Falei com INÊS APENAS, pianista, cantora e compositora de 26 anos sobre memórias de infância, a sua relação com o piano, a experiência no Festival da Canção e ainda a preparação do seu primeiro álbum.
Escrito por: Vasco Reis
O que anda a ouvir/ Influências Musicais: Charli xcx, WILLOW, EU.CLIDES, ProfJam PinkPantheress e Drake
Curiosidade: Tem muita dificuldade em estabelecer relações com animais desde criança, não sabe bem explicar porquê. não é por fobia ou insensibilidade, mas talvez se deva as experiências de infância que a marcaram. Chegou a ir a sessões com uma psicóloga por causa disto. Quando era mais nova tinha um peixe e matou-o sem querer ao dar-lhe demasiada comida e foi mordida por um cão que a deixou com a mão praticamente roxa e levou um sermão da mãe por causa disso.
INES APENAS é o nome artístico de Inês Oliveira da Costa, não porque tenha decidido cortar relações com a família, mas sim por vontade de criar uma coisa à parte da sua vida pessoal e, portanto, decidiu pegar no nome que tinha criado para a sua conta de Instagram e usou-o para criar a sua persona musical “Quis que fosse uma coisa visualmente atrativa, que chamasse à atenção”, revela Inês. Embora tenha vivido a maior parte da sua vida em Portugal, INÊS nasceu em França e ainda viveu lá 3 anos. Lembra-se de pouco, mas as poucas memórias que tem são musicais. Recorda-se de ouvir muita música francesa no carro e embora não percebesse a língua na altura, já cantava algumas palavras. “Os meus pais na altura em vez de me mostrarem música portuguesa, mostravam-me música francesa”, conta. Hoje, com 26 anos, já domina a língua, embora admita que percebe mais do que fala.
De Paris veio para Leiria, onde deu os seus primeiros passos na música. Aos 10 anos foi para o conservatório, o Orfeão de Leiria e por falta de vagas para o curso de guitarra, acabou a ter aulas de piano. Embora ao princípio tenha rejeitado este instrumento, a verdade é que acabou por adorá-lo. “Acabei por perceber que era um instrumento com muitas opções e eu gosto disso, gosto de um instrumento que não seja muito limitado,” revela INÊS. Gostou tanto, que foi até ao último grau de ensino, o 8.º e, terminado o curso, fez provas para tirar uma licenciatura em piano clássico e entrou. De Leiria foi para o Porto, mais concretamente para a Escola Superior de Música e artes do espetáculo. Se não tivesse ido para música, Inês diz que talvez tivesse seguido filosofia, disciplina que adorou no secundário, ou Relações Internacionais, mas nunca para Saúde, porque sangue não é com ela.
Cantar também não era com ela, pelo menos não quando saiu de Leiria para o Porto, mas já a concluir o curso percebeu que só o piano não a estava a satisfazer e como tal resolveu tirar um curso de canto jazz no Conservatório de Música do Porto. INÊS revela que sempre se viu mais como uma songwriter do que como uma cantora. Não por não saber cantar, mas por não considerar que tenha uma grande projeção e amplitude vocais, características que, ainda que reconheça que seja algo estereotipado, associa a uma performer. Hoje já se sente mais cantora e mais confortável a interpretar as suas músicas em palco, mas foi um processo que demorou algum tempo. “Sinto que só agora é que tenho uma presença em palco de que minimamente me orgulho”, confessa.
Algo que certamente ajudou foi a sua participação no Festival da Canção do ano passado. INÊS participou com a música “Fim do Mundo” e não ganhou, mas chegou à final. Fala sobre a experiência como uma “chapada de realidade” uma vez que não tinha qualquer experiência em televisão e tinha dado 2 ou 3 concertos em toda a tua sua vida. Como tal, sentiu uma pressão horrível e apesar de se orgulhar da música que fez e levou ao festival, fica grata por não ter ganho. “Eu tive pesadelos em que ganhava e ia representar Portugal e estava tipo, não, por favor, escolham outra pessoa”, conta a artista. No entanto, reconhece que foi uma plataforma muito importante para a sua carreira, quer seja para ganhar seguidores, como para conhecer outros artistas como Bárbara Tinoco e Ivandro. Um ano depois olha para sua participação no festival como uma experiência de superação própria.
A canção que levou ao festival está incluída no segundo EP de INÊS “Leve(mente)”. Um EP que conta com influências de vários géneros musicais, desde o Reggaeton ao Drum and Bass, várias colaborações com artistas portuguesas como LEFT e Malva e ainda uma colaboração com a artista espanhola SOLUNA. Entretanto, já lançou também um terceiro EP, chamado “acústico” que conta com versões acompanhadas com piano de músicas que já tinha lançado antes, bem como a versão original de uma das músicas mais bem-sucedidas da artista, “Leiria Não Existe” que, segundo a própria, foi a canção mais rápida que escreveu, em apenas 15 minutos. Sente orgulho de todas as músicas que lançou, mas confessa que a já ouviu mais é a “Tensa” com Malva. Antes destas músicas serem publicada, além do feedback de todas as pessoas ligadas à música, INÊS conta também com a opinião da sua família e o seu grupo de amigos mais próximos, que nem sempre é positiva. “Muitas músicas que eu lancei, houve amigos meus que disseram que estavam um bocado repetitivas. Mas eu gosto mesmo das músicas que lanço, então eu mando só mesmo por mandar, só para saber uma opinião aqui e ali, nalgumas coisas que eu às vezes mudo”, admite a artista leiriense.
Pela vontade de INÊS ela estaria sempre a lançar música, algo que atribui à sua natureza impulsiva, mas para o seu primeiro álbum, que está a preparar neste momento, diz estar a tomar o seu tempo. “Sinto que este álbum está com um cuidado diferente no que toca a letras e no que toca ao tema. Há uma coerência maior naquilo que eu quero transmitir e as quase todas as músicas são sobre o mesmo tema”, revela. No entanto, esta não é a única diferença que a artista sente na gravação deste projeto em relação aos outros. Além de guardar um maior secretismo e não mostrar as músicas a praticamente ninguém, INÊS diz que há diferenças mesmo ao nível da produção. A cantora conta que em projetos anteriores compunha as músicas ao piano e depois entregava-as a um produtor que ficava encarregue de criar o beat e acrescentar os outros elementos eletrónicos à música. Para este novo álbum, tem sido mais autodidata e tem sido ela a criar os seus próprios beats no seu computador, uma experiência que não sabia que ia gostar tanto como tem gostado. Sem revelar demasiados pormenores sobre este álbum que ainda está por vir, INÊS deixa-nos algumas pistas. No seu álbum de estreia podem ficar à espera de coisas com a voz que a cantora nunca fez noutro projeto e admite que algumas pessoas podem achar inesperadas e uma música alusiva ao país onde nasceu, com algumas expressões em francês.
E se todos estes processos de compor, escrever, produzir e atuar, que fazem parte da vida de um cantor e compositor já ocupam bastante tempo, a verdade é que INÊS ainda consegue arranjar mais algum para dar aulas de música. Neste momento está numa escola onde dá aulas de piano e de voz a crianças e jovens e onde revela utilizar mais como instrumento de ensino músicas pop, de artistas como Ariana Grande, Dua Lipa e Jason Mraz, do que propriamente peças de música clássica mais tradicionais. “Eu acho que é muito importante para todas as pessoas dar aulas, para saberem comunicar com as outras e ensinar às outras, sem nenhum nível de poder, de eu sou melhor que tu ou eu sou teu professor ou professora. Não. É o querer ensinar a ser melhor. Eu acho isso super bonito e acho que toda a gente devia ter essa experiência de explicar a crianças a sua área”, diz INÊS.
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Agenda de Concertos de INÊS APENAS
11 de julho – NOS Alive, Lisboa
2 de agosto – Festival N2, Chaves
5 de setembro – A Anunciar