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MALVA – A violoncelista que se tornou rapper sem ouvir hip-hop e hoje canta na companhia da guitarra

Falei com MALVA, cantora, rapper e violoncelista sobre a sua relação com o violencelo, o começo da dupla Redoma, a inspiração por detrás das suas músicas a solo e a gravação o seu próximo álbum.

Entrevista por Vasco Reis

O que anda a ouvir/ Influências Musicais: Adriana Calcanhoto, Rubel, Castello Branco, B Fachada

Curiosidade: Antes de se decidir pelo nome MALVA, houve uma altura em que depois de ter descoberto esse nome deixou de ter vontade de usar um nome artístico. Pouco tempo depois adotou uma gata e chamou-lhe Malva, ou seja, ela e a gata partilham o mesmo nome.

MALVA - nome artístico Carolina Viana - extremidades - Vens ou Ficas - Bons Sons - ao vivo
Fotos: Pedro Ivan

Depois de uma pesquisa num livro de flores MALVA foi o nome artístico que Carolina Viana escolheu para o seu projeto a solo e também para a sua gata, mas como só falei com Carolina, os próximos parágrafos serão exclusivamente sobre ela.

Carolina nasceu e cresceu em Viana do Castelo, tendo-se mudado para o Porto depois de concluir o 12º ano com objetivo de sair de casa e abrir horizontes, ainda assim não esconde que hoje sente saudades da paz e da calma que Viana lhe dava. No Porto licenciou-se na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo em violoncelo, instrumento que começou a aprender logo no seu 7ºano de escolaridade. A partir daí nunca mais o largou apesar da relação de amor/ódio que assume ter com o instrumento. O ódio vem do facto de lhe ter sido um instrumento imposto pelo sistema de provas de aptidão existente na escola onde estava. “Quando entras naquela escola profissional experimentas os instrumentos todos e alguém te diz de facto tens mais jeito para aquilo ou às vezes é uma necessidade para preencher lugares de orquestra também”, revela.

A vida de Carolina sempre esteve ligada às cordas. Antes de começar com o violoncelo, teve uma breve passagem pela guitarra que, talvez devido à sua tenra idade ou a demasiadas vezes a tocar “papagaio loiro”, acabou bastante precocemente. Mais tarde viria a aprender a tocar, mas foi no violoncelo que começou a sua carreira musical. Foi graças a este instrumento que teve a oportunidade de tocar com várias orquestras e maestros. Carolina recorda essa altura com saudades, dizendo que foram experiências inacreditáveis, mas ainda assim sente que não conseguiria fazer carreira apenas como instrumentista. “Para ser instrumentista a um alto nível é preciso que o teu foco esteja muito direcionado para isso mesmo e eu simplesmente desfoquei-me no sentido de há muito mais coisas que eu gosto de fazer e então gosto de ser completa a nível artístico”, admite a artista.

Antes, porém, de se explorar mais a nível artístico, Carolina decidiu a seguir à sua licenciatura de violoncelo começar um mestrado em ensino. Completou todas as cadeiras, mas chegada a fase da tese decidiu que aquilo não era com ela e como tal resolveu desistir, indo trabalhar para um restaurante para ganhar alguns trocos. “Fiquei ali ainda durante um ano e tal, meia perdida, mas ao menos estava a fazer alguma coisa, precisei disso e de facto fazer uma tese não é algo que me apeteça.”, confessa a artista.

Foi após essas experiências que durante a pandemia, confinada a quatro paredes, Carolina começou a meter a sua voz ao barulho e foi quando publicou o seu primeiro trabalho musical em conjunto com a sua amiga Joana Rodrigues. O duo chama-se Redoma e começou com uma troca de ideias entre as duas. Joana enviou-lhe um instrumental que produziu e Carolina foi escrevendo umas barras por cima desse instrumental. Em Redoma, Carolina ainda não cantava, rappava por cima dos beats criados por Joana, não porque tenha qualquer ligação com o Hip-Hop, mas porque na altura era a forma em que se sentia mais confortável para se expressar.  “Simplesmente respondi a um estímulo, o beat que a Joana me mandou mexeu comigo, eu escrevi e foi isto. Foi uma forma de exprimir que me fez sentido na altura e ainda faz”, diz Carolina. Juntas contam já com um EP “Parte” e ainda um single chamado “delírios mensais” lançado em 2023.

MALVA - nome artístico Carolina Viana - extremidades - Vens ou Ficas - ao vivo

Foi nesse mesmo ano que Carolina se decidiu aventurar a solo com o nome MALVA e lançou o seu primeiro single “extremidades” num registo completamente diferente da Carolina de Redoma. Os beats foram substituídos por ambiências acústicas criadas através da guitarra e do violoncelo e passou a cantar em vez de rappar. A necessidade de mudar de registo deveu-se a um conjunto de fatores. A nível prático o registo mais acústico de MALVA não exige tanto a nível físico como o constante debitar de palavras que fazia em Redoma. E a nível emocional Carolina sente que precisava de se distanciar um pouco daquele registo. “Neste momento tem sido mais confortável estar em MALVA, muito também porque o trabalho que já saiu de Redoma já tem um tempo, eu já não me revejo naquelas letras, já me custa dizer aquelas coisas porque já não as sinto”, admite.

MALVA tem até ao momento um único álbum lançado com o nome “Vens ou Ficas”. Sim, sem ponto de interrogação. Foi propositado por parte da artista para criar uma sensação de dúvida e inquietação. É dessa inquietação que vem a inspiração para todas as faixas que compõem este álbum. Para MALVA é mais simples criar a partir de um lugar de inquietação e de melancolia e se tivesse de escolher uma música que mais lhe custou criar esta seria o primeiro single “extremidades” por ter vindo de um sítio bastante complicado

Contudo, apesar de lhe ser mais natural escrever de um lugar triste e melancólico, MALVA tem estado a tentar buscar inspiração noutros lugares. Recentemente conta que começou a criar uma canção a partir de um momento de felicidade durante uma residência de duas semanas onde esteve a trabalhar com amigos. “Foi uma explosão de amor e de acolhimento que eu não me lembro de sentir desta maneira. Não que a música seja propriamente alegre, tem algumas partes, parte de um lugar melancólico, vai a um sítio mais esperançoso, mas partiu de muita alegria”, confessa. Isto foi um alívio para a artista que já se sentia frustrada por não conseguir criar canções provenientes de outros sentimentos. “É que há momentos extremamente explosivos, em que tudo faz sentido, está tudo em harmonia e eu não consigo escrever sobre isso? Isso chateava-me”, revela.

É esta paz que MALVA tem tentado trazer mais para este novo álbum que tem estado a gravar no estúdio Camaleão em Lisboa como resultado do seu prémio ‘Melhor Projecto Musical Super Emergente’ ganho no Festival Emergente de 2023. Esta é uma das diferenças deste novo projeto em relação ao “Vens ou Ficas” que foi inteiramente produzido por ela própria no seu quarto. Mas não é a única. Malva promete neste novo álbum uma maior presença da guitarra face ao violoncelo, uma estética diferente sem deixar de ser ela própria, um olhar mais esperançoso sobre as coisas e várias colaborações que ainda não pode revelar. Além disso, conta ainda que neste álbum está a olhar para as músicas de uma maneira diferente. “Talvez olhe mais para elas, as músicas, como canções, acho que são mais canções do que as do Vens ou Ficas. O que preocupou ao início, porque achava que não conseguia fazer mais o que fiz no Vens ou Ficas, que gostava, porque de canções está o mundo cheio e eu gostava de explorar outra estética, outra estrutura, mas no fundo estou a gostar da experiência, está a fazer-me sentido fazer este álbum assim”, afirma.

Concertos MALVA

9 de agosto – Bons Sons, Tomar

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