Chama-se “Outras Histórias” o 4.º álbum de estúdio dos Deolinda.
O novo trabalho tem co-produção de João Bessa e traça alguns caminhos que ainda não haviam sido explorados no repertório e estilo do grupo.
Em entrevista, Zé Pedro, membro do grupo, desvendou-nos mais destas “Outras Histórias” de Deolinda.
Uma roupagem mais atual, mais contemporânea, com arranjos ainda mais para lá do que até agora tínhamos feito
“Outras Histórias” é o vosso 4.º álbum de originais. Como definem este álbum em relação ao vosso disco anterior?
Este disco não podia existir, como é óbvio, sem o primeiro e o segundo, mas sem o último. Na altura, nós escolhemos produzir o terceiro disco em conjunto com o Jerry Boys e neste disco escolhemos produzir o disco com o João Bessa, que foi assistente do Jerry Boys na altura, e foi ai que também começamos a perceber que ele tinha uma visão muito pertinente dos Deolinda. Acho que o caminho de produção que este disco teve, o próprio som, como foi gravado, é uma continuação natural do “Mundo Pequenino”. Não deixam de ser histórias dos Deolindas, mas com uma roupagem mais atual, mais contemporânea, com arranjos ainda mais para lá do que até agora tínhamos feito.
Podemos concluir que, face a esses novos arranjos, essa nova exploração, este é um pouco mais ousado do que o anterior, apesar de ser um seguimento?
Sim. Visto aos dias de hoje, eu poderei considera-lo um disco mais ousado que o anterior. Agora, o que acontece é que nós tentamos dar o máximo em cada um dos discos e no “Mundo Pequenino” o nosso limite estava naquelas canções e naquela maneira de estar, se calhar com mais três anos de estrada e com a digestão de todo esse processo conseguimos chegar ainda mais longe como músicos e alargar os nossos horizontes e daí surgiu “Outras Histórias”.
“Corzinha de Verão” não é exatamente a canção típica que nós estávamos habituados a fazer do ponto vista sonoro
“Corzinha de Verão” é o single de apresentação, que tem sido muito bem recebido pelo público. O que vos levou a escolher este tema associado ao verão, em pleno inverno, como single de apresentação?
Para quem segue mais atentamente o percurso de Deolinda percebe que “Corzinha de Verão” não é exatamente a canção típica que nós estávamos habituados a fazer do ponto vista sonoro, tem um ritmo até com algum sing e acho que faz bem, musicalmente, a ponte das canções mais tradicionais que temos neste novo disco com as mais diferentes, como “A Velha e o DJ”, “Nunca é Tarde”… Ao mesmo tempo, lançar uma música que fale do verão no inverno, acho que faz todo o sentido, porque a música fala daqueles dias frustrados, numa altura em que esperamos ter tempo bom. Em vez de ir para a praia, porque não para o Museu.
Essa fusão que resulta na “Velha e o Dj” deixou-nos muito satisfeitos
Quando estava a ouvir o novo disco, dei por mim a certa altura a certificar-me de que ainda estava a ouvir Deolinda. Refiro-me ao tema “A Velha e o DJ”, talvez o tema mais surpreendente do disco, pela sonoridade distinta dos restantes temas que nos transporta para uma pista de dança. Fale-nos deste tema. E como surgiu a colaboração com o dj Riot dos Buraka Som Sitema neste tema?
Nós estávamos a ensaiar acusticamente esse tema, mas olhando para a letra, se fala de um dj tem que haver um beat e com os nossos quatro instrumentos acústicos nós não conseguimos replicar isso e lembrámo-nos de quem melhor que o Riot para fazer um beat para essa canção. Os Buraka Som Sistema tem mais ao menos o mesmo tempo de existência que Deolinda tem. Eles pegaram na tradição e levaram para as pistas de dança de todo o mundo, os Deolinda pegaram na tradição portuguesa e levou-a para os palcos portugueses também, e essa fusão que resulta na “Velha e o Dj” deixou-nos muito satisfeitos porque, o Riot a primeira maquete que ele nos mandou com o funaná por cima da nossa música, funcionou completamente bem.
Se no tema a “A Velha e o DJ”, tem a participação de um dj, no tema “Nunca é tarde” tem a participação da Orquestra Sinfonietta de Lisboa. O que vos levou a integrar uma orquestra neste tema?
Nós tínhamos três músicas que achávamos que fazia sentido gravarmos com cordas, não necessariamente com uma orquestra, e lembrámo-nos do Filipe Melo para nos fazer esses arranjos de cordas. Quando começámos a discutir as ideias com o Filipe chegou-se á conclusão que para a ideia que tínhamos do “Nunca é Tarde”, um certo caus numa parte da canção, o melhor mesmo seria uma orquestra. O Filipe lembrou-se da Orquestra Sinfonietta de Lisboa com quem já gravou arranjos para outros artistas e ficamos muito satisfeitos com o resultado porque conseguiram perfeitamente entrar na ideia de caus sonoro que tínhamos na cabeça para aquele tema.
Em palco, como tencionam reproduzir estes dois temas que acabámos de falar?
Essa pergunta pôs-se e para nós é claro que para tocarmos o “Nunca é Tarde” e a “Velha e o Dj” vamos ter que levar uma orquestra connosco e um beat, e isso vai acontecer com as magias da tecnologia que há hoje em dia.
Ansiosos para levarem para o palco estes novos temas?
Desde o início que os concertos ao vivo foi uma componente muito importante de Deolinda. Iremos andar por Portugal inteiro, Bélgica, Brasil e Espanha. É uma fase que gostamos muito, para perceber em que canções é que as pessoas pegam, como é que reagem e como é que as próprias canções crescem, porque a experiencia em estúdio é uma etapa e depois os concertos ao vivo é a etapa mais importante.
Há cada vez mais artistas em diferentes áreas a conseguirem internacionalizar o seu trabalho e a espalhar a música portuguesa pelo mundo
Para terminar, de um modo geral, como avalia atualmente a música em Portugal?
Nós já andamos nisto há alguns anos e acho que a opinião mantém-se; que a música ultrapassa um ótimo momento. Eu acho que há cada vez mais artistas a cantar em português, e não só, e há cada vez mais artistas em diferentes áreas, não só o fado e a música tradicional, a conseguirem internacionalizar o seu trabalho e a espalhar a música portuguesa pelo mundo. E isso ajuda-nos muito a todos. Perceber que há uma marca de Portugal na música mundial, e que cada vez mais o nosso país é tido em conta, quer para artistas estrangeiros virem cá tocar, pela força dos nossos festivais e das nossas salas, como para artistas portugueses puderem afirmar ou continuarem a afirmar o seu trabalho no estrangeiro.
Nota: Entrevista publicada também na revista online MIP.