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Reportagem | Miguel Araújo converte o Tivoli na sua sala de ensaios

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Depois de um ano de estrada, Miguel Araújo culmina a promoção do seu primeiro disco a solo com dois espetáculos em salas emblemáticas das duas principais cidades Portuguesas. Em Lisboa, dia 17 de abril de 2013, foi num renovado Tivoli, bem composto em termos de público, que o músico Portuense entrou sozinho num palco cheio de instrumentos, com um cenário simples em que se destacavam luzes com o formato das iniciais do nome do músico. As letras dos temas, projetadas no estrado do palco, funcionavam como legendas para um espetáculo em que todo o ambiente fazia lembrar uma sala de ensaios.

Com os músicos a entrarem a conta-gotas em cada um dos temas, o protagonista assume uma postura descontraída, sentado com a sua guitarra, a embalar o público com as melodias singelas de “Carolina” e “Canção do Ciclo Preparatório”. No tema “Matérias do Coração”, já com todos os músicos em palco, a harmónica ganha destaque, e é depois deste tema que finalmente Miguel começa uma conversa de amigos com pronúncia do Norte, soltando estórias que se viriam a repetir ao longo de todo o concerto.

Já com a secção de sopros em palco, lança-se para um solo Blues no inédito “Cartório” a sair no próximo disco. Em “Império” Samuel Úria junta-se para um dueto de voz e guitarra. O ritmo acelera com este tema Rhythm & Blues de tom grandioso e os solos de guitarra saem de ambos os protagonistas. Com um coro de vozes, é entoada “Cantiga de Embalar” dos Azeitonas, seguido do primeiro tema sobejamente conhecido dos presentes: “Capitão Fantástico”. Seguiu-se o fado de “E Tu Gostavas de Mim”, composta por Miguel para Ana Moura, com o acordéon  a dar um cheirinho a Santos Populares e as palmas do público a acompanhar.

Apenas com guitarra e violoncelo, é apresentado o inédito melodioso “Jardim”, antes de António Zambujo entrar em palco para interpretar “Lambreta” em dueto, destacando-se a voz, qual trémulo afinado, do convidado neste tema que se situa alures entre o Fado e o Samba. Samuel Úria junta-se ao grupo, e o trio interpreta “Triunvirato”. Com “Rosa da Minha Rua”, Miguel pega no cavaquinho e o som marcadamente popular português invade a sala.

Fizz Limão “inaugura a silly season”, são as palavras que o músico usa para descrever este tema divertido que não deixa ninguém sem um sorriso nos lábios, e que serve brilhantemente para introduzir “Os Maridos das Outras”, sucesso cantado em coro por todos os presentes. Com um arranjo que aposta num crescendo que desagua no refrão colorido, a interpretação conta com solos adicionais e um final épico. A despedida dá-se com o festivaleiro “Autopsicodiagnose”, de sonoridade em que a tradição musical lusitana é uma referência notória. Entre o fado e o corridinho, são as texturas que os diversos instrumentos imprimem na melodia, que torna esta mais uma composição única no panorama nacional português.

O público manifesta-se de forma ensurdecedora, enquanto não sente, os músicos regressarem ao palco. A primeira composição em português do autor “Desdita” é então interpretada à guitarra e apenas com o violoncelo a acompanhar, revelando-se mais um poema de sentimento maior. Já com a banda em palco, lançam-se ao clássico da música portuguesa “Vocês Sabem Lá”, tema dos anos 40 que nos remete para o ambiente Classic Rock, característico da banda com a qual Miguel Araújo saiu do anonimato e se projetou enquanto artista.

A maior surpresa da noite dá-se quando Miguel chama um casal do público para um inédito pedido de casamento em palco, num momento emotivo. Reader’s Digest é o bailarico mais do que apropriado que se segue e que marca o fim da festa.
Com este concerto Miguel Araújo consagra-se definitivamente como um dos melhores compositores Portugueses da atualidade, deixando as melodias saírem e convocando os músicos que as melhor conseguem colorir para as interpretar. Entre os ambientes Anglo Saxónicos do Country e Blues, e os sons tipicamente Portugueses, consegue encontrar um equilibrio que oferece aos ouvintes uma experiência de fusão entre estas sonoridades. Se com os Azeitonas move-se num Universo mais Pop, esta sua carreira paralela permite-lhe explorar sonoridades menos comerciais, mas nem por isso menos interessantes, demonstrando a sua versatilidade enquanto compositor e intérprete, características pelas quais iremos concerteza continuar a ouvir falar dele.

Texto: Pedro Pico
Fotos: Diana Marques

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