The Happy Mothers são uma banda de punk rock formada em 2008 por Miguel Martins e Pedro Adriano Carlos. Depois de uma tour por todo o país, editaram, em 2010, o seu primeiro trabalho: Psycho In Lust produzido por um dos membros. Recentemente lançaram dois singles, So Sick e SpaceTrip, e atualmente estão a preparar um novo conceito – The Black Sheep – que promete revolucionar o panorama musical português.
O Made in Portugal esteve com a banda nas gravações da BalconyTv Porto: confira a entrevista.
Made In Portugal – O processo de formação do nome é um passo importante para suscitar a curiosidade do público em relação à banda. No vosso caso que aspetos tiveram em conta na escolha do nome?
Pedro- É muito simples: o meu pai é que deu essa ideia. Nós estávamos à procura de um nome e estava a ser difícil de encontrar aquele nome perfeito e mesmo assim na altura ele disse ah The Happy Mothers e nós ainda torcermos o nariz só que depois ficou. A minha perspetiva do nome é um bocado freudiana: a questão da mãe e da cria que nasce e não está educada e vai sempre instintivamente agir em função dela própria.
Miguel- A questão é assim: a gente teve a ideia do nome só que adotá-lo é uma questão diferente . Nós falamos muito e- como é óbvio somos duas mulheres que temos muita experiência para falar sobre isso e também já fomos duas mães- sabemos que muita gente quando passa pela experiência da maternidade fica um pouco invejosa e, como temos todo o direito de falar sobre isso, é um bocado uma crítica nesse sentido. E obviamente depois transmitimos isso em relação a qualquer criação como qualquer artista. Neste caso somos dois artistas que partilhamos a mesma visão e chegamos a um ponto comum, tentando fazer qualquer coisa a partir dessa visão que tivemos e tentamos alcançá-la.
Nesse momento somos mães em termos artísticos como qualquer pessoa é mãe em termos biológicos por assim dizer. O problema é que, por exemplo, estou a imaginar que a minha mãe de certeza que tem orgulho em certas coisas em mim, mas se calhar há outras que não queria que eu fosse assim, mas é um risco que qualquer pessoa toma quando é artista. E a mãe/pai é o maior artista que existe e que tem a coragem de ter um filho que é a coisa que mais vai amar no mundo e não quer que nada de mal lhe aconteça. Só que depois joga-se com os princípios, com o que se acha que se deve ou não fazer. Ou seja: é um risco lançares um filho ao mundo, como é um risco lançares uma obra de arte. O mesmo se passa com a música: muita gente vai dizer que é uma porcaria e outros vão dizer isto é fixe. Por isso temos de estar aptos e recetivos a levar tanto com porrada como com miminhos.
MIP- O vosso primeiro filho é portanto o Psycho In Lust…
Pedro – É o que nos calhou na rifa. (risos)
Miguel – Exato. Por exemplo, a brincar a brincar, nós gostamos do disco, mas não é a coisa que mais nos orgulhamos. Entretanto crescemos noutro sentido e deixámo-lo para trás. Quer queiramos quer não está aí para qualquer pessoa o ir buscar, mas já não nos identificamos da mesma forma. Ou seja, é um risco. Nós sabemos que este álbum que iremos lançar vamos adorá-lo, ficar eufóricos por tocá-lo ao vivo, mas depois, se calhar, passado uns tempos vamos olhar para trás e não nos interessa.
MIP- Aquando o lançamento de Psycho In Lust fizeram uma tour. Como descreveriam um concerto vosso? Têm algum ritual antes de entrar em palco?
Pedro – Ritual não há nenhum em especial. Apenas conversamos entre nós do género: então vai ser um concerto altamente e tal. Chegamos lá e pronto é o que acontecer.
MIP- Costumam improvisar?
Miguel – Nós deixamos alguma parte ao improviso. Algumas coisas aprendemos com alguns dos maiores neste caso os frontmans: temos duas ou três referências que conseguem ser simpáticos e ao mesmo tempo confiantes no que fazem.
Pedro – É suposto estares ali a puxar pelo pessoal. Se calhar às vezes somos um bocado mal interpretados. Quando dizemos algo do género: então pessoal como é que é? Está tudo a curtir? Por vezes pensam que somos um bocado exagerados e não gostam.
Miguel – Tudo o que a gente faz acredita a 100 % é de coração e se levarem a mal, azar. Também levo muita coisa a mal e que para muita gente é normal.
Pedro – No fundo encaramos cada concerto como se fosse o último dia na Terra e queremos que seja aquele momento mesmo especial.
MIP- Relativamente a influências sabemos que não se limitam apenas a artistas no âmbito da música, mas também poetas, jornalistas, filósofos, escritores entre outros. Essas influências são pessoais que usam para fazer música ou musicais que passam para a vida pessoal?
Miguel- O que é engraçado nisto, digo eu, é que somos pessoas muito diferentes. Já tocamos música desde os 14 e o nosso percurso foi muito paralelo. A verdade é que hoje é mais ou menos a terceira vez que estamos quase no mesmo momento na nossa vida. O Pedro, por exemplo, perdeu coisas importantes para ele há pouco tempo, eu também, ele está a recuperar disso eu também, eu estava quilómetros e quilómetros afastado dele e mesmo assim isto aconteceu. Isso é interessante. Depois quando criamos uma letra ou uma ideia qualquer musical, é fácil identificarmo-nos com isso é quase como, em certa parte fossemos irmãos espirituais nesse sentido. Porque ele manda-me uma letra e claro que ele tem a interpretação dele, mas sinto-a quase como se fosse minha e vice-versa. Por isso é muito fácil eu dar uma opinião e assim acaba por sair o “nosso filhote”. Desde Janeiro deste ano já fizemos mais de 45 músicas.
Pedro – Porque é que isto aconteceu: porque havia a possibilidade de ele indo para LA nove meses podia ficar lá. E sinceramente eu estava num momento muito complicado, estava em baixo e de repente… Pronto lets put it this way: a mulher da tua vida vai-se embora e de repente o homem da minha vida vai para Los Angeles e eu fico sozinho, sem a banda que era a coisa mais importante quer dizer é o futuro que queres ter. E eu decidi: ok, vou pegar nisto e começar a mandar-lhe demos para ver se ele também mantém-se interessado enquanto está lá e foi um bocado isto. O que levou a novas músicas, ao novo álbum e a um conceito novo.
MIP- Liberdade, Anarquia, Rebeldia, Humanidade são quatro conceitos que gostaríamos que explicassem, na vossa perspetiva, o seu significado.
Miguel – No que diz respeito à liberdade, toda a gente tem aquela frase feita de a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros. E eu digo que é muito bonito e fácil dizer isso, mas assim como muita gente neste país – que é um país pequeno e muita gente se sente insultada pela minha forma de ser, estar e parecer, eu vejo isso: cada vez que vou ao shopping toda a gente, pára, olha e ri-se e eu sinto-me insultado. Aliás não me sinto, mas poderia sentir lá está pela forma deles serem , parecerem ou principalmente como reagem à minha não ação. Portanto, para nós a liberdade de facto vai chocar um pouco com a ideia de liberdade dos outros, mas para já o que eu quero dizer é só isso e deixo um bocado em aberto para as próximas coisas que fizermos até ao final do ano. Porque é óbvio que respeitamos tudo e todos, não achamos nunca que temos uma opinião melhor ou pior ou que sabemos a verdade mais do que os outros, apenas acreditamos na nossa verdade e levamo-la até ao fim do mundo, haja o que houver. Muita gente leva isso como um abuso da liberdade e acontece o mesmo com vocês: a partir do momento em que me obrigam por exemplo a não poder fumar erva, para mim é uma liberdade que eu deveria ter naturalmente. Eu deveria ter o direito de a plantar e se ir para a rua e fumá-la, mas muita gente esquece-se disso. Depois diz que se eu pareço de uma certa forma ou falo de determinada maneira, estou a invadir a privacidade e a liberdade deles.
Pedro – Sobre a anarquia. Hoje em dia a palavra anarquia, dentro do ambiente dos The Happy Mothers, vejo-a quase como a liberdade: estou livre para fazer o que quiser. Não é anarquia no sentido de caos, mas sim de estarmos livres de pensar, fazer, comer, beber…
Miguel – E de não julgarmo-nos a nós próprios por sermos quem somos, submetermo-nos às nossas vontades, aos nossos instintos, mesmo quando somos ensinados a agir socialmente, não só aqui nesta sociedade ocidental, mas em todo o lado, inclusive em Marte e essas cenas.
MIP- Sobre a rebeldia…
Miguel- A cena é assim nós quando éramos teenagers víamos uma novela a Rebelde Way e pronto vem daí. (risos). Por acaso houve um grande poeta que disse qualquer coisa como: se queres ser rebelde e fazer uma revolução, em vez de falares ou escreveres, apenas revolta-te em ti mesmo, age segundo aquilo em que acreditas em vez de falares sobre isso. É muito melhor em vez de estarmos com falinhas mansas assumir e agir; e isso é o maior ato de rebeldia que podemos ter.
Pedro – E o conceito de humanidade tem a ver com tudo o resto.
MIP – Estão a preparar um álbum novo?
Miguel – Nós temos as tais quarenta e tal músicas novas, todas escritas entre cá e lá. Quando eu fui embora para os EUA, havia o risco de a banda poder acabar, mas conseguimos retirar do problema uma vantagem. Compúnhamos através da Internet, o Pedro mandava-me uma letra, eu mandava-lhe outra e ia aprendendo umas coisas lá e acabámos por – de uma forma muito esquisita para nós porque achávamos que para compor as pessoas tinham de estar juntas – fazer o que nunca fizemos com um oceano e um continente à nossa frente.
MIP- Portanto experiência de estúdio só com o André Indiana.
Miguel – Gravámos os singles So Sick e SpaceTrip, em Novembro de 2011 com o André Indiana a coproduzir connosco. Entretanto em vez de apostarmos logo nessas músicas, fui-me embora e fizemos este hiato. Depois voltei e para esta tour que está a começar agora, vamos tocar essas duas músicas, as antigas e também as tais novas que irão fazer parte do disco que vamos gravar a seguir que é o The Black Sheep que estamos a acabar de compor.
MIP- Afirmaram que o lançamento de The Black Sheep vai ser algo de revolucionário, nunca antes visto. Podem explicar melhor a que se referem?
Miguel – O The Black Sheep não é só um disco. É um conceito, uma identidade que estamos a agarrar agora, no fundo é como se fosse uma definição paralela e ao mesmo tempo simbiótica com os The Happy Mothers. Nós temos estas encarnações neste momento temos o The Black Sheep que achamos que é um conceito que se adapta absolutamente ao que pretendemos. E depois também já falámos sobre um novo EP que vamos lançar a seguir. Mas o The Black Sheep não é só um disco é uma identidade.
MIP- Como uma segunda banda?
Miguel – Não é uma segunda banda. The Happy Mothers são duas mães artísticas, duas criadoras que podem ter vários filhotes. Neste momento temos duas ovelhas negras com as quais nos identificamos totalmente.
MIP- Já está prevista alguma data para o lançamento?
Pedro – O que está previsto agora é tocar ao vivo, ganhar aquele lanço de banda, apresentar músicas novas, ver qual é a reação das pessoas, para depois gravarmos com muito mais convicção de quais são as músicas que têm de estar no álbum.
MIP – Numa época em que a indústria musical (e não só) está a atravessar um período de crise, qual a vossa motivação para manter o projeto vivo?
Miguel – Primeiro, como já dissemos, há treze anos que fazemos música juntos. Se eu tenho uma ideia mando-a logo para o Pedro e vice-versa. Tivemos experiências a solo, eu também toquei com outras pessoas, mas o Pedro é das pessoas com quem eu sou mais confiante das minhas ideias. Por mais que às vezes ele as mande abaixo eu estou confiante de que ele está a ser sincero e isso para mim é o mais importante e acho que o Pedro sente o mesmo comigo. Ou seja, os The Happy Mothers são apenas uma expressão nossa, assim como é natural eu comer, beber ou fazer chichi e faço isto com ele e acho que ele sente o mesmo. Mas claro que para além disso tudo, temos uma fé enorme e achamos que se estamos há tantos anos e com tanta coisa que aconteceu a aguentar isto por alguma razão há-de ser. Então vamos insistir e já que temos tanto em comum o que é engraçado. Imagina: a primeira desilusão de amor dele foi ao mesmo tempo que a minha, a segunda também, a terceira igual e por aí em diante.
Pedro- Por exemplo: estamos no carro e ele está a conduzir e está a dar uma música e começamos ao mesmo tempo a cantá-la.
MIP- Quais as dificuldades que sentem enquanto banda emergente?
Miguel – Temos duas grandes dificuldades: primeiro cantamos em inglês numa terra em que a maioria das pessoas não percebe o que a gente quer, o que escrevemos, nem sequer de onde viemos. Eu estive lá fora e levei os The Happy Mothers a apresentar a muita gente e obtive uma reação muito mais positiva em nove meses do que tive aqui em nove anos e tínhamos mais apoios e hoje temos lá portas abertas se quisermos ir. Só que neste momento temos aqui a nossa terra e sinceramente penso: muita gente está a ir para fora, ( tenho muitos amigos meus que infelizmente estão a ir para fora porque aqui não podem fazer mais nada) mas eu quero ficar aqui. Quero tentar à minha maneira, com o Pedro como é óbvio, não desistir e que as pessoas comecem, por que não a tentar perceber (-nos) um pouco mais? E não estou a ser arrogante, porque também tento perceber o que se passa aqui e as pessoas que têm uma perspetiva diferente. O que quero dizer é que por mais que nos digam que é difícil nós não queremos desistir, mas não quer dizer que a gente se tenha esquecido do panorama internacional.
MIP- Tocando lá fora, talvez, a mensagem que queiram passar seja melhor captada, não?
Miguel – Há essa facilidade em termos de entenderem melhor a música e a letra. Mas sem dúvida há a dificuldade de não termos os mesmos meios que temos aqui como por exemplo os amigos, a família, as bases que criamos. Lá fora vamos ter de fazer um esforço. Não vamos esconder que temos planeado, para o ano que vem, quando tivermos algumas músicas gravadas do novo disco, tentar expandir um bocado a música lá para fora e com o selo de música portuguesa. Cantar em inglês ou seja o que for, mas sempre música portuguesa.
MIP- E que mensagem é essa que pretendem que seja ouvida através da vossa música?
Pedro – No fundo qualquer um pode dizer eu sou eu próprio, eu não minto. What you see is what you get. No entanto, há sempre alguma coisa que não se mostra e nós, estamos cada vez mais convictos, que temos de ser reais ao máximo, livres de espírito.
MIP – Atendendo a que vocês já têm alguns anos de experiência quer a solo ou enquanto banda, que conselhos dariam a quem pretende iniciar-se no mundo musical?
Pedro – O caminho é muito simples: faz o que gostas. Não vás pelo género de “agora estou a ficar velho, preciso de fazer dinheiro e tenho de fazer aquele tipo de música” que se calhar não gostámos, mas que vamos fazer só pelo dinheiro. O meu conselho é: façam o que gostam, não desistam. Estar na música para ser só mais um e dizer “pronto estou contente com a minha vida”. Isso não é verdade.
Miguel – Experimentem. Estejam abertos a ouvir , experimentar, conhecer pessoas diferentes. (Neste aspeto o Porto é melhor que Lisboa). No fundo é estarmos abertos a ideias diferentes, a música diferente, a artes diferentes, a formas de estar diferentes e a experimentar.
MIP – Que expetativas têm em relação a esta vossa participação na BalconyTV? Como surgiu esta oportunidade?
Pedro – Foi quando o Miguel estava em LA. O João Castro já sabia quem eu era e contactou-me para ir com a banda lá e eu disse que a banda não estava cá, mas que podia ir a solo e fui. Mantive contacto com o produtor da BalconyTv, continuámos a falar em fazer uma participação e entretanto o Miguel voltou e pronto. É fixe porque temos mais um vídeo e podemos apresentar coisas diferentes em vez de ser sempre rock n’roll.
Miguel – Esta iniciativa é uma oportunidade de aproveitar uma ideia que é gira e original e única aqui em Portugal, e tentar aproveitar o melhor possível esta ideia pequenina e engraçada que é as bandas e os artistas tocarem numa varanda com uma vista fixe, estamos virados para o Porto desta vez, a ideia é tocarmos uma das novas músicas os dois também. A nossa expetativa é que tenha corrido bem e que tenhamos um vídeo engraçado para as pessoas terem uma nova perspetiva daquilo que andamos a fazer neste momento. E que adorem, fiquem loucas.
MIP- Planos para o futuro? Algumas datas que possam adiantar?
The Happy Mothers – A nossa tour começa dia 12 de Outubro no Plano B no Porto; dia 19 vamos estar em Braga no Estúdio 22; dia 26 em Leiria no Texas Bar e no dia 31 na Noite de Halloween aqui no Porto no Contagiarte – vai ser uma festa a não perder, todos têm de vir.
Depois, em Novembro, vamos estar no dia 2 na Moita, no dia seguinte em Lisboa, no dia 9 em Coimbra e dia 14 no MusicBox em Lisboa. Depois vamos estar a gravar e no dia 20 de Dezembro vamos estar no Teatro de Vila Real e dia 21 no Hard Club no Porto onde iremos apresentar novos temas e, possivelmente, o novo videoclip.
Acompanhe a banda em:
http://www.thehappymothers.com/
http://www.facebook.com/thehappymothers?fref=ts
http://thehappymothers.bandcamp.com
Nota: O MIP agradece à Carolina Fonte pelas fotos.