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Faleceu Eusébio: reações dos músicos portugueses
Eusébio da Silva Ferreira, antigo futebolista do Benfica, morreu na madrugada de domingo em Lisboa aos 71 anos de idade, vítima de paragem cardiorespiratória.

O funeral vai realizar-se esta segunda-feira, às 17h, no cemitério do Lumiar, uma hora depois de a missa ser celebrada na Igreja do Seminário, no Largo da Luz. Às 13h30, está prevista uma volta ao Estádio da Luz, saindo depois em cortejo fúnebre, rumo à Praça do Município.


Através das redes sociais muitas tem sido as reações de vários músicos no adeus ao Pantera Negra.

O dj Diego Miranda mostrou o seu pesar partilhando uma foto do jogador Português Eusébio, tal como Boss AC, Carminho, entre outros.
«Imortal» foi a palavra com que António Zambujo legendou uma imagem do “King”. A banda Blind Zero referiu que «Portugal perdeu um dos seus maiores ícones», já o fadista Marco Rodrigues legendou uma imagem do Pantera Negra mencionando que «Os grandes ícones são eternos».
Rita Redshoes, filha do antigo jogador Carlos Pereira, partilhou uma imagem do seu pai com Eusébio.
A cantora Rita Guerra referiu que o antigo jogador do Benfica é «uma lenda que deixa saudades aos adeptos de futebol e não só».
Paulo Furtado músico e cantor do projeto Legendary Tigerman partilhou uma foto de Eusébio enquanto jogador com a legenda «Descansa em paz», tal como Paulo Gonzo, Luiz Caracol e Pete Tha Zouk.
«Grandioso futebolista, excepcional ser humano» foram as palavras de Pitt Broken. A fadista Mariza legendou uma imagem dizendo «Hoje canto por Ti».
O cantor Tony Carreira exprimiu-se dizendo que se perdeu «uma das maiores, senão a maior referência de sempre do Futebol Nacional».
A fadista Cuca Roseta prestou a sua homenagem mencionando que Eusébio foi «um dos maiores Embaixadores do bom nome de Portugal além-fronteiras. Sem olhar a clubes ou cores, este jogador foi de todos nós». Jimmy P, rapper Portuense referiu que se perdeu «um dos melhores futebolistas e um dos maiores símbolos que alguma vez passaram pelo futebol português».
O cantor João Pedro Pais partilhou uma foto ao lado do Pantera Negra referindo sentir «a sua partida como se nos tivéssemos encontrado e falado toda uma vida.»

Outros músicos mostraram o seu pesar alongando-se nas palavras e partilhando algumas histórias.
O cantor Rui Veloso recordou a noite em que cantou para Eusébio:
«Recordo uma noite passada no Restaurante A Paz, na Ajuda há uns 20 e tal anos, que era uma sua segunda casa, com o nosso amigo António, que também já nos deixou. Lá pró fim da noite, alguém apareceu com uma guitarra (chamar guitarra àquilo, vai lá vai..) que eu tentei afinar. A dada altura começo a tocar um tema meu de que o Rei gostava chamado “Irmã África”. De repente caio em mim e vejo que estou a cantar para o meu primeiro ídolo de sempre, os meus olhos deviam brilhar. E, incrédulo, a ver à minha frente o Eusébio a dançar e a cantar comigo. Sim, porque ele cantou e dançou! Não havia telemóveis, estaria seguramente, se fosse nos dias de hoje, bastamente registado o momento…nem uma foto há porque, como era normal, a malta não andava de maquina fotográfica. Fica na memória de quem viveu esse momento. O Rui do bairro Familiar, que jogava no largo com os amigos, esteve n´A Paz, nessa noite, fascinado, a cantar e a tocar com o inesquecível Eusébio…»


“O elogio da Pantera” foi o texto escrito por António Manuel Ribeiro, vocalista dos UHF:
«Quando eu era miúdo os heróis da nação, o rei Afonso Henriques ou o D. Nuno Álvares Pereira, condestável do reino e o meu preferido, eram os personagens em destaque pelos feitos revelados naquela história ajeitada, mas o único exemplo vivo e glorioso viera de Moçambique, corria como ninguém, marcava como poucos e afirmava a alegria feita futebol. Chamava-se Eusébio da Silva Ferreira e partiu hoje.
Numa altura em que Portugal fazia de Albânia de sinal contrário, fechada sobre si e erradamente teimosa – ‘quem não é por nós está contra nós’ ou ainda ‘o orgulhosamente sós’, enquanto houvesse carne jovem para canhão –, Eusébio cruzava a fronteira fechada e mostrava ao mundo que o Benfica e a selecção portuguesa possuíam um diamante único, um hino ao mais puro que o futebol tem: querer, fazer e marcar. 
No cinzentismo dos pinguins que governavam a nação, Eusébio era a fantasia que dominava todos os jogos entre miúdos.
Tive a honra de o conhecer por altura do lançamento da canção “Sou Benfica”, no Verão de 1999, na apresentação à imprensa desse disco, onde o António Sala foi um mestre-de-cerimónias à Benfica. Pude então apresentar o Eusébio ao meu pai, com quem tirou uma fotografia ainda hoje exposta na casa da minha mãe – o meu pai partiria em Dezembro desse ano.
No início do novo século, o João Malheiro conduziu uma série regular de almoços na Costa de Caparica numa tertúlia Benfica/Sporting que reunia antigos jogadores, treinadores, artistas e gente da rádio e TV. 
Foi um privilégio pertencer a este grupo e conhecer melhor ‘os homens da bola’. Por lá passaram Fialho Gouveia, Hilário, Manuel Bento, Fernando Tordo, maestro António Vitorino d’Almeida, Artur Correia, Carlos Cruz, Mário Wilson, Vítor Damas, Manuel José, Chalana, Eusébio e João Malheiro, entre outros. Testemunhei o sofrimento da Pantera fora das quatro linhas numa altura em que o Benfica voava baixinho, desorganizado e perdedor. Sentado ao lado da cabine dos suplentes, Eusébio torcia uma toalha branca por desespero enquanto a bola evitava a baliza contrária.
Havia uma canção que acompanhava o hino “Sou Benfica”, chama-se “Águias de Fogo” e começa assim: ‘O rei Eusébio’. E está tudo dito.»

Já Pedro Abrunhosa recordou a tristeza de Eusébio e de todo o País no Mundial de 1966 em que a selecção Portuguesa foi eliminada nas meias finais pela Inglaterra.
«Com os pés fez sonhar todo um país, e todo um país chorou com ele quando a frustração o avassalou em 1966. Foi das muitas formas de alma com que Portugal se apresentou ao Mundo. Cruzei.me fugazmente com ele duas vezes nas sombras dos bastidores de programas de televisão e, ainda assim na penumbra, da sua escura pele brotava uma luz de vencedor. Rendi-lhe então a minha homenagem do menino que fui e que vibrou tantas e tantas vezes com os seus dribles, os seus passes mágicos de bola, os seus golos. Humilde, como só os Grandes conseguem ser, apercebi-me de que revivia cada momento de glória, cada aplauso da imensa multidão que sabia trazer por dentro, como se ali, naquele proscénio esconso, se soltasse de novo a Pantera e trocasse as pernas aos branquelas ingleses. Sempre o acompanhei ao longe e é de longe que lhe digo ‘Adeus e Obrigado, Eusébio’, nome que Portugal também escolheu para levar mais alto a imensidão que lhe falta em território.»

José Cid recordou o momento em que jogou com o “King”:
«Jogámos juntos contra o Brasil com Pelé pela equipa da Unicef no estádio do Restelo! 
“Vá você lá para a frente, que os seus colegas são uns nabos” dizia eu e ria…  Eusébio amigo, a vida é uma passagem e os teus 70 anos são um segundo na eternidade! Só espero que depois haja sol praias com palmeiras (como em Moçambique ) música reggae, cubas libres e umas giraças a alegrar o nosso horizonte! Até já grande amigo!»


O fadista Rodrigo Costa Félix partilhou no facebook uma foto na companhia da sua esposa, Marta Pereira da Costa ao lado de Eusébio, recordando que o Pantera Negra era um amante do fado:
«Hoje perdemos um ícone do desporto nacional, talvez o maior e o que mais visibilidade trouxe a Portugal, num tempo sem internet nem globalizações várias. Era também um amante de Fado e frequentador assíduo do Clube de Fado. Não seria perfeito, como ninguém é, mas era um símbolo de simplicidade, humildade e dedicação que faz falta a este país onde estes exemplos vão rareando. Até sempre, Eusébio!»

A cantora Mafalda Veiga partilhou no seu facebook um postal autografado por Eusébio, recordando:
«Este postal já mudou de casa connosco umas vezes. Foi oferecido por ele ao meu filho Tomás há uns anos num restaurante em Lisboa onde foi almoçar com o meu pai e onde o Eusébio costumava ir com amigos. Ele contou-me que foi muito envergonhado pedir-lhe um autógrafo com um papel na mão e que o Eusébio lhe disse “aí não, pá”, tirou este postal do bolso do casaco, assinou-o para ele e despediu-se com um sorriso e um aperto de mão. Para o Tomás, que tinha 8 ou 9 anos, foi um encontro inesquecível. Para o meu pai, que estava a assistir na mesa ao lado, e que era grande admirador do Eusébio, também. Que descanse em paz.»

A fadista Ana Moura referiu no seu facebook:
«No tempo em que os portugueses tinham os pés presos ao chão pela pobreza, pela ditadura e pela guerra, voaste e levaste Portugal contigo. Trouxeste sonho ao país. Juntamente com a nossa imensa Amália ensinaste-nos a levantar a cabeça perante o Mundo. Obrigada pela magia e pelo exemplo. Descansa em paz.»


Também a fadista Kátia Guerreiro deixou o seu pesar à perda do antigo jogador do Benfica recordando:
«Fazia 65 anos nesta foto o rei Eusébio, e eu fui ao Estádio da Luz para lhe cantar os parabéns.
Eu que sou uma sportinguista confessa, não podia perder a oportunidade de homenagear este ícone do desporto. Foi comovente.
Há cerda de dois anos cruzei-me com Eusébio num elevador de um hospital e o seu sorriso era aquela timidez e simplicidade que todos conhecíamos. Até sempre Eusébio da Silva Ferreira!»


A Sociedade Portuguesa de Autores também prestou a sua homenagem através do facebook partilhado o poema “Eusébio: Requiem por um Rei que parte” de José Jorge Letria:

«Rei que eras, partiste na véspera 
do dia de todos os reis,
já sem esplendor na relva,
em trono de magoada saudade,
com essa coroa de lágrimas
que faz brilhar o rosto
de quem tantas vezes nos fez felizes.
Ficam em silêncio as estrelas 
e as sirenes dos barcos e das fábricas.
Tudo se cala para, com vénia, te dizer adeus.
E eu o que direi agora aos filhos e aos netos
depois de tantas vezes te ter chamado
sinónimo de glória, nos instantes em que o golo
era a conquista maior de um génio 
de voo tão largo como o das águias ?
Há um Portugal triste que hoje se ergue
para te dizer que vela pela tua memória,
pelo teu lugar no panteão dos deuses terrenos,
pelo fulgor da tua imagem iluminando os estádios.
Até na morte nos engrandeces, Eusébio,
nosso irmão universal, quando olhas para o fundo das redes
e dizes: “Eu juro que havemos de vencer,
em Wembley ou onde quer que seja !”
Curva-se o mundo, que é muito mais que a cobiça dos mercados,
ante o teu nome trabalhado a ouro
nas colunas largas do arco de todos os triunfos.
E quantas vezes a abnegação te doeu e te fez chorar,
e quantas vezes Portugal chorou contigo
por achar que merecia mais do que o destino lhe queria dar,
e quantas vezes tu choraste baixinho
por não nos quereres privar da alegria de vencer,
e quantas vezes eu chorei no ombro do meu pai
por sentir que ninguém tinha o direito de ferir as tuas asas ?
Nós estávamos lá, no estádio, e sofríamos contigo,
amor antigo que o tempo não deixou prescrever.
Vai agora em paz, Eusébio, que a Luz
ergue-se brava e estóica para te deixar partir,
embora te guarde para sempre no cofre 
de um coração sofrido. Vai em paz, Eusébio,
que nós sabemos que tu moras onde mora a Luz,
residência certa dos heróis, das lendas e dos sonhos.»

 

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