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Eurovisão: Venceu a diferença mas não a música
Há um ano atrás Portugal estava em festa.
Era o Papa de visita ao Santuário de Fátima, era o Sport Lisboa e Benfica a celebrar o seu 36.° título de Campeão Nacional e era a vitória de Portugal, pela primeira vez, no festival da Eurovisão, pela voz de Salvador Sobral.

Precisamente um ano depois o País está (novamente) em festa!

O Papa não regressou a Portugal mas milhares de fiéis regressaram a Fátima. Em vez do Benfica este ano o Campeão é o Futebol Clube do Porto, e face à vitória inédita a 13 de maio de 2017 de Portugal na Eurovisão, este ano, o grande evento europeu de música realizou-se na capital portuguesa, Lisboa.

Apesar desta 63ª edição do Festival ter o investimento mais baixo (cerca de 20 milhões de euros) desde 2008, altura que se passou a realizar duas semi-finais, o investimento baixo em nada deixou a desejar na produção/organização. Com pouco fizemos tanto como os outros países que tem vindo a ser anfitriões.

O maior desafio, nomeadamente para os participantes, foi repensar na sua performance em palco, nomeadamente aquelas atuações mais visuais, pelo facto de não ter havido recurso a LED. Mas todos os efeitos especiais e de luzes em nada deixaram aquém o espetáculo!

“Isto significa que todos os países tiveram de de pensar duas vezes. Foram todos muito imaginativos e talentosos e colaboraram uns com os outros para se definir o que acontece em palco, de forma a que cada música tenha a sua própria identidade” – referiu o produtor sueco do Eurovision Song Contes, Christer Björkman.

Eurovisão - apresentadoras - rtp -

Eurovisão [RTP]

 

O festival da Eurovisão foi sempre bem conduzido pelas 4 apresentadoras portuguesas (Daniela Ruah, Catarina Furtado, Sílvia Alberto e Filomena Cautela).
É sempre mais fácil criticar do que elogiar. E nós, povo português, bem o sabemos. Aqueles que quiserem criticar ou fazem-no pela escolha dos vestidos, pelos decotes, pelas gafes do inglês ou a má prenuncia… Eu prefiro enaltecer o profissionalismo e a dedicação.

Mas quanto à grande final da Eurovisão transmitida em dezenas de países para cerca de 200 milhões de pessoas:
se há um ano atrás Portugal sangrava-se o grande vencedor, este ano foi o grande derrotado. A canção “O Jardim” de Carolina Pascoal e Isaura foi a última classificada com 39 pontos, sendo a pior classificação portuguesa desde que existem semi-finais.

Se nesta edição se falou e elogiou imenso a variedade de estilos musicais e o facto dos participantes cantarem mais nas suas línguas maternas, eis que a canção vencedora (“TOY” – Netta, Israel) é um balde de água fria para a mudança que se falava deste festival.
Tal como o humorista Nilton escreveu no facebook “A vitória do Salvador Sobral foi só uma pausa. A Eurovisão voltou a ser um festival pimba”.

E se há um ano atrás Salvador Sobral, após receber o prémio de vencedor, dizia:
“A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto. É altura de trazer a música de volta”, eis que esta mudança só durou um ano. 

Salvador Sobral e Netta

Salvador Sobral e Netta

A canção vencedora interpretada por Netta, fez-me desde sempre lembrar “Gangnam Style” do coreano PSY. É que é daquelas canções com muito ritmo mas depois de exprimido a canção não transmite nada. São apenas palavras soltas cantaroladas e dançáveis. Isto é a tal música “‘fast-food’ sem qualquer conteúdo” que Salvador se referiu há um ano atrás… Mas ressalva para a ousadia e a personalidade de Netta. Em suma, ganhou a diferença, tal como o ano passado… Mas não a música.

Pareceu karma ver Salvador Sobral entregar o prémio à canção que ele definiu como “horrível” uns dias antes da final.

Gostos musicais à parte, o que fica para a história é o ter-se realizado em Portugal um evento que há pouco mais de um ano atrás ninguém acreditaria que se realizasse no nosso país. Fica uma vez mais comprovado que este pequeno país à beira mar plantado sabe organizar e bem receber. E independentemente de quem ganhe, há festa até de madrugada (com boa ou má música).

Texto: Daniela Henriques
Fotos: DR

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