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Ricardo Toscano em dose dupla na Culturgest

Ricardo Toscano Quarteto
Ciclo Jazz +351 · Comissário: Pedro Costa
Jazz | 27 e 28 de Novembro | 21h30 | Pequeno Auditório
CONCERTOS  JÁ ESGOTADOS

Quando se deu por ele tinha apenas 17 anos e depressa se espalhou que havia entre nós um sobredotado saxofonista alto. Há 2 anos, António Branco escrevia na jazz.pt: “Ainda antes de completar 20 anos de idade, é um caso sério no panorama do jazz em Portugal. (…) Esse músico é o jovem saxofonista Ricardo Toscano.” Hoje é a nova coqueluche do jazz nacional, líder de um dos mais entusiasmantes grupos em atividade, o Ricardo Toscano Quarteto.

https://www.youtube.com/watch?v=9QLPV_23d-0

Algo se passa na cena jazz de um país quando, em simultâneo, vários jovens em início de carreira revelam qualidades muito acima da média até num músico maduro. Vem acontecendo isso com Ricardo Toscano, João Guimarães, João Mortágua e Francisco Andrade, exemplos de uma vitalidade nada comum.

O caso de Ricardo Toscano é especialmente relevante, pois é um fenómeno de popularidade como nunca se viu no jazz em Portugal. Como refere Rui Eduardo Paes no texto A perder o medo, “Também Maria João e Bernardo Sassetti conquistaram audiências que ultrapassaram em muito este meio musical, mas foi necessária a ambos bastante insistência para tal acontecer. Com Ricardo Toscano, a apresentação pública no concurso de escolas da Festa do Jazz, em 2010, quando ainda contava com 16 anos de idade, criou uma vaga de fundo que tem feito lotar salas por todo o País.” Como aconteceu com o concerto da Culturgest, que esgotou um mês antes da data e ‘obrigou’ à marcação de um segundo concerto.

Como se explica esta popularidade, se o que toca é o jazz americano, o jazz dos negros americanos, que parece condicionado a um consumo minoritário? As hipóteses levantadas têm sido inúmeras – por ser um modelo para rapazes interessados numa carreira musical; por passar uma imagem de sedução, carisma e perigosidade para as raparigas, um sex symbol à maneira de Paul Desmond (curiosamente, tocam o mesmo instrumento); por causa da fama de “menino-prodígio”. Acima de tudo, deve-se ao seu talento e ao seu trabalho. Porque, para o talento se transformar em génio, são necessárias muitas horas de dedicação e de estudo.

Apesar da fama, Toscano tem mantido a humildade. Em entrevista à jazz.pt explicou que os concertos do seu quarteto costumam abrir com uma versão do “Crescent” de John Coltrane para que possa “mandar logo o ego fora”. Sabendo que o seu solo nunca se poderá aproximar do brilhantismo de Coltrane, considera que essa limitação o fará dar o tudo por tudo no resto da atuação.

As suas principais fontes de inspiração são Miles Davis, John Coltrane e Ornette Coleman, música que o próprio considera difícil. Curiosamente, o seu jazz tem sido considerado como mainstream. Mas Toscano afasta-se dessa qualificação: ”Os músicos com quem toco têm estilos completamente diferentes, pelo que não sei o que é mainstream neste momento nem sei de alguma linha definida que possa ser designada desse modo.”.

O Ricardo Toscano Quarteto tem conquistado a unanimidade do aplauso pela frescura, pela energia, pela entrega e pela personalidade própria dados aos temas, standards incluídos. A isto não será alheia a relação entre os membros do grupo – para além da química musical, são grandes amigos, estando cada um ao serviço dos outros três. Esta interatividade revela-se essencial para aquilo que mais lhes interessa no jazz, a improvisação. Como o próprio afirma, “Não colocamos limites para o improviso. Muitos momentos dos nossos concertos são completamente improvisados, mesmo que não pareça. Um de nós começa a tocar qualquer coisa, vamos atrás e desembocamos em algum tema. Ou não, pois também temos explorado improvisações em que nada está estabelecido.”.

Mas o que mais impressiona em Ricardo Toscano é a vontade constante de aprender, de melhorar. Como refere Rui Eduardo Paes, “o verbo “tentar” é uma constante no discurso de Ricardo Toscano. Só podemos aplaudir quando um jovem que tanto fez, tendo conquistado um lugar entre os nossos melhores, se preocupe não com as vitórias conseguidas e sim com o propósito de aperfeiçoar o que já é óptimo. É difícil imaginar o que será ele daqui a 10 anos, mas estaremos cá para o testemunhar, com a certeza de que será – continuará a ser – um privilégio.”

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