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Entrevista | André Barros

André Barros é músico e compositor entre o universo contemporâneo, o clássico e o de bandas sonoras. Em 2014, compôs e interpretou música para cerca de dez filmes e uma coreografia de dança, colaborando com realizadores de países como Estados Unidos, Japão, Índia, Alemanha, Islândia e Espanha.

Em maio deste ano, editou o seu novo disco: “Soundtracks Vol. I”. Nele, André Barros, apresenta algumas das composições que compôs e gravou, em 2014, para diversas bandas sonoras e ainda o tema “Gambiarras” que conta com a colaboração (texto e voz) de Valter Hugo Mãe. É por lá que encontramos também os temas do filme “Our Father”, de Linda Palmer (que tem Michael Gross – o pai de “Michael J Fox” em “Quem sai aos seus” – no papel principal), que já lhe renderam um galardão para melhor banda sonora no Los Angeles Independent Film Festival Awards e que, depois de ter alcançado boas críticas e alguns prémios em vários festivais, chegou à edição de 2015 do Festival de Cannes.

1. O que o levou a “trocar” os estudos em direito pela música?

O apaixonar-me pela sonoridade do piano assim que nele toquei pela primeira vez aliado à tendência natural que tenho de seguir, acima de tudo, o que me faz feliz. Sou afortunado por ter uma família que partilha destes ideais e sempre me apoiou! Terminado o curso de Direito, decidi apostar numa formação de 2 anos na ETIC, curso de Produção e Criação Musical, que me deu desde logo as ferramentas para conseguir, de forma relativamente autónoma, produzir os meus temas e partilhá-los! Foi uma decisão difícil, claro, preterir um imediato conforto financeiro com perspetiva de carreira por uma paixão recente e profundamente incerta, ainda assim lentamente vou justificando esta escolha e aproveitando cada momento.

2. Esteve a trabalhar na Islândia no estúdio Sundlaugin. Como é que surgiu esta oportunidade?

Prestes a terminar o curso de produção na ETIC, e sabendo eu da possibilidade de vir a estagiar no âmbito do programa de mobilidade DaVinci, decidi contactar aquela que seria a minha primeira escolha de empresa para acolhimento, neste caso o estúdio Sundlaugin, fundado pelo Sigur Rós. Depois de vários telefonemas e de ir, lentamente, criando empatia com um dos donos do estúdio, o Birgir Jón Birgisson, consegui finalmente que me dessem o tão desejado aval e, depois, foi só acertar tudo com a ETIC e fazer as malas.

André Barros

André Barros

3. Essa experiência inspirou-o para o seu mais recente disco “Soundracks Vol.1”?

Na altura, não fazia ideia de que iria começar a compor para bandas sonoras ou, aliás, de como tudo iria correr uma vez de regresso a casa, mas claramente me influenciaram os três meses de aprendizagem em tudo aquilo que hoje faço, ainda que de forma completamente intuitiva ou irracional. Ainda assim, de certo que o observar e contactar com determinados músicos e diferentes fusões musicais durante aquele período, ainda hoje me dá ideias para esta ou aquela sonoridade.

4. Este trabalho reúne várias músicas para bandas sonoras. Como apareceu esse gosto em compor múscias para filmes?

Como é tudo muito recente – todo o meu percurso e incursão no universo musical  é-me difícil usar a expressão “sempre tive o gosto de…” pois, de facto, é tudo muito novo para mim e os trabalhos têm surgido com uma velocidade vertiginosa, sendo que desde finais de 2013 (altura em que compus a minha primeira banda sonora) compus já 6 bandas sonoras para filmes (curtas e longas-metragens, de ficção ou documentais) e uns tantos outros trabalhos para filmes corporativos e institucionais/publicidade. A primeira oportunidade surge na sequência de perceber que a minha música tem uma forte componente visual e resulta muito bem com a imagem, pelo que aliando isso a uma forte vontade de singrar profissionalmente na música e dela tirar o meu sustento, os contactos começam naturalmente a surgir.

5. Neste trabalho, apenas uma música tem voz. Como surgiu a parceria com Valter Hugo Mãe?

Eu conheci o Valter em Leiria, durante uma apresentação do seu livro “A Desumanização” em que tive também uns apontamentos musicais, sendo que me lembrei de lhe fazer chegar este convite de juntarmos poesia ao meu trabalho e ele, gentilmente, acedeu.O Valter tem várias colaborações com projetos musicais e eu sabia que ele tinha apreciado o meu trabalho, daí até amadurecer este tema “Gambiarras” e lhe fazer o convite foi uma questão de semanas.

6. O seu trabalho tem sido muito elogiado, chegando inclusive ao Festival de Cannes. Estava à espera deste reconhecimento?

Tive a felicidade de trabalhar na curta-metragem “Our Father” de Linda Palmer que tem tido um enorme sucesso nos festivais por onde tem passado, todos sabemos que as curtas têm pouco espaço no circuito comercial de cinema, mas a verdade é que nos podem trazer muita visibilidade ao passarem e serem distinguidas nos festivais. Este e outros trabalhos têm-me valido boas críticas e tudo isto funciona como um enorme estímulo para continuar a apostar forte nesta área e não me acobardar perante a instabilidade e a incerteza que tantas vezes assolam a indústria musical.

7. O que ambiciona para o futuro?

Poder continuar com muito trabalho e não desiludir quem me tem vindo a acompanhar, bem como chegar cada vez a mais público e poder, de alguma forma, contribuir positivamente para a música que se faz em Portugal. Espero ter a felicidade de continuar a surpreender novos ouvintes e que possam sempre fruir das minhas melodias, seja em concerto, seja no conforto das suas casas.

8. Quanto às apresentações ao vivo de “Soundracks Vol.1”, estão agendados alguns concertos?

Os primeiros concertos que tive depois da edição deste novo álbum foram no CCB e na Casa da Música, nos passados dias 04 e 05 de junho, respetivamente, e neles toquei já temas deste álbum mas também recordei temas do meu primeiro disco “Circustances”. Tenciono continuar a dosear temas dos dois trabalhos nos próximos concertos, pois sei que os meus temas são ainda bastante desconhecidos pelo que aproveito estas ocasiões para mostrar um pouco daquilo que faço tanto a nível pessoal (isto é, independente das bandas sonoras) como a nível de música para filme.

9. Sendo este disco “Soundracks Vol.1”, para quando o volume 2?

Já tenho mais alguns trabalhos gravados na área das bandas sonoras, mas obviamente que a edição de um próximo volume (que certamente irá acontecer, espero!) demorará ainda o seu tempo, tempo este que me permitirá trabalhar e completar mais algumas bandas sonoras até eu, e a editora, estarmos satisfeitos com um eventual alinhamento!

Site André Barros: www.andrebarrosmusic.com

Facebook: facebook.com/andrebarrosmusic

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