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Festas Populares: a história das concertinas
Festas Populares - a história das concertinas
(Nerijus Juras / Shutterstock)

concertina, como a conhecemos, é um instrumento musical popular cujo primeiro exemplar se acredita ter tido a sua origem na Europa, em meados do séc. XIX. 

No entanto, os antepassados deste instrumento remontam ao ano de 2700 a.c. no qual surge, na China, o cheng, que se acredita que seja o instrumento musical que terá dado origem à concertina de hoje.

Em Portugal, as concertinas fazem, desde os finais do séc. XIX e início do séc. XX, parte do folclore e da música popular portuguesa.

Sendo o nosso país um país de migrantes, de pessoas que partem para outras paragens para aí procurarem melhores condições de vida, a cultura, e mais propriamente a música popular, sempre tiveram um papel fundamental na união e coesão dessas comunidades onde quer que se instalassem.

Sabe que nesse mesmo período, as concertinas animavam os porões dos navios portugueses que rumavam ao Brasil durante viagens que podiam demorar várias semanas.

Mas o que é, concreta e tecnicamente, uma concertina?

A concertina é um instrumento musical do grupo dos aerofones, ou seja, o seu som resulta da passagem do ar através de uma palheta de metal.

Contém ainda um fole e duas fileiras de botões sendo que, para cada um deles, correspondem duas notas, conforme o fole é acionado para fora ou para dentro pelo músico fazendo com que a deslocação do ar que passa pela palheta de metal produza o som que nos é, a praticamente todos, familiar.

Semelhante ao instrumento que hoje conhecemos como acordeão, a concertina é deste uma evolução já que o acordeão possuía um sistema uni-sonoro, isto é, cada um dos botões produzia apenas uma nota musical independentemente da direção para onde se acionava o fole. Este instrumento tinha o nome de acordeão cromático.

Breve história das concertinas

Este primeiro modelo de acordeão surge na Alemanha do início do séc. XIX e consiste, na sua forma mais rudimentar, em duas peças de madeira, unidas entre si através de um fole e cujo movimento faz acionar uma palheta de metal, produzindo som.

Mais tarde a sua forma e o seu conteúdo viriam a sofrer transformações que estão hoje presentes nas concertinas que conhecemos. As suas partes laterais passaram a ter uma forma hexagonal e o instrumento passou a ter uma característica diatónica (duas notas para cada botão) facto que lhe atribuiu uma das suas designações, acordeão diatónico.

Estes melhoramentos estéticos e funcionais colaboraram na afirmação das concertinas nas festas tradicionais um pouco por toda a Europa central. A grandeza do aparelho industrial alemão facilitou a sua produção massiva e a sua distribuição pelo velho continente.

A Primeira Guerra Mundial também desempenhou o seu papel nesta disseminação da concertina pela Europa já que muitos soldados a transportavam e tocavam, nos seus tempos livres, para aliviar o stresse, o sofrimento e a ansiedade provocados pelos períodos de combate.

Há historiadores que defendem que os soldados portugueses que participaram na Primeira Guerra Mundial contribuíram significativamente para a afirmação da concertina enquanto instrumento popular em Portugal, no entanto, foi a emigração da população da região do Minho em meados do séc. XX que fez com que, até hoje, a concertina fosse o instrumento preponderante nas festas populares e ranchos folclóricos daquela região do norte do país.

Também conhecido por harmónico ou harmónio de duas carreiras em determinadas zonas de Portugal como a Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Douro Litoral; a concertina deve o seu nome ao seu inventor inglês Charles Wheatstone, na primeira metade do séc. XIX.

Este instrumento teve o seu momento de maior difusão no seio do folclore português no início do séc. XX, tendo vindo substituir gradualmente os instrumentos musicais que então se utilizavam, em maioria, nas festas e arraiais populares como, por exemplo, guitarra portuguesa, flautas, pífaros, gaita-de-foles, etc.

Esta disseminação da concertina pelo espectro folclórico português teve consequências quase irreversíveis. A sua sonoridade muito específica fez reduzir todo o vasto repertório tocado nas festas populares de então, a meia dúzia de canções que, por caírem nas graças do povo, começaram a ser tocadas exaustivamente retirando espaço aos temas que eram tocados anteriormente e, por consequência, aos instrumentos anteriormente tocados e aos seus instrumentistas.

Numa perspetiva mais atual, desde a década de 90 que temos assistido a um ressurgimento do gosto popular pela concertina, algo que se generalizou um pouco por todo o país, mais concretamente, nas festas populares e ranchos folclóricos.

Não obstante, esta dinâmica expansiva da concertina teve, para alguns críticos desta matéria, consequências algo discutíveis.

Onde quer que se ensinasse este instrumento, os temas aprendidos eram maioritariamente os de origem popular minhota facto que fez com que se desvanecesse um pouco a identidade cultural de algum desses temas, já que passaram a ser tocados, de uma forma pouco criteriosa, um pouco por todo o país.

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