“Bem-vindos à minha festa” foi assim que David Fonseca recebeu o público do Coliseu de Lisboa no passado dia 14 de novembro.

Passaram 20 anos desde que o artista se deu a conhecer, e foi o percorrer de um autêntico álbum de memórias, umas mais distantes, outras mais recentes com que nos presenteou.

David Fonseca inicia esta festa com “Superstar” onde desde logo não falta uma chuva de confettis na plateia. Segue-se “Silend Void” do álbum Dreams in Colour de 2007.
“Somebody that cannot love” entra em cena, não sem antes David Fonseca brincar com o facto de ser um dos temas mais pedidos para o músico cantar em casamentos, o que não deixa de ser… curioso.

David Fonseca e Alice Wonder

“Find myself again” antecede a entrada da primeira convidada da noite. A cantora espanhola Alice Wonder chega para o dueto “Resist”, tema do mais recente álbum de David Fonseca, Radio Gemini. E foi de facto hard to resist em ficar parado perante o ritmo alucinante deste tema que pareceu ter nascido para ser interpretado por estes dois artistas. O público embarca na energia do tema batendo palmas freneticamente.
Segue o tão familiar “Kiss me, oh kiss me” que remonta a 2007.

O álbum Between Waves de 2009 também é relembrado com o 3.º single “U know who I am”, com David sozinho com a sua viola em palco e um público rendido com a ternura desta música. Ternura essa que se prolonga com “Hold still”, já com Rita Redshoes presente para acompanhar David neste tema que quando foi lançado em 2005, foi descrito pelo artista como a sua canção perfeita.
Nesta festa repleta de surpresas, que tal “Da ya think I’m sexy” de Rod Stewart, logo após a tão já habitual fotografia com o público presente, considerado por David Fonseca como o mais sensual.

David Fonseca e Manuela Azevedo

É Manuela Azevedo que se segue neste alinhamento alucinante no tema “Futuro Eu” que deu nome ao álbum de 2015. É incrível a boa energia que a vocalista dos Clã transmite deixando-nos quase sem fôlego no que foi uma interpretação formidável.
É logo de seguida que é virada a página para um outro capítulo da história do anfitrião desta noite, a passagem pelo grupo Os Humanos formado em 2004, de homenagem a António Variações, tendo sido lançados 2 álbuns.
“Muda de vida” é interpretado por Manuela Azevedo, chegando de seguida Camané, mais um elemento dos Humanos, e referido por David Fonseca como um dos seus cantores masculinos portugueses favoritos. Cantam juntos “Hoje eu não sou” seguindo o tão conhecido “Maria Albertina”. A plateia entra em fusão com os artistas, recordando o quão bem recebeu esta homenagem a António Variações, a quem é dedicado em alta voz por David Fonseca o tema “O corpo é que paga” ao qual se junta novamente Manuela Azevedo.

É em êxtase que os presentes testemunham esta chuva de êxitos de momentos tão distintos e marcantes na carreira de David Fonseca.
Este não pára e recebe em palco Bruno Nogueira com quem partilha “Ela gosta de mim assim”. O comediante participou no divertido vídeo deste tema em 2016, tributo ao videoclip da música de Paul Simon “You can call me Al”.

Com uma lanterna em cada mão apontada para o público, David Fonseca brinda-nos com “Tell me something I don’t know”. Com o típico megafone em mãos durante o refrão, arrepia quem se deixa ir no som, na luz, no ambiente extraordinário que o artista é capaz de criar, elevado ao máximo com duas bailarinas de dança do ventre a entrar e a deslumbrar um Coliseu inteiro.

Ouvem-se os primeiros acordes de “Stop for a minute” e é aí que David Fonseca desce para o meio do público invadindo com a guitarra bem alta um dos balcões da sala. É fascinante ver como a interação com os fãs é fundamental para que os temas funcionem na perfeição.

Segue-se mais um cover com “Just can’t get enough” dos Depeche Mode, terminando o main set com o tão explosivo e dançante “The 80’s”. Bolas coloridas no meio do público, bonecos de peluche que dançam freneticamente em palco acompanham David, num dos temas mais vibrantes do álbum Sing Me Something New de 2003.

É desta forma trepidante que o artista deixa os fãs a gritarem pelo regresso a palco. E eis que se inicia o 1º encore com “Slow Karma” de Radio Gemini, tão à la David Fonseca, não podendo pertencer a mais ninguém.
É tempo para mais um momento inesperado e arrepiante com dois temas de Amália Rodrigues, “Povo que lavas no rio” e “Barco Negro”.
Continuamos em português com “Adeus, não afastes os teus olhos dos meus” do álbum de 2005 de David Fonseca, Our hearts will beat as one”.
“The Raging Light” traz consigo um ambiente disco com bolas de espelhos a descerem do teto, luzes intermitentes que nos tiram a respiração e que termina este primeiro encore com a sensação de querer mais e continuar a este ritmo tão louco e tão intenso.

Para o 2.º encore, David Fonseca dirige-se para o meio do público, no centro da plateia onde, com uma lanterna na mão, ilumina a sua face, interpretando “Song to the siren” de Tim Buckley.

É chegado o momento de entrar num dos capítulos mais saudosos e cheio de significado da carreira de David Fonseca, os Silence 4. Foi com eles que o artista deu início à sua carreira em 1998, sendo a banda um fenómeno de sucesso, com êxitos atrás de êxitos que ficaram na nossa memória durante estes 20 anos.
“Eu não sei dizer” foi um deles, que assim que soa é ternamente recebido pelos fãs. Somos de repente transportados para duas décadas atrás, com os primeiros acordes de “Borrow”. É quase impossível este tema não ter feito parte de algum momento da nossa vida quando acompanhámos o percurso dos Silence 4.
David Fonseca decide juntar-se à banda em palco, chamando a sua companheira desta aventura, Sofia Lisboa, que é estrondosamente recebida pelo público. Convidada surpresa, mas tão esperada por cada um dos presentes, pois só a junção das duas vozes faria sentido para voltar a ouvir “Borrow”.

O músico folheou o seu caderno de êxitos e memórias de uma forma irrepreensível, terminando esta celebração com o mais recente “Oh my heart”. Ficamos com a certeza que David irá continuar a presentear-nos com esta energia louca e extasiante, característica do seu trabalho.

David Fonseca começou e terminou esta noite com a boa disposição que o caracteriza, fazendo a festa de uma forma tão sua e ao mesmo tempo com uma sensação de proximidade e agradecimento ao público por todos estes anos de partilha da sua paixão, e claro por ter ido à sua tão emblemática festa.

Mais 20 anos no mínimo é o que queremos comemorar pois David Fonseca não deixa margem para dúvidas de que é um artista completo e apaixonante.

Texto: Anabela Santos
Fotos: Luís Flôres