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Entrevista | Gonçalo Tavares «a música portuguesa não sai nem vende lá fora e continuamos a viver em circuito fechado»

Fundou algumas bandas de garagem e de covers, os “Amigos do Presidente”, “Copyvarios” e os “Tempo”. Gravou vários singles e tem produzido e participado em outros tantos álbuns, com a colaboração de grandes músicos.
Em 2009 realizou um dos seus sonhos ao construir o estúdio “TEMPESTUDIO”. Em 2010 Grava o seu primeiro álbum a solo, “O Segredo que nos fez sonhar”. Ainda em 2010 passou à fase final do Festival RTP da Canção com o tema “Rios”.


Em 2012 Gonçalo Tavares grava o segundo álbum a solo com o nome “SE”. Os 17 temas deste novo álbum vão fluindo numa mistura de baladas, pop e alternativo, em que 6 temas aparecem como bónus track, retirados do concerto ao vivo no Campo Pequeno.


Em entrevista ao Made in Portugal, o cantor Gonçalo Tavares falou-nos um pouco do seu percurso musical, do seu novo disco e dos projectos para o futuro. 

«refrões que se cantam com facilidade, é por isso que chamo canção e não música, é um disco feito para as pessoas»

Made in Portugal: Aos 10 anos de idade ganhou o prémio da melhor canção infantil na Gala Internacional dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz e desde ai nunca mais parou. Estudou na escola de jazz do Porto, formou bandas de garagem, esteve presente três vezes no Festival da Canção e já tem 2 discos editados. Uma carreira musical foi o que sempre ambicionou?
Gonçalo Tavares: Foi cedo que descobri que tocar piano e cantar era algo muito especial para mim. Fui vocalista da Banda Tribo durante vários anos, já nesta altura queria também tocar piano mas só cantava à frente. Gravamos 2 discos e mais tarde enquanto compunha canções formei bandas, tocava quase diariamente em bares, discotecas e festas ao ar livre.

MIP: “SE” é o seu último disco editado. Fale-nos um pouco deste disco. 
G.T.: O álbum é produzido por mim com uma ajuda preciosa dos músicos na pré-produçao. Foi gravado no TEMPESTUDIO, com o Ricardo Melo, Lino Vinagre, Tiago Tavares, a Sofia e a Carlota Tavares. Músicos admiráveis que são também dos meus melhores Amigos. Gravámos o álbum com momentos muito divertidos e de boa disposição, mas por vezes também de exaustão até às 4h da manhã, por isso o “SE” é verdadeiramente um trabalho de equipa. É também um disco que me expõe, como tudo na vida que fazemos de verdadeiro, para saberem quem sou, o que faço, porque estou aqui.
O Álbum tem 17 canções com refrões que se cantam com facilidade, é por isso que chamo canção e não música, é um disco feito para as pessoas. Ao vivo tocamos todos os temas e em estúdio estou já a preparar o próximo trabalho.

«não acredito no êxito na mediocridade»

MIP: Como vê a evolução da tecnologia no que toca à música? Tem receio que com  o “desaparecimento” dos discos físicos e os downloads ilegais os músicos sejam cada vez menos valorizados pelo seu trabalho?
G.T.:Não tenho nenhum receio sobre isso, vejo as coisas de um prisma diferente porque daqui para a frente, os interpretes que editam trabalhos sabem que é apenas na estrada, nos concertos ao vivo que se ganha o dia a dia e isso vem filtrar o que seja menos bom, ou seja, os verdadeiros músicos e cantores terão lugar no mercado e os maus não, não acredito no êxito na mediocridade. Depois acho a evolução tecnológica sublime no que toca à sua utilização em favor da música. Tenho um estúdio de gravação, o “TEMPESTUDIO” que é metade digital, metade analógico por isso sei do que falo. Hoje, as músicas que nos chegam aos ouvidos, desde Rhianna, Bruno Mars, Snow Patrol etc.. têm um nível de produção e de interpretação verdadeiramente superiores. Adoro a música que se faz na atualidade.

MIP: Já cantou várias vezes no Campo Pequeno e no Multiusos de Guimarães. São palcos especiais de se pisarem?
G.T.: Todos os palcos são especiais se houver entrega do público e da banda, porque o que torna o palco especial não é o tamanho, é o que ambos sentem e o que vivem durante 90 minutos.

«O “My Voice” foi um dos seis temas que produzi para o álbum dele (José Cid) em 2013 e como se tratava de um tema sobre a Voz ele próprio propôs ser cantado por três gerações»

MIP: “My Voice” e “O Verão Chegou Tão Tarde” foram temas que interpretou 
ao lado de José Cid. Como tem sido ter o apoio de um dos artistas mais conceituados a nível nacional?
G.T.: O Zé é um músico excepcional. O “My Voice” foi um dos seis temas que produzi para o álbum dele em 2013 e como se tratava de um tema sobre a Voz ele próprio propôs ser cantado por três gerações, José Cid 60 anos, Gonçalo Tavares 30 anos e a Sofia e Carlota Tavares de 14 anos. Quanto ao “Verão chegou tão tarde” é um tema da minha autoria também produzido por mim para o mesmo álbum, que gravámos em dueto e que resultou muito bem. Tratou-se de uma parceria que fiz com ele, não de um apoio, o Zé tem uma carreira cheia de trabalho e eu começo a ter a minha.

MIP: Em “My Voice”, tema escrito para o Congresso Mundial da Voz cantou também ao lado das suas filhas Sofia e Carlota Tavares. Elas também desejam seguir os seus passos e ingressar no mundo da música?
G.T.: A Sofia e a Carlota cantam mesmo muito bem, têm muita musicalidade e dão-me um apoio enorme nos concertos ao vivo. Como têm um jeito inato para cantar gostam muito. Foram elas que fizeram e conceberam quase todos os coros do álbum “SE” e fizeram interpretações deslumbrantes nos duetos “Moras no meu Coração” e “Uma nova forma de pensar”. Ouçam esses temas nas plataformas digitais.

«Acredito no Amor e na afirmação de nós próprios para escrever canções»

MIP: O que o inspira para compor as suas canções?
G.T.: Alguma coisa que me marque pela positiva ou pela negativa, deverá haver sempre uma emoção a despertar uma canção nova. É como que gritar ou desabafar com alguém e em vez de o fazeres compões uma música. Pode ser o barulho enorme no meio de um bar, o silencio colorido de Trás-os-Montes, uma paisagem, uma criança, uma notícia, a multidão ou simplesmente quando estou só. Acredito no Amor e na afirmação de nós próprios para escrever canções.


MIP: Quais as suas referências musicais?
G.T.: Gosto imenso de Jamie Cullum, Adele, Elton John, Stevie Wonder, John Mayer, Billie Joel e no panorama português numa fase recente, Sara Tavares, Pedro Abrunhosa, Fausto Bordalo Dias, Luís represas, The Gift, GNR e Clã.

«a música portuguesa não sai nem vende lá fora e continuamos a viver em circuito fechado»

MIP: Como define atualmente a música em Portugal?
G.T.: Há compositores excepcionais. Respeito muito os músicos portugueses pelo facto de viverem num contexto de trabalho apenas interno porque sem ser fado ou algo muito especial como Madredeus, a música portuguesa não sai nem vende lá fora e continuamos a viver em circuito fechado. A estratégia de exportação de música portuguesa teria que passar por uma concepção mais atual da música que se faz e pela produção que se faz lá fora que está muito para além da grande maioria do que se faz cá. Em Portugal não existe mercado de composição e venda de música, passo a explicar: eu componho uma boa canção e vendo os direitos a um determinado intérprete, a seguir, um produtor fará algo de maravilhoso com essa música e com esse cantor. Se analisarmos alguns temas americanos que fazem furor na Megahits com a camada mais jovem, verificamos que se trata de 4 acordes, uma interpretação vocal soberba, arranjos e produção magníficos. Repara no alto nível de vozes que saem todos os anos dos programas televisivos e só a maravilhosa Sara Tavares e o fantástico João Pedro Pais se impuseram no mercado porque são grandes compositores das suas próprias canções.

MIP: Que desejos tem para este ano 2014?
G. T.: Na política, quero muito que Portugal ultrapasse este problema financeiro em que se encontra e ao mesmo tempo que as pessoas resistam a este assalto. Que a partir de 2014 se responsabilizem todos os indivíduos pela gestão que fazem das empresas públicas, porque embora este assunto seja subjectivo, não pode haver gestão sem compromisso.
Responsabilizar os políticos e os pais das crianças que tratam mal os professores, que o ministro Nuno Crato tenha uma visão mais forte que a simples redução de custos, uma visão de estratégia a longo prazo, que invista capital humano na educação que é a única forma de dentro de 30 anos termos um País e uma cultura forte. Na música espero passar a minha mensagem a todos porque a música que faço é um bocado de mim que vos dou. Também estou disposto a fazer concertos de beneficência para organizações de crianças necessitadas. Podem entrar em contacto através do meu site www.goncalotavares.com.
No desporto gostaria muito que chegasse-mos a final do Mundial de futebol!

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