Na noite de 6 de Novembro é bem provável que o público que se dirija ao cinema São Jorge assista a um dos mais originais concertos de música portuguesa do ano. Em palco, estarão os Deolinda e os Gaiteiros de Lisboa, não para atuações separadas ou sequer para uma colaboração pontual, mas para uma celebração conjunta da música de duas das mais respeitadas e aplaudidas unidades criativas da música popular portuguesa dos últimos anos.

“Desde o primeiro encontro entre os dois grupos, logo ressaltou a ideia de criar uma banda conjunta”, conta Rui Vaz dos Gaiteiros de Lisboa. “Na verdade”, prossegue, “desde a participação da Ana Bacalhau no nosso último disco e mesmo bastante antes, os dois grupos já estavam ligados por relações de amizade e apreço mútuo que nos faziam ansiar por este encontro”. Na opinião do membro dos Gaiteiros de Lisboa há várias coisas que unem os dois grupos, nomeadamente uma assumida paixão pela raiz portuguesa, um nítido sentido de humor e a capacidade de investir em novas formas de impacto em espetáculo sem para isso precisarem de constantemente recorrer a instrumentos eléctricos.


“Admiramos os Gaiteiros há muito”, refere José Pedro Leitão dos Deolinda. “A Ana já tinha cantado no último disco deles pelo que as ligações eram fortes”. E o método encontrado para estruturar este espetáculo foi ele mesmo muito original, como explica o músico dos Deolinda: cada uma das bandas escolheu 10 músicas do reportório da outra banda. “E depois começámos a trabalhar os arranjos, misturando ao máximo as bandas e os reportórios. Os arranjos”, afirma ainda José Pedro, “estão muito avançados”.


De facto, do encontro de dois grupos tão importantes, apesar de muito diversos em termos de percurso, só pode resultar algo de original. Tanto os Gaiteiros de Lisboa como os Deolinda são grupos de sucesso, embora em escalas diferentes, e ambos possuem um trabalho que tem merecido os mais rasgados elogios da crítica.

“Após uma primeira conversa, começaram a surgir ideias de ambos os grupos que conseguiram surpreender tanto os Gaiteiros como os Deolinda. Quando os ensaios começaram em Setembro assistiu-se a um boom de criatividade que levou a uma produção de 12 temas em conjunto (num total de 20) + 1 tema que cada grupo irá fazer do outro. O espetáculo ficará completo com com dois blocos a solo em que cada grupo interpretará três canções”, revela Rui Vaz.
“Em termos musicais, parece-nos que os temas de Gaiteiros irão ganhar a voz da Ana, as inesperadas guitarras do Luís e do Pedro e o reforço da componente rítmica pelo contrabaixo do Zé Pedro, que ameaça fazer uma incursão pelos estranhos instrumentos dos Gaiteiros. Deolinda irá ganhar com os instrumentos de sopro, as harmonias vocais reforçadas em algumas canções e o reforço das percussões já de si enfatizadas no último trabalho, pela mão do Sérgio Nascimento”, adianta ainda o músico dos Gaiteiros, fazendo uma previsão do que o público poderá testemunhar.

São duas bandas que se encontram no palco do São Jorge, mas também dois públicos que terão nessa noite mais uma oportunidade de descoberta.
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