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Catarina Branco – A artista que entrou na música graças a um hospital e que faz canções para se divertir

Falei com Catarina Branco, cantora, compositora e teclista sobre o seu primeiro contacto com a música, conciliar a carreira musical com o emprego, a sua evolução em palco e futuros projetos.

Escrito por: Vasco Reis

O que anda a ouvir/ Influências Musicais: Fiona Apple, Ena Pá 2000, Phoebe Bridgers e Boygenius

Curiosidade: Fica bastante envergonhada quando é abordada por fãs e já teve várias situações awkward. Uma vez teve de ir ao dentista buscar um molde para os dentes depois de um concerto. Quando estava a sair do dentista foi abordada por um fã que lhe estava a elogiar o concerto. Ela tentou agradecer, mas como tinha o molde na boca só se cuspia e mal dava para perceber o que dizia.

Catarina Branco - cantora - compositora - teclista - entrevista - concerto - agenda - espetáculos

Catarina Branco nasceu em São Martinho do Porto. Considera-se uma pessoa de praia, embora não vá tanto como gostaria. Agora que vive em Lisboa só consegue lá ir alguns fins de semana que aproveita principalmente para estar com os pais. É através deles que surge o primeiro contacto com a música. Os pais são enfermeiros no hospital das Caldas da Rainha, mas além disso são também membros do Grupo Coral e Musical de música popular do hospital, grupo esse que Catarina viria a integrar algum tempo depois de começar a assistir aos ensaios. “Tinha para aí 6 ou 7 anos quando comecei a ir aos ensaios e sempre tive esse contacto muito próximo. E quando eu estava a aprender piano no conservatório, o meu pai achou fixe e eu também queria estar a tocar mais e decidimos que eu ia lá tocar também”, conta Catarina.

Além dos pais, o irmão também teve influência na sua entrada na música. Catarina decidiu ir para o conservatório de livre e espontânea vontade depois de ter visto o irmão 2 anos antes a gostar da experiência. Só que enquanto o irmão foi para a guitarra, Catarina acabou por escolher o piano, escolha essa que, olhando agora em retrospetiva, percebe que foi mais motivada pela sua pequena fisionomia do que propriamente pelo gosto que tinha pelo instrumento. “As guitarras que existiam lá em casa eram gigantes e eu sou uma pessoa assim um bocadinho pequena e acho que o piano tem uma vertente mais de adaptação do corpo ao instrumento e não o contrário”, confessa a artista. No entanto isso não foi impeditivo de aprender a tocar e hoje além do piano e da guitarra, toca algumas percussões e está neste momento a dar os primeiros passos no trompete.

Foi apenas a tocar que Catarina começou o seu percurso na música. Na altura em que entrou para a banda do hospital tinha vergonha de cantar e aquilo que queria era apenas tocar com pessoas. A vontade de cantar só viria a surgir mais tarde, já na faculdade quando começou a escrever as primeiras músicas. Catarina tirou uma licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design e diz que o curso, como estimulava os alunos a criar todo o tipo de arte, lhe abriu a mente para estar à vontade quer para cantar, como para escrever. Foi nesse curso onde descobriu outra das suas paixões: o desenho. Apesar de nunca ter feito nada profissionalmente, Catarina vai desenhando regularmente e vai fazendo coisas que eventualmente podem resultar numa capa, num cartaz ou até mesmo numa letra de uma música. “Às vezes posso estar a desenhar por exemplo uma árvore e já estou a pensar numa frase sobre aquilo que estou a desenhar. As coisas estão assim muito interligadas”, conta.

Não descurando o seu gosto pelo desenho e por tudo o que sejam artes manuais, a grande paixão de Catarina é mesmo a música. Foi isso que a fez, em 2018 a seguir ao curso de Artes Plásticas, mudar-se das Caldas para Lisboa para tirar uma pós-graduação em Arte Sonora ao mesmo tempo que tirava um mestrado em Arte Multimédia. E é isso que a faz hoje aproveitar os tempos mortos que tem no seu trabalho no Apoio ao Cliente para pensar nas suas músicas. “Consigo pegar nesses blocos de tempo em que não estou a fazer nada e estou a pensar no que é que falta naquela música. Eu levo muitas vezes demos no meu telemóvel e vou ouvindo e tirando notas”, confessa a cantora.

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“Música de paixão e Apoio ao Cliente de profissão”. Esta é a bio do seu Instagram e é também uma frase que vai interiorizando cada vez mais. Catarina conta que já teve ambição de fazer música full-time, mas que ultimamente tem tentado não meter muita pressão em si mesma. O importante é poder continuar a fazer música, algo que fará enquanto tiver condições físicas e mentais para tal, porque para Catarina música é sinónimo de relaxamento. Enquanto algumas pessoas se sentam a ver uma série ou um filme, Catarina encontra a paz na música depois de um dia cansativo. “Eu gosto de pensar que as restrições que tenho na minha vida, que são necessárias, porque preciso de dinheiro para pagar a casa, etc…, são coisas que me fazem gostar dos momentos em que estou a trabalhar na música. É para me divertir. O trabalho chato já tenho durante a 8 horas que tenho de trabalhar no escritório”, afirma.

É esse divertimento que também procura quando sobe a palco, mas que nem sempre foi possível. Catarina Branco conta que antes se sentia muito nervosa antes dos concertos por achar que tinha de provar que sabia que cantar e tocar todas as canções, mas com o tempo foi chegando à conclusão de que essa ansiedade lhe estava a tirar o lado lúdico de estar em palco. “Fui percebendo que vou tocar e quando volto o mundo está igual. Se correr bem ou se correr mal, é um bocado igual o que acontecer. Tocar ao vivo foi uma parte do que eu faço que deixei de dar tanto peso e carga negativa. Porque é fixe ir para um palco. Eu tenho só de pensar que isto vai ser fixe, é brutal estar num palco à frente de pessoas”, confessa. E se Catarina foi adquirindo este otimismo pré concerto, a verdade que o seu “eu” pós concerto ainda não é assim tão otimista e aí o seu perfeccionismo vem ao de cima. “Quando as pessoas me vêm perguntar se correu eu respondo sempre ‘Não sei bem, acho que não’ porque para mim as coisas ainda correm mal, há sempre espaço para melhorar nos concertos. Mas acho que estou num lugar mais saudável de perfeccionismo, porque antes ficava fisicamente mal”, admite a artista das Caldas.

Catarina Branco procura na música o bem-estar e sente-se mais confortável a criá-la estando bem. Foi nesse estado de espírito que criou “Vida Plena” o seu primeiro e único álbum até à data, que se seguiu ao seu primeiro EP “Tá Sol” e que foi coproduzido com o também músico e cantor Luís Severo, de que cuja banda faz parte. Contudo, não é esse bem-estar que tem inspirado a artista ultimamente. A prova disso é que o último EP que lançou, em maio deste ano, surgiu numa altura em que dizia não querer escrever mais canções (daí o título) e queria lançar um último projeto. “A última coisa que eu gostava de fazer era uma homenagem à banda do meu pai num jeito um bocado fúnebre. Este EP foi um bocado um enterro da Catarina do Tá Sol e do Vida Plena”, admite.

Morreu essa Catarina, mas a sua carreira musical continua viva e neste momento a artista já está a pensar em novos projetos. Além de um novo disco que tem estado a preparar e que diz ser diferente de tudo o que já lançou, quer também aventurar-se mais nos bastidores e produzir discos de outras pessoas. “Tenho estado a trabalhar no disco de uma cantautora que é a Marta Fora do Tom e há algumas ideias para trabalhar em canções com malta que vão ou não concretizar-se”, revela a artista.

CONCERTOS CATARINA BRANCO

13 Julho – NOS Alive, Palco Coreto
27 Setembro – CAE, Portalegre

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