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Ana Moura «Tinha a preocupação de que este disco fosse diferente»
Depois do enorme sucesso do disco “Desfado”, que atingiu 5 platinas e é o disco mais vendido em Portugal nos últimos 10 anos, Ana Moura editou recentemente o álbum “Moura”. O disco foi gravado em Los Angeles e produzido por Larry Klein, com quem a fadista já havia trabalhado no anterior disco. 

Este novo álbum traz, novamente, grandes nomes da música portuguesa como Carlos Tê, Samuel Úria, Jorge Cruz (Diabo na Cruz), Edu Mundo, Sara Tavares e Kalaf (Buraka Som Sistema). Há ainda palavras do escritor José Eduardo Agualusa, cuja música é composta pelo músico angolano Toty Sa’Med. O novo álbum de Ana Moura recebe também temas de músicos e autores que já haviam participado no “Desfado”, como Márcia Santos, Miguel Araújo, Pedro da Silva Martins que aqui se junta ao irmão Luís José Martins (Deolinda) e Pedro Abrunhosa. Integra ainda o disco, no reportório do fado tradicional – no qual Ana Moura faz questão de manter – Manuela de Freitas escreve sob o ‘Fado Cravo’ e Maria do Rosário Pedreira sob o ‘Fado Carlos da Maia’ (Sextilhas).

A fadista Ana Moura concedeu uma entrevista ao nosso site onde nos dá a conhecer um pouco mais de “Moura”.

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Ana Moura

 

Ana Moura “Eu não tenho a pretensão de mudar o fado, apenas tento ser fiél ao meu percurso natural”

Numa altura em que tudo à nossa volta parece estar em constante desenvolvimento e inovação, a Ana Moura sentiu que a música, neste caso o fado, também precisava de ser mais desenvolvido? Daí a criação deste disco ‘Moura’?
Eu acho que tudo na vida sofre uma evolução natural. Eu não tenho a pretensão de mudar o fado, apenas tento ser fiél ao meu percurso natural e a mim gravar um fado tradicional como já foi ‘n’ vezes gravado não me faz grande sentido. Eu prefiro gravar um fado tradicional e trazer o meu próprio cunho musical, em termos de arranjos. Mas não tenho como objetivo mudar o fado. Mas concordo que tudo na vida sofra uma evolução natural.

O disco “Desfado” conquistou 5 platinas e é um dos discos mais vendidos nos últimos anos. O sucesso do anterior disco trouxe-lhe mais liberdade para puder continuar a arriscar na criação de discos diferentes do que habitualmente tinha feito?
Sem dúvida! O “Desfado” foi um disco bastante arriscado e fez-me conquistar uma liberdade em que mesmo que as pessoas não se identificassem, só a liberdade por ter gravado aquilo que eu queria já era muito importante para mim. Mesmo assim o disco saiu vencedor. Foi cinco vezes platina é o disco mais vendido na última década em Portugal, e isso deu-me segurança para me sentir uma vez mais livre para continuar a fazer aquilo que eu realmente queria.
Este disco “Moura” é um disco que repete a produção e alguns dos compositores do “Desfado”, mas ainda assim é um disco musicalmente diferente, onde eu uso alguns instrumentos que não foram usados no “Desfado” e onde eu arrisco muito mais musicalmente falando, mais na produção ou na forma como a guitarra portuguesa foi tratada. É um disco uma vez mais arriscado, tal como foi o “Desfado”, mas ainda um bocadinho mais arriscado.

Trouxe também mais responsabilidade ou a responsabilidade é sempre a mesma?
O sentido de responsabilidade acaba por ser o mesmo. Tenho sempre a responsabilidade de fazer um disco bem feito mas é apenas nesse sentido, porque a segurança e a liberdade que me foi dada com o “Desfado” foram importantíssimas para que se fizesse este disco assim tão diferente.

Ana Moura “Tinha a preocupação de que este disco fosse diferente”

Quanto à capa do disco onde vem retratada numa pintura com uma borboleta. A borboleta é o símbolo da transformação e da felicidade. É isso que pretende transmitir? Que é uma Ana Moura em transformação, mas feliz?
Foi isso mesmo! A borboleta simboliza a ideia de metamorfose e da transformação e essa vontade eu ganhei-a com o “Desfado”, uma vez que estava a repetir o mesmo produtor neste “Moura” e alguns dos compositores eu tinha a preocupação de que este disco fosse diferente e consegui musicalmente que assim fosse, dai essa simbologia da borboleta.

Intitulou o disco como “Moura” porque de todos os discos que editou até ao momento, este é o com que mais se identifica? Podemos dizer que é um chamado disco homónimo?
Eu não chamaria um disco homónimo. Eu acho que á medida que nós vamos gravando mais discos vão se tornando cada mais próximos daquilo que nós realmente somos e vamos ganhando uma maturidade que nos aproxima mais das nossas escolhas mais profundas. Mas eu achei que “Moura” era o nome indicado para o disco porque o tem dois temas que se chamam “Moura”, que são duas descrições daquilo que eu sou, segundo os letristas. Uma das músicas – “Moura Encantada” – faz esta analogia com as mouras encantadas com a minha história de vida – segundo a Manuela de Freitas – e fui pesquisar sobre as lendas das mouras encantadas e descobri que as mouras encantadas eram seres que tomavam diferentes formas e achei que era interessante, porque de facto este era o meu objetivo, que o disco tivesse essa simbologia. Portanto achei que “Moura” seria de facto o nome indicado para simbolizar aquilo que é o disco.

Ana Moura “Reparou que eu dançava muito à medida que ia cantando”

Neste disco tem compositores que vem do anterior disco e outros que são estreantes. Pediu-lhes algum tipo de letra em particular? Pergunto isto devido aos dois temas com referência ao seu nome.
Não pedi, mas é curioso que duas pessoas tiveram esta necessidade de me descrever. São pessoas que me são próximas e que ao escrever para mim tiveram essa necessidade de me descrever. Mas, eu voltei a não pedir um tema que pudesse de alguma forma condicionar os compositores, eu queria que eles tivessem a liberdade total para escrever aquilo que quisessem e é engraçado que cada um foi para a sua discrição. Por exemplo, mesmo o “Fado Dançado” da autoria de Miguel Araújo, ele contou-me que teve esta ideia para a letra, porque foi ver um concerto meu e reparou que eu dançava muito à medida que ia cantando, e então decidiu escrever essa letra: se o fado se canta e chora, também se pode dançar.
As pessoas inspiraram se em algumas características minhas para compor e esse ponto de vista também é sempre interessante. Se eu desse um tema acho que os poderia condicionar e este lado é muito engraçado de ver qual é a característica que salta mais à vista.

A edição exclusiva conta com dois temas extra. “Lilac Wine” é um dos temas. O que a levou a integrar este tema no disco, tão celebrizado por Nina Simione e Jeff Buckley?
É um tema especial para mim. É a versão inglesa de “Um copo mais um copo” de Fernando Maurício, que é um fado tradicional. É uma música que me diz muito e que faz parte da minha playlist emocional desde a minha adolescência e era uma música que eu gostava um dia de cantar e de gravar e então achei que esta era a altura certa, com este produtor, o Larry Klein.

No tema “Eu Entrego” conta com a participação de Omara Portuondo. Como surgiu esta colaboração?
Eu há uns tempos atrás fui convidada pelos Buena Vista Social Club para cantar com eles e adorei a experiência. Conheci todos os músicos e a Omara Portuondo e criou-se uma empatia muito bonita. Quando acabei de gravar este tema todos nós sentimos que tinha um sabor bastante cubano e automaticamente o meu pensamento foi para a Omara e eu pensei em contar esta história por duas mulheres, no meu ponto de vista e no ponto de vista de uma mulher mais madura. E resultou muito bem.

Ana Moura “Eu adormeço e acordo a pensar nesse concerto”

Para 2016 já tem agendado vários concertos, nomeadamente em Portugal onde uma das salas que irá atuar será o Meo Arena, a maior sala do País. Irá preparar algo especial para este concerto? 
Eu adormeço e acordo a pensar nesse concerto. Eu e a minha equipa estamos cheios de ideias. É a maior sala do nosso país e portanto não vai ser um concerto que se vai basear apenas na música, vai ser um espetáculo muito mais elaborado cenicamente. Estamos a preparar imensas coisas para fazer neste concerto. Estou ansiosa.

Ana Moura “Os desafios são sempre encantadores”

No disco há temas em que a guitarra portuguesa tem uma sonoridade diferente, onde parece que estamos a ouvir uma guitarra elétrica. No palco também irá tentar transportar a sonoridade do disco, com os respetivos instrumentos, para o concerto ao vivo?
Esse é o grande desafio, porque há coisas que são difíceis de reproduzir, mas lá está, os desafios são sempre encantadores e esse é o grande desafio pelo qual nós estamos a passar neste momento e estamos a tentar reproduzir nos ensaios, para termos esses sons todos que caracterizam este álbum. Mas eu acredito que vai ser possível, aliás, esse é um dos meus maiores objetivos.

Ana Moura “Sinto-me bastante encantada”

Para terminar, pergunto se é uma Moura Encantada com o resultado que este disco está a ter por parte da aceitação do público e se tinha algum receio que o público pudesse não aceitar, da mesma forma, este disco como aceitou o anterior?
Eu levei o empurrão do “Desfado” e fui diretamente para estúdio e estava tão feliz com as músicas que não fiquei receosa, confesso, mas sim, sinto-me bastante encantada e estou nesse estágio, porque com tão poucos dias que o disco foi editado e já atingiu o galardão de platina e estou nessa fase de encantamento, sem dúvida.

 

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