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Entrevista | Dj A boy named Sue «Já tive que soldar cabos de gira discos enquanto passava música»

DJ a boy named Sue (Tiago André), o braço direito de The Legendary Tigerman (em 1998 tornaram-se amigos inseparáveis e DJ a boy named Sue trabalha desde aí em todos os projetos de Paulo Furtado com o qual já percorreu meio mundo).

Os seus sets caracterizam-se por uma forte vertente rock’n’roll, nos quais visita sonoridades Rhythm & Blues, Soul, Surf, 60’s, Latin Grooves, Exotica, Psych, Garage ou Punk Rock, uma espécie de máquina do tempo, que cria laços entre os grandes clássicos e as novas vertentes da música contemporânea. Neste ano de 2016 lançou-se numa tour em Portugal e o resultado foram 4 meses sem uma única noite de fim de semana livre. 

Dj a boy named Sue é provavelmente o mais icónico e versátil dj do rock’n’roll em Portugal

Dj a boy named Sue

Dj a boy named Sue (foto: Nuno Gervasio)

Há um provérbio português muito usado que diz que “quem corre por gosto não cansa”. Assim é o teu lema nesta tour que iniciaste em março, onde não tens uma única noite de fim de semana livre?
Essa frase lembrou-me o provérbio que diz: ‘’Escolhe um trabalho que gostes e nunca terás que trabalhar um único dia na vida’’. É claro que não é bem assim, o que faço dá trabalho, cansa e implica sacrifícios. Mas tenho um imenso prazer em fazer o que faço, adoro e respiro música e é muito gratificante poder fazer dela um trabalho e partilhá-la com pessoas um pouco por todo o lado e com isso fazê-las divertirem-se.

Sinto que há cada vez mais espaço para o rock e para um dj de rock na noite

E particularmente esta tour como está a correr?
Está a correr muito bem, sinto que há cada vez mais espaço para o rock e para um dj de rock na noite. Tenho confirmado e estabelecido uma espécie de rede ou circuito de locais por todo o país, aos quais vou acrescentando novos sítios onde fui pela primeira vez que querem que volte lá com regularidade. Além disso, sinto que também tenho aberto caminho para outros djs de rock fazerem o mesmo.

Como te adaptas a cada espaço e a cada novo público?
Antes de cada fim de semana faço uma seleção de discos baseado no que sei de cada espaço e público e consoante o tipo de noite que vou fazer (festas temáticas, after-parties…), mas levo sempre uma grande variedade de música. Depois na noite em si, o set depende sempre muito de vários fatores, há que ler o público e tentar criar uma sinergia com ele, procurar ler as suas reações e gostos e interagir com a minha personalidade e bagagem musical.

Como surgiu a ideia de te acompanhares com uma TV e colocares junto a ela as capas dos discos que estás a passar?
A parte da TV, não me lembro bem, foi uma evolução. A ideia de mostrar a capa dos discos surgiu quando descobri as primeiras gravações do Ike & Tina Turner dos anos 60 de rhythm & blues e soul. Em 2000 e pouco o imaginário que as pessoas tinham da Tina Turner era o do “Mad Max” e o do “Simply the best”. Eu pensei, se estas pessoas soubessem que estão a dançar Tina Turner até se passavam (risos). Começou por aí, mostrar às pessoas o que estão a ouvir, às vezes um original duma música conhecida, outras vezes uma banda com a qual as pessoas podiam ter algum preconceito ou até só uma banda boa completamente desconhecida, e mostrar também o artwork dos discos. Comecei por usar um suporte acrílico daqueles de flyers e depois a ideia foi crescendo até hoje, em que uso a estrutura duma televisão antiga, com uma luz por dentro e o meu nome como uma legenda.

Tenciono chegar cada vez mais a mais pessoas

Já fizeste a primeira parte dos Jon Spencer Blues Explosion numa tour em Itália, já passaste música no Festival de Cannes, Oslo, Madrid, Marselha e Macau – entre tantos outros lugares. Qual o lugar que ambicionas passar os teus sets?
Tenciono chegar cada vez mais a mais pessoas, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Tenho planeado fazer algumas saídas ao estrangeiro no futuro, a clubes de rock (Madrid, Paris, Amsterdão, Londres, Berlin…). Gostava também de conseguir ir a festivais e festas temáticas emblemáticas no estrangeiro, quer ao nível do rhythm & blues (o New York Night Train do Jonathan Toubin em Nova Iorque, por exemplo) quer ao nível da psicodelia… No resto do mundo, tal como em Portugal a ideia de Dj de rock está muito ligado a coisas temáticas, mais que tudo gostava de chegar a mais pessoas com o meu conceito de rock’n’roll freakout/máquina do tempo, sem barreiras de géneros ou eras.

Há 15 anos que agitas as pistas de dança por todo o país. Pergunto, qual foi para ti o melhor momento? E o pior?
Tive vários muito bons momentos, desde uma after party dos Sonics e do Dick Dale no Plano B, no Porto, à after party dos Dead Kennedys, em Coimbra, a uma after party dos Heavy Trash no Bafo de Baco, em Loulé, em que acabei a noite a passar música com o Jon Spencer, às mais recentes festas que tenho organizado em Lisboa como o Diabo no Corpo, o Kaleidoscope e o Chills & Fever (isto em Portugal).
O pior… já tive alguns maus ou estranhos é claro, ir passar música 5 horas com 40º de febre deve ter sido um dos piores. Ter problemas técnicos, já tive que estar a soldar cabos de gira discos enquanto passava música com gente a dançar. Depois há sempre noites mais estranhas, não as classificaria exatamente de más, quando o local ou o público não estão habituados ao que eu faço, mas encaro-as mais como desafios

Tenho vindo a crescer e a evoluir bastante em todos os aspectos de Dj

No geral, que avaliação fazes destes 15 anos?
Acho que tenho vindo a crescer e a evoluir bastante em todos os aspectos de Dj e que tenho construído um nome e uma personalidade muito própria a passar música. Sinto que tenho chegado cada vez mais a mais públicos e com isso levar o meu rock’n’roll a cada vez mais sítios e pessoas. Sinto também que tenho ainda muito que aprender e conhecer e que posso chegar ainda mais longe.

Curiosidade: porque o nome Dj A boy named Sue?
O nome Dj a boy named Sue vem de uma música homónima do Johnny Cash. Gosto muito de Johnny Cash e desta música em particular e da lição que se pode tirar dela. Muito resumido, conta a história dum rapaz que foi batizado com um nome de mulher, abandonado pelo pai e que por isso não teve uma vida fácil, um dia encontra o pai e ele diz-lhe ‘’eu dei-te este nome porque sabia que não ia estar ao pé de ti para te educar e foi este nome que fez de ti um Homem forte capaz de enfrentar os problemas da vida’’. Acho que se devem usar as dificuldades e adversidades da vida para crescermos e nos tornarmos mais fortes.


Álbum e música de eleição:
São respostas bastante complicadas para uma pessoa como eu, que gosta desde Carlos Gardel a Motorhead… Como costuma dizer um amigo meu, neste momento esta é a melhor música do mundo. Há músicas preferidas para vários momentos e seria redutor estar a dizer alguma.

Bandas/artistas de eleição:
Tal como antes, esta enumeração será sempre redutora… Johnny Cash, Rolling Stones, Tom Waits, Otis Redding, The Cramps, Iggy Pop, David Bowie, Suicide, The Cure, Depeche Mode, Pulp, Jon Spencer Blues Explosion, Black Lips, Motorhead, Peaches, Serge Gainsbourg, The Kills… Podia continuar aqui interminavelmente que iriam sempre faltar muitos nomes e certamente uma série de bandas do coração que me tocam.

Uma noite é um sucesso quando…
Te esqueces de passar certos hits ou certas bandas.

Rock é…
Vida, o coração a bater, algo primitivo e puro, adrenalina, e parafraseando o meu amigo La Flama Blanca, tesão.

Palavra que melhor caracteriza Dj A boy named Sue:
Rock.


Agenda Dj A boy named Sue

23 Julho/ Dunas Bar, Vale de Cambra
28 Julho/ Festival Mêda+, Mêda
29 Julho/ Rodellus Music Fest, Braga
30 Julho/ Xapas Bar, Paredes de Coura
5 Agosto/ Moods Cafe, Lagos
6 Agosto/ Sabotage Club, Lisboa
12 Agosto/ Uncle Joe’s, Esmoriz
13 Agosto/ Jameson Lazy Sessions, Porto
13 Agosto/ Convento do Carmo, Braga
3 Setembro/ Gliding Barnacles, Figueira da Foz
7-10 Setembro/ Reverence Valada Festival, Valada

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