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Reportagem | O esplendor do Fado de Carminho e Ana Moura na Expofacic

O Made in Portugal foi até à maior feira de verão, a Expofacic, que mais que uma feira agrícola, comercial e industrial é também uma referência no que toca a nível musical, com um cartaz que reúne os melhores artistas portugueses da atualidade e ainda alguns internacionais.

Ontem, dia 3 de agosto, foi a noite de fado. No mesmo palco atuaram duas das melhores fadistas da atualidade. Carminho iniciou o concerto às 22h30 seguindo-se depois, pela meia-noite, a atuação de Ana Moura.

Carminho

“Que silêncio que energia”

Carminho iniciou o seu espetáculo com “As Pedras da Minha Rua” e “Saia Rodada” e logo cumprimentou o público; “muito boa noite Cantanhede. Tanta gente!” Salienta que “é um privilégio ser uma vez mais convidada para estar numa das maiores feiras de verão. Espero que se divirtam”, deseja, passando depois a apresentar os músicos que a acompanharam em palco: José Marino de Freitas no baixo, Flávio César Cardoso na viola, Ruben Alves nos teclados e acordeão, Ivo Costa na percussão e Luís Guerreiro na guitarra portuguesa.

No concerto que durou mais de uma hora ouviu-se temas como “Voltar a Ser”, “Ventura”, “Chuva do Mar” — tema que no seu 3.º disco, lançado em 2014, canta em dueto com Marisa Monte, com que por vezes tem vindo a partilhar o palco. Neste tema a fadista referiu que é uma “música que tem muita a ver com a nossa vida. Cada segundo é uma oportunidade para mudança, de reconstrução de caminho. É uma canção de esperança”.

Carminho, sempre muito comunicativa com o público, ia falando de alguns dos temas que ia cantando. Ao público falou da história que a mãe lhe contou quando tinha 11 anos de idade, de um pescador pensou que ia morrer após o barco ter naufragado, mas que no último segundo alguém o salvou. “Gosto desta história porque percebi que o pescador somos nós; porque mesmo quando as coisas não correm bem há sempre alguém que nos salva. E é por isso que hoje está aqui este mar de gente”, o público aplaude e ouve-se “Senhora da Nazaré”.

Depois de se ter ausentado por breves minutos do palco, passando os seus músicos a serem o centro das atenções continuando a mostrar os seus dotes musicais para a multidão, a fadista regressa e canta à capella “De mim pr’a ninguém”, Fado Alexandrino de Joaquim Campos, momento saudado com fortes aplausos pelo público.
Seguiu-se “Bom Dia, Amor”, fado inspirada num texto de Fernando Pessoa e “Disse-te Adeus”, ambos os temas que pertencem ao seu 2.º disco, “Alma”.

Pela primeira vez ao vivo Carminho interpreta um tema que a cantora brasileira Marisa Monte lhe incentivou a cantar “O Vira”, tema de 1973 que pertence à banda brasileira Secos e Molhados do qual Ney Matogrosso fez parte. O público acompanha o vira da canção até que a fadista alerta que este era um tema de uma banda de rock, e os músicos dão-lhe um tom bem mais rockeiro.

A terminar o concerto a fadista interpreta “Saudades do Brasil em Portugal”, tema que dedicou a todas as pessoas que têm a família longe. Termina o concerto com “Escrevi Teu Nome No Vento” despedindo-se do público dizendo que “foi um privilégio cantar para vocês. Que silêncio que energia. Até breve”.

Apesar do concerto ser num espaço ao ar livre, num ambiente festivo com milhares de pessoas, o público respeitou a regra do ‘silêncio que se vai cantar o fado’, mostrando o seu encantamento com o concerto com fortes aplausos e com o pedido para a fadista regressar a palco e cantar mais um tema. “Não é fácil conseguir um ambiente de fado num espaço tão grande, mas isso consegue-se quando se gosta… Obrigado Cantanhede, muito obrigado!”, salientou a fadista terminando com “Meu Amor Marinheiro”, tendo se emocionado a meio da interpretação do tema. A fadista e os músicos saíram do palco debaixo de fortes aplausos.

A multidão que assistiu ao concerto de Carminho manteve-se intacta para assistir ao segundo concerto da noite. Em breves minutos foram feitas as mudanças no palco para receber Ana Moura que iniciou o concerto na Expofacic com temas do seu mais recente disco; “Moura Encantada” e “O Meu Amor Foi Para o Brasil”.

Ana Moura

Ana Moura

“Obrigado por terem ficado até tão tarde”

“Boa noite Cantanhede”, saudou Ana Moura. “Que felizes estão! Começaram a noite com um concerto extraordinário da nossa Carminho”, e o público, feliz, aplaude. “Tocámos aqui há dois anos, na altura tinha lançado o “Desfado”, hoje vamos tocar temas do “Moura”, o meu novo disco”, que atingiu recentemente o galardão de dupla platina. Seguiu-se “Fado Dançado”, tema escrito por Miguel Araújo. “Se quiserem dançar e bater palmas estejam a vontade”. E o povo pós se à vontade.
Seguiu-se o ritmado tema “Agora É Que É” e sem pausas “Ninharia”. Do reportório do concerto fez ainda parte temas mais antigos, pertencentes a álbuns anteriores, como “Caso Arrumado”, “Porque Teimas Nessa Dor”.
“Sou uma privilegiada por ter estes músicos comigo”, referiu a fadista antes de se ausentar do palco, deixando os seus músicos brilharem com instrumental extraordinário, por cerca de 10 minutos.

De regresso ao palco a fadista apresenta-se com um novo vestido. Trocará o longo vestido preto por um branco.
“Tens Os Olhos de Deus”, tema escrito por Pedro Abrunhosa, é o tema que interpreta perante uma multidão que silencia em cada interpretação de Ana Moura.
Depois deste tema mais apaixonado os acordes subiram de tom e o público dançou o “Malhão”. Seguiu-se “Sou do fado, sou fadista”. “Ah fadista”, grita alguém do público.

A caminhar para o fim o concerto voltou a subir o ritmo com “Bailinho à Portuguesa” que a multidão acompanhou com palmas, palmas essas que se prolongaram no “Dia de Folga”.
A fadista apresenta os seus “fantásticos músicos”, como referiu várias vezes; Pedro Soares, na guitarra; Ângelo Freire na guitarra portuguesa; André Moreira no baixo; João Gomes nos teclados e Mário Costa na bateria.
Por breves instantes Ana Moura e os músicos saem do palco, mas depressa regressaram com o público a pedir mais. No encore ouviu-se o grande sucesso do anterior disco “Desfado”.

Eram 1h15 da manhã e Ana Moura agradece “obrigado por terem ficado até tão tarde”. De seguida a fadista pede ajuda ao público para cantarem os parabéns a um dos elementos do seu staff, o técnico Rogério, que celebrava mais um aniversário.
O público pedia mais e Ana Moura despede-se com “Fadinho Serrano”, deixando o palco debaixo de fortes aplausos, tal como acontecera no final do concerto de Carminho.

O sétimo dia da Expofacic 2016 foi uma noite onde milhares de pessoas tiveram o privilégio de assistir à atuação de duas das melhores vozes nacionais, com duas das fadistas que mais levam a língua portuguesa pelo mundo. Uma noite bem fresca, onde a chuva ameaçou cair mas a única chuva que houve foi de aplausos. Uma noite onde o fado foi rei, com duas rainhas.

Texto: Daniela Henriques
Fotos: Inês Silva

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