Home   /   Sem categoria  /   Entrevista | Yesterday «Não sei se é um disco diferente no âmbito do panorama musical nacional, mas é subtilmente diferente no meu próprio percurso»
Entrevista | Yesterday «Não sei se é um disco diferente no âmbito do panorama musical nacional, mas é subtilmente diferente no meu próprio percurso»

Yesterday é o projecto de música a solo de Pedro Augusto. Em 2006, foi vencedor do Festival Termómetro Unplugged, participou na compilação Novos Talentos FNAC 2012 e, nesse mesmo ano, venceu também o prémio Jovens Criadores.

7 de Abril de 2014 é a data de lançamento online do seu sexto álbum, The Waiting. Este disco será editado digitalmente e disponibilizado gratuitamente a partir dessa data em http://project-yesterday.bandcamp.com .

O Made in Portugal esteve à conversa com o mentor do projecto Yesterday que nos falou do projecto, do disco”The Wating” e do futuro.

MIP: Para iniciar, começa por nos falar do projeto Yesterday. Como surgiu?
Yesterday: O projecto surgiu da possibilidade de estruturar os sons que desde sempre fui criando em pequenos excertos. Quando tive possibilidade de os começar a gravar em casa, por volta do ano 2000, surgiu também, naturalmente, o sentimento de que deveria de haver uma identidade por detrás das músicas, que se resumisse numa palavra – Yesterday, foi e continua a ser, tal palavra. No início, a intenção era ter uma banda, como muita gente que cresceu nos anos 80 e 90, mas o processo de composição era para mim tão forte, que só se podia ter tornado num projecto a solo.

«o foco do meu trabalho é a composição e gravação e não nas actuações ao vivo»

MIP: Como te defines enquanto músico?
Yesterday: Honesto, no sentido de não ter qualquer dúvida de que aquilo que apresento é o resultado do melhor que eu, para mim, poderia ter feito de acordo com os recursos que tenho e o momento em que estou – que é também o momento em que estes temas fazem ainda sentido. Sou também um músico que me isolo, no sentido que o foco do meu trabalho é a composição e gravação e não nas actuações ao vivo. E, em geral, os meus temas confundem muito um sentimento pacífico com melancolia – a paz é sempre melancólica. Por isso, fascinam-me mais as coisas abandonadas e em ruínas do que os ambientes humanos.

MIP: Quais as tuas influências musicais?
Yesterday: Confesso que não sou grande ouvinte de música. De tempos a tempos descubro algo que me atinge directamente, no bom sentido. E essas músicas isoladas não são uma influência, no sentido de eu ter partes semelhantes na minha música, mas podem transmitir-me um sentimento que acaba traduzido num tema meu. Um tema transversal para mim é do Eric Satie, a Gnossienne nº1. Mas é claro que cresci a ouvir Cranberries, Radiohead, Pj Harvey, Bjork, Iron and Wine, etc.

«Não sei se é um disco diferente no âmbito do panorama musical nacional, mas é subtilmente diferente»

MIP: “The Waiting” é o teu novo disco. Fala-nos deste disco. O que podemos encontrar de diferente neste novo disco? O que ‘fala’ o disco?
Yesterday: Este álbum fala de esperar e não saber bem o quê. A palavra importante que se revelou logo no início, quando as primeiras músicas surgiram e ainda não havia ideia de disco, foi “esperar”, “waiting”; e foi algo que se arrastou durante estes anos. No disco encontram-se temas novos, mas também outros que eu já tinha composto há muitos anos atrás, mas que só agora fizeram sentido e só agora consegui gravar. Tem, por isso, o lado electrónico das experiências que fui fazendo com o tempo, mas é também um voltar aos temas que surgiram no piano ou na guitarra. Não sei se é um disco diferente no âmbito do panorama musical nacional, mas é subtilmente diferente no meu próprio percurso porque todos os meus trabalhos estão muito presos ao tempo e espaço em que foram feitos – cada álbum é uma paisagem.

MIP: “The Waiting” teve muito tempo de espera até ver a luz do dia ou foi um disco que a pouco e pouco foste preparando?
Yesterday: Considero que 3 anos não marcam um período extenso para que um disco seja feito. Se for o resultado de um processo de digestão, reflexão… não há um tempo standard para a criação de um álbum – sabe-se instintivamente quando ele está pronto. Podem, no entanto, haver distracções no percurso, que se revelam destrutivas. Para este álbum, a chama não se deixou afectar por muitas dessas distracções e, por isso, foi um processo relativamente rápido.

MIP: O disco é da tua total autoria. Desde a composição dos temas, à realização de videoclip’s e ainda à parte do design da capa do disco. Todos estes processos tem sido muito trabalhosos? Com que obstáculos te tem ‘debatido’?
Yesterday: Quando sabemos o que queremos, o difícil não é o querer fazer, mas, sobretudo, como fazer. O tempo é uma questão fundamental – quanto menos tempo disponível, mais tenho que me concentrar naquilo que quero fazer. A parte técnica é também, por vezes difícil – há sempre algo que corre o risco de não funcionar. E, conceptualmente falando, a própria composição é também difícil (mas o mais entusiasmante): por vezes, um tema revela-se com todas as suas características e o difícil é torná-lo real, ou por falta de meios ou porque, mesmo que o resultado final tenha todas as componentes do que estou a escutar em mim, parece continuar a faltar algo e a música continua a não resultar.

«Estou sempre a compor»

MIP: Para além do lançamento do disco a 7 de abril, que mais planos tens para o futuro? Concertos?
Yesterday: Já tenho um novo álbum na cabeça. Estou sempre a compor. Calculo que, dentro de uns tempos, comece a trabalhar nele. Em termos de divulgação, planeio ainda pequenas e poucas apresentações ao vivo, porque gostaria que o foco fosse mesmo o álbum enquanto conjunto de temas que ofereço.

MIP: Como defines actualmente a música em Portugal?

Yesterday: Acho que quando falamos de “música em Portugal”, temos tendência a falar no estado do

mercado musical. Nesse sentido, acho que os meios de divulgação estão a apostar cada vez mais em projectos nacionais; o que significa também que esses projectos têm que ter um orçamento disponível para poder fazer essa divulgação, o que não é possível para todos. Acho muito mais interessante os que estão na sombra e que aí querem permanecer – até porque a possibilidade de divulgação, recursos financeiros ou técnicos não estão, nem nunca estiveram, directamente ligados a qualidade musical. Acredito que poderíamos ficar completamente abismados com uma gravação ruidosa e “riscada” de um telemóvel, se o aceitássemos enquanto tal. Talvez seja esse o meu plano de futuro.

Acompanhe o projecto Yesterday em: facebook.com/pages/The-Waiting-new-album-by-Yesterday
Related Article