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Entrevista | Tekilla: «Erro Perfeito: ouve, cultiva e partilha!»

O Made in Portugal esteve à conversa com Tekilla, figura incontornável do hip-hop nacional, que editou recentemente o seu terceiro álbum de originais: Erro Perfeito.


Telmo Edgar (Tekilla) fala-nos do seu percurso enquanto músico, do novo disco, dos vários projetos para o futuro.


Made in Portugal: Para iniciar esta entrevista, fale-nos um pouco do teu percurso. O que te levou/incentivou a entrar no mundo do hip-hop?
Tekilla: A minha adesão a este mundo foi um mero acaso. Eu morava em Massamá quando o meu irmão mais velho (Hélio) veio de Sul de França, Marseille, onde tinha família a viver e trouxe alguns cds de rap que eu ouvia com alguma frequência. Nomes como De La Soul, LL Cool J, Public Enemy, Sade, Doctor X entre outros. Como ele era mais velho não me deixava mexer nos seus cd’s com receio de eu os estragar, mas como eu era malandro quando ele saia de casa eu ia ouvir…claro!
Foi assim que com as mudanças de casa e com o desporto que praticava (skate) comecei a ouvir a banda sonora dos filmes, que ainda era melhor, foi ai que comecei a ver a minha direcção artística e a ter o meu primeiro contacto sério como escrever as minhas rimas, comprar o meu primeiro cd – que foi Wu-Tang Clan “Enter The 36 Chambers” – e desde então nunca mais parei.

«um álbum cheio de vigor, jovem, suculento e único que oscila entre os estilos soul, rnb e rap»

MIP: Quatro anos depois do teu último disco, editas “Erro Perfeito”. Fala-nos um pouco do disco?
Tekilla: Eu não olho para o tempo da perspectiva de satisfação dos fãs, ouvintes ou seguidores essa não é a minha forma de desenvolver esta arte. Uma das formas que eu escolhi para expressar-me, com a música, requer uma determinada atenção seja a nível de conteúdos, escritos, como musicais, como criativos e eu sou a favor de uma óptima influência, mas sou contra uma réplica… portanto os quatro anos foram ocupados com outras tarefas, mas que eram necessárias, a vivência faz com que haja conteúdos perfeitos para contar e é isso o “Erro Perfeito”, um álbum cheio de vigor, jovem, suculento e único que oscila entre os estilos soul, rnb e rap. Aliás, eu como artista nunca estagnei portanto o processo criativo do mesmo, foi uma reflexão das minhas opções musicais principalmente a nível de produção onde há temas como o “Sexo” com Marga Munguábe e Otis que é um autêntico tributo ao J. Dilla “James Yancey”, um dos melhores produtores de Detroit de todos os tempos, tens temas como o “Nada de Novo” com New Max que é um autêntico Pete Rock style, estilo pesado de referência nova-iorquina mas com aquela vibe soul. O tema “360º” com Dino que é um tributo autêntico Philladelphia, um team de produção que é “A Touch Of Jazz”, são vários produtores que misturam muito o soul com hip hop e a fusão é perfeita e este tema é um dos meus melhores “Amadurecimento”  é um dos temas mais pessoais do meu álbum, um tema real de uma fase na minha vida – a minha mãe chorou a ouvir este tema – e a sonoridade é a minha definição uma mistura Pete Rock com Beatminerz produtores de referência dos anos 90. O “Sinónimo” com Sam The Kid é a melhor definição de boom bap de todos os tempos feita em Portugal nos últimos anos, e eu a reavivar as memórias desta forma tendo o hip hop alterado um pouco as suas raízes por motivos técnicos, hoje em dia ouvires um tema desta magnitude e respirares rap é… uma excelência! Sentes os drums todos, a ferocidade e a fome que outrora dignificava os artistas neste tema típico Dj Premier, NYC…exemplos, como uma das melhores vozes nacionais da atualidade.
O meu álbum é uma manga, um fruto suculento, uma experiência única, qualquer pessoa que ouve absorve informação, vive uma experiência e era exactamente isto que eu queria fazer neste álbum, trazer uma experiência nova mas sem distorcer a essência do passado, trazer a minha linguagem musical onde as pessoas sentem as minhas referências musicais: “Erro Perfeito”.

MIP: Este é o disco que melhor te define?
Tekilla: Sim, sem dúvida. Apesar do ‘Tekillogia’ ter sido considerado um clássico para o panorama nacional devido a época em que saiu e o conteúdo que trazia, acredito que naquele ano foi também o que de melhor foi feito e cada palco que pisava sentia isso ao ouvir as pessoas de diversas idades cantarem as músicas, porque sinceramente a melodia foi uma das minhas maiores características e isso tem-me acompanhado ao longo dos anos, “Erro Perfeito” posso chamar um “Tekillogia 2” porque é sem dúvida as mesmas referências mas com uma perspectiva mais madura, mais adulta, mais culta…

«Sinto-me preenchido como artista, adorei a receptividade do público, todos adoraram o álbum e fico contente por isso…é para isto que vivo»

MIP: O disco conta várias participações de músicos ligados ao hip-hop e teus amigos. Podemos dizer que este disco é também um disco de partilha de amizade?
Tekilla: Humm… talvez pelo facto de haver uma enorme ligação à minha sonoridade, repara que a maior parte das participações são musicais, melódicas não vez rappers tirando fora o Sam. Estas eram pessoas que faziam parte deste circuito musical mas que eram pouco referenciadas, entendes? Cool Hipnoise, Otis, Francisca da Orquestra Sinfónica da Gulbenkian, Elaisa, Dino, New Max epá… são todos músicos, referências nacionais, é só boas participações e este nomes todos reunidos no meu álbum é mais do que uma celebração…é outro clássico, é outra meta atingida. Sinto-me preenchido como artista, adorei a receptividade do público, todos adoraram o álbum e fico contente por isso…é para isto que vivo!

MIP: “Erro Perfeito” é um álbum independente com o apoio da editora Farol, com a distribuição digital. Este apoio da Farol Música, tem sido uma mais valia?
Tekilla: Sei que os tempos mudaram e que sou obrigado a acompanhar estas metamorfoses, portanto a forma de comunicação e a plataforma viral que a Farol apresenta, será apenas mais um meio de distribuição mundial. A Farol está a fazer que mais pessoas conheçam o Tekilla, mas também que oiçam e apoiem a minha música em todas as partes do mundo, sendo que existe distribuição digital. Foi uma excelente parceria que faz todo o sentido para  mim claro.

«depois do álbum estar feito ainda queria acrescentar mais temas e mudar mais músicas»

MIP: És uma pessoa exigente com a música que fazes e tudo à volta da mesma?
Tekilla: Sem dúvida, se eu te disser que mesmo depois do álbum estar feito ainda queria acrescentar mais temas e mudar mais músicas… chegas a uma altura de tanto ouvir e de tanto alterar que esqueceste do timming e do resto do processo que é desenvolvido à volta do mesmo e que de certa forma requer tanto tempo como o álbum e precisas de definir e respirar a atualidade. Se não começas a sentir uns temas mais atuais e outros mais velhos… são factores que fazem de mim o artista que sou hoje…Perfeccionista!

MIP: Quais as tuas referências musicais?
Tekilla: Inúmeras…Detroit é uma grande referência mas nomes como J.Dilla, Frank-NDank, B.R. Gunnaz, Royce, Elzhi, Slum Village ou Phat Kat mas depois adoro Philladelphia style, The Roots, Freeway, Peedi Crack, Meek Mill, Young Chris, Jhalil Beats, depois NYC Dj Premier, Pete Rock, Nas, Jay-Z, Vado, Styles P, J.Cole, Talib Kweli, Mos Def, Wu-Tang etc de Virginia Clipse, Pharrel, Skillz, Quan da West Coast Nipsey Hussle, TDE (Kendrick, Q ,Soul & Rock, Dom Kennedy, Alchemist,Dilated Peoples, Planet Asia & Rasco, depois Sul Bun B, Outkast, Scarface, Drake, Rick Ross e tudo a MMG entre outros Bone-Thugs-N-Harmony, mas também oiço imenso soul desde Bilal (o meu favorito) a Jhené Aiko, K.Roosevelt, Jill Scott, Erikah Badu, Yuna…oiço também imenso Jazz passo a vida a ouvir Jazz Thelonious, depois Jazz Cubano Tito Puente, Celia Cruz, Compay Segundo, Farrar, José Rizo, Poncho Sanchez, Ray Barretto, Manfredo Fest e outras tantas coisas… aliás rock também oiço e sou fã de Klaxons, curto muito de LCD Soundsistem, The Editors – curti muito do concerto deles no Campo Pequeno -,Friendly Fires, Block Party e tenho estes álbuns todos que mencionei…im a fuckin real collector (just when i like it)!

MIP: Com quem gostavas um dia de gravar um tema?
Tekilla: Epá…sinceramente tinha de ser com a Mary J Blige, Nas ou Adele…de momento se tivesse oportunidade gravaria com qalquer um destes sem olhar para traz ou pensar duas vezes…

MIP: Para quando as apresentações ao vivo do disco?
Tekilla: Já estou a agendar agora para Março. Estarei em Braga no final de Março, ainda ou início de Abril estarei em Lisboa, final de Abril estarei em Espanha, depois voltarei a Lisboa para uma show somente de Tekilla + convidados, e outras datas que ainda estão por ser confirmadas.

«vou lançar uma marca de roupa (…) tenho um programa piloto que quero apresentar à TVI, muito diferente do circuito de programas nacionais»

MIP: Que mais planos tens para o futuro?
Tekilla: Tenho vários já a serem desenvolvidos num dos quais é organização de eventos, coisa que de certa forma sempre fiz com uma equipa mas nada sério e agora estou a dedicar-me seriamente. Um dos eventos irá decorrer já em Março com a parceria da Câmara de Lisboa, será grande e cultural, diferente do costume. Estou a desenvolver merchadising do álbum também, assim como t-shirts, sweats entre outros. Para além disso tenho passado algum tempo em alguns ateliers de designers amigos meus porque vou lançar uma marca de roupa, que já tem nome mas no devido tempo anunciarei, tenho um programa piloto que quero apresentar à TVI, muito diferente do circuito de programas nacionais, onde realmente haverá entretenimento e cultura. Felizmente ideias e contactos não me faltam!

MIP: Curiosidade: porque o nome Tekilla?

Tekilla: Quando comecei a rimar no final dos anos 90 tinha um grupo com o Shor (Miguel D´almeida) que

era Gold & Killa que por sua vez quando comecei a fazer as minhas músicas a solo acrescentei as iniciais do meu nome TE (Telmo Edgar) ao restante do nome e assim formei Tekilla, aliás todas as referências até hoje foram associadas à bebida coisa que não sou muito fã e que infelizmente ainda há muita gente a pronunciá-lo mal…é Tekilla “illa mesmo” não “ilha”. (risos)

MIP: Qual a tua opinião sobre o hip-hop atualmente em Portugal?
Tekilla: Neste momento creio que está com saúde, respira-se hip hop, faz-se boas coisas, há um número vasto de miúdos que estão a desenvolver a arte tal e qual como era, estão a seguir a essência e isso é óptimo.

MIP: Que conselhos podes deixar a jovens que ambicionem ingressar no mundo da música, mais propriamente na área do hip-hop?
Tekilla: O meu conselho é muito simples e direto: já que não viveram os anos dourados que foram os 90 então que pelo menos façam uma pesquisa e tentem perceber um pouco da cultura, para que se um dia tiverem que desenvolver, saber qual a direção que querem seguir e não seguir apenas por febre, por moda ou algo do género. As roupas ou a imagem jamais serão referência para aquilo que tu és, fazes ou pelo menos tentas seguir.

”Erro Perfeito” ouve, cultiva e partilha!

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