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Entrevista | Mourah “a aceitação lia-se através das vendas, mas isso hoje em dia já não significa nada, pois infelizmente as pessoas já não compram música”

Filho de melómanos, Mourah nasceu num dia quente em Cascais, mas emigrou cedo para a Suíça alpina, mais amena, onde, aos 10 anos, iniciou as aulas no conservatório. Ao jazz e à música clássica, juntou-se o gosto pela pop e a música eletrónica de Bristol, paixão que o levou a Inglaterra, participando em jam sessions com músicos de diferentes sensibilidades.


Em 2005, enquanto Mourah (antes fundara os Anticlockwise, projeto assumidamente funk) editou o seu álbum de estreia. Um disco com mistura de sonoridades acústicas, com texturas eletrónicas num equilíbrio quase perfeito.


“Sublime EP” é o seu novo trabalho e contou com a preciosa co-produção de Armando Teixeira, músico e produtor, mentor de projetos como Bullet ou Balla e com histórico nos Da Weasel.


Em entrevista Mourah falou-nos do seu percurso musical, do presente e do futuro!


Made in Portugal: Fale-nos um pouco do seu percurso musical. Quando sentiu o apelo para ser músico?
Mourah: Aos quatro anos de idade tinha dois brinquedos preferidos, os Lego e um pequeno xilofone de todas as cores. Um pouco mais tarde os meus pais ofereceram-me um pequeno sintetizador muito básico.´: isso deu-me a vontade de estudar música e começar a aprender a tocar guitarra elétrica. Em casa ouvia-se de tudo, jazz, música clássica, mas quem mais me influenciou foi o meu irmão, que me deu a descobrir artistas como o Prince, os Massive Attack, Portishead – música eletrónica. A partir daí comecei a imaginar temas, melodias…
Aos 15 anos formei uma banda de funk/rock, Anticlockwise. A seguir decidi construir-me sozinho, nomeadamente em Londres, onde participei em várias jam sessions. O Mourah é o que sou, não é um projeto musical, é o desenvolvimento de um artista no tempo.

MIP: Já viveu na Suíça e em Inglaterra. O que retira dessas experiências que o influenciaram na pessoa e no profissional que é atualmente?
Mourah: E já vivi em Portugal durante dois anos. Hoje estou na Suíça onde passei a maior parte do tempo. A nível profissional, um músico é igual em qualquer parte do mundo, pois as emoções são universais, é isso o que ele procura veicular.
Depois em termos de influencias, há obviamente cores diferentes entre a cultura musical portuguesa, mais lírica e emotiva; a inglesa onde o sentido da melodia impera, e a francófona para quem as letras têm a mesma importância que as melodias. Penso no Serge Gainsbourg, Jacques Brel, poetas natos. A nível pessoal, podem soar a clichés, mas em Portugal senti o lado carpe-diem das coisas, os britânicos ensinaram-me o lado “if you want something, go for it!” e na Suiça as pessoas gostam do pragmatismo e organização.

MIP: Lançou agora o seu segundo EP Sublime. Como carateriza este trabalho?
Mourah: Sublime! Trata da ruptura amorosa, as contradições emocionais que isso provoca nos protagonistas. Fala do tempo que passa, dos remorsos, da importância de viver o instante presente…
Queria que os temas fossem íntimos, introspetivos. Não seguem a veia minimalista, pois tem peso sonoro, mas também não são densas, sem presença de orquestra, ou muitos músicos. A sensação é aquela de estar um pouco à sombra enquanto se revisita momentos belos e doces. São temas cor de carne, com luz e sombras.

MIP: Em que se inspira para a composição dos seus temas?
Mourah: Neste caso concreto inspirei-me da minha vida pessoal, durante uma fase de ruptura difícil, consegui evacuar os medos e as dores, sublimando esses sentimentos, cristalizando-os em música. Não são temas autobiográficos, só me inspirei de impressões e sensações pelas quais passei.

MIP: O que fez neste hiato desde o lançamento do primeiro trabalho em 2005 até ao lançamento de Sublime?
Mourah: Muitas coisas! Como completar os meus estudos universitários, compus música para peças de teatro para uma companhia de Genebra (Andrayas), viajei um pouco, e fui compondo música. Tenho muitas na gaveta à espera de tempo para materializa-las completamente.

MIP: O seu primeiro disco teve uma excelente aceitação por parte da crítica. Como está a ser a recepção do segundo?
Mourah: Bom, de modo geral os EP’s não têm a mesma projeção que um álbum, mas pelas criticas quer da empresa como do publico, tem sido muito boas. Fique surpreendido de ver que pessoas ainda se lembram de mim! Há uns anos, a aceitação lia-se através das vendas, mas isso hoje em dia já não significa nada, pois infelizmente as pessoas já não compram música. Ora, precisamos muito desse apoio e forma de respeito. Hoje as visitas de páginas, os views, comentários, likes, indicam a aceitação. O vídeo do single Breakup 28, acabou de ultrapassar 50.000 vistas, o que acho enorme pela pouca promoção que foi feita.

MIP: Quais os seus projetos para o futuro?
Mourah: O grande projeto agora é o álbum, Kardia, que será editado em Fevereiro 2014. Terá novo single e vídeo. Quero muito fazer algo de híbrido, belo, pessoal, único. Em paralelo, estou agora a formar uma banda, para lançar uma série de concertos, tanto na Suíça como em Portugal e talvez França.

MIP: Como define a música atualmente a música em Portugal?
Mourah: Sinceramente, estou um pouco fora atualmente da realidade musical Portuguesa, mas sem destacar alguém em especial, pelo que ouço, a qualidade técnica já está ao nível do melhor que existe. Que seja no hip-hop, electro e outros estilos. Fico feliz de ver por exemplo a Mariza e a Ana Moura, Buraka Som Sistema, a usufruírem duma fama internacional até então somente alcançada pela Amália Rodrigues. Portugal não deixa de ser um pais bastante cosmopolita e isso sente-se na criatividade. Criatividade que ganha ainda mais força em tempos da crise que conhece o País. Pois, para ser criativo, é preciso ter fome, sentir algum desconforto, algum medo. Fora isso, não vejo outro ponto positivo no momento pelo qual Portugal está a passar…

Acompanhe Mourah em: 
http://www.mourah.com/
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