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Donna Maria “Sentimos que temos dado o nosso contributo para a música portuguesa ser mais portuguesa”
Donna Maria estão de regresso com “Três”, novo trabalho de originais.

Dez anos passados desde a sua formação, os Donna Maria regressam com o registo sonoro a que sempre nos habituaram, mantendo toda a sua estrutura musical de base. Patrícia Roque, é a nova voz do grupo, que se junta a Inês Vaz, acordeonista da banda desde 2006 e a Miguel Majer, músico, produtor, compositor e fundador dos Donna Maria (D. M.), que concedeu esta entrevista ao Made in Portugal.

Donna Maria

MIP: Volvidos alguns anos estão de volta aos palcos, com nova formação e novo disco. Um regresso há muito desejado?
D. M.: Sem dúvida, um regresso muito desejado por nós e agora sabemos, que também era desejado pelo público, que já nos segue há 10 anos. Pelo menos parte dele.

« (Patrícia Roque) Introduziu uma certa paz nas melodias da banda»

MIP: Patrícia Roque é a nova voz dos  Donna Maria. Timbre único e originalidade na interpretação é a melhor forma de definir a nova voz do grupo?
D. M.: A Patrícia apresentou-se nas audições com dois argumentos de peso que nós procurávamos: um timbre próprio, original, aliado a muita personalidade e uma interpretação sóbria e muito eficaz. Introduziu uma certa paz nas melodias da banda. Foi algo que nos agradou de imediato.

MIP: Apesar de nova vocalista e imagem renovada a identidade sonora a que nos sempre habituaram é para manter?
D. M.: Donna Maria é um espaço colectivo de liberdade musical que tem como base de partida alguns elementos tais como: a portugalidade, a língua portuguesa, a lusofonia e a música electrónica. A partir destes pressupostos, tudo é possível. Neste “TRÊS”, pensamos ser facilmente identificável o universo sonoro dos Donna Maria mas ele é fruto da interpretação à data de quem hoje integra o projecto.

«”Três” marca a maturidade dos Donna Maria»

MIP:  Como define “Três”?
D. M.: “Três” marca a maturidade dos Donna Maria.
É o disco que define algumas ideias iniciadas nos outros trabalhos. Já fomos mais “experimentais”, mas o momento é de desenvolver e aprofundar ideias. As fases experimentais são interessantes e estimulantes, mas quisemos esculpir o experimentalismo e deixar à vista o que realmente nos interessa. Digamos que neste “TRÊS” estamos em “estado depurado”.

MIP: “Três” conta com participações especiais –  Luíz Caracol, Pierre Adernerne, Daniela Varela e Mário Bomba. Como surgiram estas participações?
D. M.: A participações sempre surgiram depois das canções estarem prontas. Foi assim com o

Vitorino, Luís Represas, Rao Kyao e com todos os que nos honraram com a sua presença. Desta vez foi igual. O Luíz Caracol é um velho conhecido e muitas vezes parceiro de composição e palcos. O Pierre Aderne já o conhecia há algum tempo através do Luís Caracol e desde sempre fui admirador da sua obra. A Daniela Varela surge através da Inês Vaz, acordeonista e também produtora deste “TRÊS”. Conhecia a Daniela apenas como cantora dos Flor de Lis mas a Inês sempre falou dela como uma criativa por excelência. Para além da participação em “Vida”, também assina algumas canções. Foi e é uma cúmplice dos Donna Maria. O Mário Bomba surge da ideia de termos um actor a dizer um poema de Fernando Pessoa em “Não digas nada”. Tinha em tempos assistido à peça “O Fantasma do Chico Morto” do actor e encenador brasileiro, Pedro Cardoso. De alguma forma ficou-me na memória a sua excelente interpretação e sugeri à Inês Vaz – que tinha também participado na peça como acordeonista – o convite ao Mário. Ela achou uma boa ideia e felizmente para nós ele também achou.

«Donna Maria continua a fazer sentido apesar de ter uma nova voz»

MIP: No início de dezembro apresentaram ao vivo o novo álbum, no B. Leza. Que feedback tiveram e têm tido do público?
D. M.: O feedback não podia ser melhor. Ultrapassámos para já uma barreira que era, talvez, a mais difícil de ultrapassar. O público sentir que Donna Maria continua a fazer sentido apesar de ter uma nova voz. As experiências que têm sido feitas em Portugal, nem sempre têm corrido bem. Não digo que o nosso caso seja um exemplo, mas tentámos aprender alguma coisa com as situações já existentes. O facto de termos esperado algum tempo para regressarmos, terá eventualmente ajudado. Há que criar afinidades e laços com quem integra um projecto. Acredito que esse desenvolvimento de relações humanas, reflete-se no resultado final do trabalho e quem o ouve pela primeira vez, sente que tudo “aquilo” faz sentido. É importante para o público e para nós.

MIP: Para o início de 2015, já estão agendados mais concertos?
D. M.: Ainda nos encontramos na fase de promoção onde temos feito alguns showcases. De qualquer modo, está prevista uma tour em 2015 que incluirá Lisboa, Porto e Coimbra assim como provavelmente, concertos fora de Portugal.

«sentimos que temos dado o nosso contributo para a música portuguesa ser mais portuguesa»

MIP:  Como definem atualmente a música em Portugal?
D. M.: Boa pergunta de resposta difícil. Vou apenas resumir-me ao ponto de vista da criatividade, pois outros existem.
Continua a existir muita criatividade na música portuguesa. Vivemos um momento de lançamentos de muitos projectos novos. Isso é muito saudável, mas ao mesmo tempo, temo que seja apenas fruto da existência de novas tecnologias de gravação mais acessíveis do ponto de vista financeiro e não tanto de qualquer movimento artístico. Nestas fases de “explosão” há que aguardar o “filtro” que só o tempo nos trará.

Por outro lado, em Portugal existe uma tendência cada vez maior para rapidamente se esquecer dos seus artistas. Não existe uma relação saudável entre artistas e os portugueses mas isso leva-nos para outros campos como por exemplo, será que os portugueses têm uma relação saudável com o seu próprio país? Por vezes observo que muitos portugueses não querem ser portugueses. Isso reflete-se também na música que se faz em Portugal. Nesse aspecto já não me agrada tanto a fase que vivemos. Vivemos um retrocesso cultural.
Donna Maria surgiram em 2004 com um novo posicionamento, sem vergonha e em paz com o nosso passado musical. Fizemos e fazemos música que só pode ser feita em Portugal, e isso é o que mais nos dá prazer, e muito provavelmente é uma das principais razões da nossa existência. Mais uma vez não nos achamos um exemplo, mas sentimos que temos dado o nosso contributo para a música portuguesa ser mais portuguesa. Sem complexos ou provincianismo. Tentei ser resumido mas… não consegui.

Parabéns aos que chegaram ao fim desta entrevista ou a qualquer outra sobre música portuguesa. Vocês pertencem a uma minoria. Parabéns ao Made in Portugal pelo trabalho que tem desenvolvido na divulgação da música em Portugal numa altura que os espaços para divulgação escasseiam cada vez mais. Bem hajam os leitores e os divulgadores.

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