos apresentar todas as músicas do disco (porque nem todas fazem sentido neste espetáculo), mas podem contar com muita energia e entrega da nossa parte.

Será um concerto especial, pelo facto de regressarem a uma sala onde este projeto se foi desenvolvendo?
Na verdade, regressamos a um espaço da Casa da Música (sala 2) onde o disco começou a ser gravado em janeiro de 2014! Mas é sempre bom voltar à Casa que nos acolheu no seu Serviço Educativo entre 2010 e 2011. Somos sempre bem recebidos.

“Vou beber de todas as fontes / dar de beber a quem puder / Conto enriquecer a viagem / das lições por aprender” – assim cantam no single “Voa Pé”. É este o vosso objetivo? Beber de todas as fontes musicais, dar a conhecer as mesmas às pessoas e enriquecer a música em Portugal?
É esse um dos nossos objetivos, mas não é só musical. Ultrapassa em muito a esfera da música, queremos que esse espírito se contamine a outros campos – à amizade, ao amor, à alegria, à solidariedade.

Dar novos sons às velhas tradições

Curiosidade: porquê o nome Retimbrar?
Retimbrar, assim à primeira vista, fala-nos em refazer o timbre, que é a característica, a particularidade sonora das coisas. A ideia original do nome tinha a ver com isso, com dar novos sons às velhas tradições e com dar novas tradições aos velhos sons. Com o passar do tempo fomo-nos apercebendo que este princípio se aplica à forma como interagimos entre nós, com o público e até nas nossas vidas pessoais. De certa forma, retimbrar as consciências é também um objetivo nosso, e uma responsabilidade. Certo dia também descobrimos que, em espanhol, o verbo retimbrar é usado quando se fala em recarregar um extintor ou garrafa de oxigénio, por exemplo. Achámos imensa piada e fez todo o sentido para nós, foi sempre isso que aconteceu com os nossos concertos e saídas na rua, um recarregamento de energia e de ‘pica’ para viver!

Acompanhe Retimbrar em: facebook.com/retimbrar.pt

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