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Destaque da semana | A Velha Mecânica tem tanto por dizer

A Velha Mecânica surgiu em 2011 na cidade de Coimbra, nascida da vontade de um grupo de pessoas de fazer algo intrinsecamente genuíno no panorama musical português. Começou por
ser um projecto de música improvisada e rapidamente evoluiu para composições musicais mais
concretas e definidas.

Fazendo uso de instrumentos musicais como guitarras, pianos, sintetizadores, bateria e voz na
forma cantada e “spoken word”, cria composições que retratam estados de espírito, emoções,
vivências pessoais transversais ao ser humano.

“Tanto por dizer e ainda assim se escondia” (link iTunes) é o resultado de um ano passado entre o estúdio e concertos, Este primeiro álbum foi gravado em Coimbra nos estúdios LoudStudio, e posteriormente foi misturado e masterizado por chris common, um nome de peso tanto como músico (ex-baterista de These Arms Are Snakes e Riding Pânico), como produtor (onde trabalhou com bandas de renome internacional como Pelican, Mastodon, These Arms Are Snakes, entre outros).

De notar também que este álbum conta com os artistas convidados Victor Torpedo, um músico conimbricense de referência (Tédio Boys, The Parkinsons, Blood Safari) e Fuse, membro da banda Dealema, um marco no panorama musical nacional.

# Spotify



# LETRA A LETRA DE “TANTO POR DIZER E AINDA ASSIM SE ESCONDIA”

» António Viagens:
Parto na estrada com uma guitarra na mão. Não existem canções e melodias, não como existiam naqueles outros dias. Cresces comigo numa ânsia de sofrer… Passo a passo avança num caminho.
Nunca sabe onde está mas nunca está perdido. Não pode parar ali, paramos antes e não resultou… Nunca resultou parar por ti. Sobe uma colina em passo rápido, lembro a última vez que vi um polícia
correr atrás de um larápio. Segura-o António, és um com uma força de cem. Quanto anos será que a vida tem? No cimo do monte António Viagens descobriu a solução. Levanta-te António eles nunca caíram por ti. Cai ali.

» Aspirante:
Coimbra, nove da manhã. Menino soldado veio para casa sem nunca ter lutado. Quis a obra do acaso que viesse aleijado. Mudou de nome e o seu passo é errante, guarda nos sonhos um passado distante. Pede cigarros, fuma de uma passa só. Berra com quem passa, com ele que passou. “Amanhã morres tu” — “Eu sou a luz da tua alma…sou o aspirante”. Entre a multidão que se arrasta, perturba-lhes a visão dessa criatura nefasta. Estão a ouvir o menino a sofrer? Uma voz de anjo que só nos quer dizer. Chora, grita, a correr a saltar, só lhe faltava saber nadar… e o corpo, encontrado no rio.

» Bandeira Negra (com Fuse)
Eu sou o resto do que resta, vivi incólume à selva da humanidade. Expelido como vómito, saudade é fome. Eu sou um válido inválido sorrio à morte não sou cínico. A vida marca-me, já deitei fora o papel químico. Já fui um galeão sem frota nem rota, um camaleão sem côr, navegante sem pátria nem doca. Já fui um sonhador senhor sem rasto de dôr. Um quadro raro incompleto nas mãos do teu Criador. Já fui um enforcado sem forca, fatigado sem força. Um murmúrio de um fado cantado por uma Amália sem boca. Já fui um desfocado cadente, estrela decadente. Insucesso iluminado pelo fracasso do foco ao meu lado. Fui uma estátua de coração petrificado. Monumento tombado que a tempestade esmagou com o punho fechado. Já fui o cadeado que segurou os portões do céu. Impedi o mal de entrar, mas quem ficou de fora fui eu. Já fui suspeito e inocente na vida e na morte. Insurrecto na moral, negligente no azar e na sorte. Já fui igual a ti…uma sombra…um manequim. Identidades reflectem na montra mas não encaixam em mim. Outrora gente como toda a gente já fui alguém. Sou uma data forjada numa placa e o meu nome é – ninguém. Sem legado lembrado como um facto sem argumento. Esquecido no comboio do tempo, passageiro como o vento. Já fui a chama na espada, alma de luz coroada, cicatriz da vida cosida com linha dourada. Já fui a imensidão na imensa escuridão. Só vejo a linha do horizonte na sina da palma da minha mão. Eu já não quero ver o pôr-do-sol… Eu já não quero ver o pôr-do-sol… Deixei para trás o sofrimento, a solidão, o esquecimento. Ergui bandeira negra e abandono o coração. Deixei para trás o arrependimento, a falsa fé do É sem “assento”. Não me sento à espera do fim, no fim morro de pé. Deixei para trás o respirar com depressão, pressão em respirar- Ansiedade de viver é morrer sem ter noção. Deixei para trás uma identidade sem futuro, um futuro despido de identidade. Mentiras ditas com verdade. Este mundo é de vidro, o ódio embacia o chão que eu piso. Parti o pôr-do-sol enraivecido. Embarco no convicto guiado pelo impreciso. Quero provar o insípido, eu pinto o paraíso mais sombrio.

» Dedos:
Dedos que partem o frio. O corpo não aceita o que viu.
O teu nome teceu-o a aranha. Canta o meu nome

» Qualquer quarto de hotel:
Olá. Pouco tempo passou. E tu? Tu já és a sombra daquilo que ficou. Pensei que te encontrava lá atrás, bem lá atrás. O estacionamento estava vazio. Lá dentro, fazia tanto, tanto, tanto frio. Naquela noite, qualquer quarto de hotel servia.

» Esposa Cão:
Morde morde, Esposa Cão. Pensas que é bom, mas não é não. Trinca trinca, Esposa Cão. Na vã esperança de chegares ao Coração. Esposa Cão. Trepa trepa, Esposa Cão. Ainda tens as patas muito perto do chão. Tem cuidado, Esposa Cão. Vi alguém com uma arma na mão. Esposa Cão. Agora morres, Esposa Cão. Morre morre, Esposa Cão. E ninguém te vela no caixão. Ninguém te vela no caixão. Esposa Cão.

» Fujída
Partida, largada, fujída.

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