Home   /   Sem categoria  /   Reportagem | Os Diabo na Cruz viraram o Tivoli ao som do seu Roque Popular
Reportagem | Os Diabo na Cruz viraram o Tivoli ao som do seu Roque Popular

      Foi sob um tecto estrelado que o Tivoli recebeu o povo que se juntou para assistir à musica popular de Verão.
Em plenas festas dos santos populares, a junta lá da terra deu uma borla aos fregueses que não se fizeram rogados a esgotar o adro da igreja. Pode não ter sido bem a junta nem seque o adro da igreja, mas o que é certo é que a música, essa foi popular, com roque meio endiabrado. Era um concerto para todos, para partilhar com o público e agradecer, e também para apresentar músicas novas.
   
      Abre-se então em conformidade, apresentando a “Vida de Estrada” de músico, de banda e até de país. O público levanta-se que a espera já ia longa! Afinal são os santos populares vamos lá dançar, que para cadeiras já bastou a jornada.
Segue-se uma afirmação de personalidade, de “Combate Com Batida”, que mesmo em EP é cantada pelo público que faz as vezes de Sérgio Godinho no álbum. Dança-se e salta-se e, para não se perder o elã, a banda oferece um “Tão Lindo” para que a dança, palmas e coro não parem! Como recompensa devolve-se a melhor ovação da noite até à data. Como “Os Loucos Estão Certos”, mesmo que alguns individualmente desafinados, o coro não desafina e desafia Jorge Cruz a fazer as segundas vozes e a passar-lhe o protagonismo. Pelo menos a julgar pelo coro de interjeições da letra! Se alguém duvidasse que não havia raiz popular na noite, bastava olhar e ouvir em volta. Altura de manter o bailarico, mas mudar o passo e a reza para o segundo álbum, e oram-se “Sete Preces”!

      Passam-se assim cinco músicas sem descansar, e entre os mais atentos comenta-se que ainda não se mencionou nenhuma rapariga em particular, o que pode ser grave para uma banda exclusivamente masculina. A banda apressa-se a emendar a situação e, enquanto dão uma folga às ancas, homenageiam a musa minhota que inspirou a canção “Luzia”.

      Já rodada uma música nova, esperavam-se mais. Embora que timidamente introduzida por Jorge Cruz a performance de “Ganhar o Dia” não partilhou da mesma timidez. Nem se dá tempo às palmas e agarram-se os últimos acordes da que passa para começar a tocar a próxima, mais ou menos como quem pega numa “Dona Ligeirinha” ao colo. E por convite do vocalista é o público quem canta ligeiro e lesto, pelo menos o início. Voltou o bailarico que todos conhecem a Ligeirinha!
No final, qual Freddie Mercury em Wembley, Jorge Cruz faz um ditado harmónico com o público: «Eu primeiro e vocês repetem»!
      Seguiu-se uma “Lenga Lenga” ritmada a palmas. Tinha de se aquecer os convidados porque o “Casamento” que se seguia não era solene mas não deixava de ser grandioso por isso. Aliás, à medida que uma das guitarras fazia um back-to-back com a pandeireta, os convidados gritavam “CASAMENTO!”, verso a verso.

      Terminada a cerimónia, Cruz pergunta quem foi aos santos, e à resposta afirmativa conclui: «Pronto, viemos ao sitio certo! Vamos aos santos pessoal!!». “Chegaram os Santos” com mais baile e coros populares. Portugal dança-se na música dos diabos da mesma forma que o público abanava o esqueleto no Tivoli! Já referi que parecia um átrio de igreja?
E depois da festa o anfitrião toma a palavra para explicar o que vem a seguir: «depois do baile toda a gente seguia para sul… toda a gente menos uma pessoa. Essa pessoa emigrava.” Chama-se “Fronteira” e conta a estória de quem deixa tudo para trás».
Volta-se a recuperar o folgo à soleira da melancolia enquanto os chocalhos da terra dão tempero à marcha.
“Saias” a girar entram sem esperar pelos ouvidos, povoadas de mulheres bonitas. Mais um cheiro do que está para vir em novo registo. Já que não chegam as meninas em palco, espera-se pelo CD na lojas.

      Tristezas não pagam dívidas nem álbuns novos e está na hora de rumar a sul para quem não emigrou! E como «há meninas à espera vamos lá por isto a andar!»: dança-se o “Corridinho de Verão”. Para uma pitada de sal ao casamento de há pouco, o homem do bigode vai distribuindo pétalas pela plateia. Afinal sempre estamos no adro da igreja! E como o baterista é o único que não se pode desviar, a última leva é mesmo para ele!
Avançava-se e havia que dizer “Fecha a Loja” «que o festim vai acabar». E deu-se um cheiro diferente à música: entre os já habituais coros do público, os solos largaram a portugalidade e passearam-se pelo hard-rock, funk e até disco, vindo desaguar na mesma à costa portuguesa.
Ninguém se deixou ficar e exigiu-se mesmo um encore! Os agradecimentos formais seguiram-se aos agradecimentos a quem veio até ao adro. “Bico de um Prego” serviu para contar a aventura épica de amor e do outro lado do imaginário ouviu-se o “Memorial dos Impotentes”. Deixa-se o palco e volta-se com menos calor para o segundo encore, mas não era possível ir embora sem deixar uma Bomba! “Bomba-Canção” multiplicou a energia que a esperava e tudo saltou e cantou reflectindo com arte a música «na traseira do teu Smart»!
P’ra se mandar o povo alegre p’ra casa deseja-se “Bom Tempo”! Enquanto a letra termina os versos com «Assobia!», os fregueses dividem-se entre quem acompanha a letra e em quem faz o que lhe pedem: assobia!

      «Há tanto tempo que não se via bom tempo!»


      Virou!, que os diabos estão longe de estarem presos na cruz.

Texto: José da Gama
Fotos: Luís Gama
(25/06/2014)

 Fotos do concerto disponíveis no facebook: facebook.com/madeinportugalmusica 
Siga-nos no Facebook e no Twitter.
Related Article