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Reportagem | António Zambujo

António Zambujo atuou este sábado no Theatro Circo, em Braga, e provou – mais uma vez – ser, indubitavelmente, um dos grandes nomes da nova geração de músicos portugueses.

Perante uma casa quase cheia o cantor iniciou a sua apresentação com o tema A Casa Fechada do seu último álbum, Quinto. De seguida deu a conhecer os músicos que o acompanhavam: Luís Guerreiro na guitarra portuguesa; Jon Luz no cavaquinho; José Miguel Conde no clarinete e Ricardo Cruz no contrabaixo e responsável pela direção musical.

Os temas seguintes – Algo Estranho Acontece, Fortuna, Queria conhecer-te um dia – introduziram a sonoridade tão caraterística e única que faz de Zambujo um caso raro na música portuguesa. Misturando o som tradicional do fado com toques de samba e bossa nova, Flagrante, um dos seus temas mais conhecidos, foi responsável pelas primeiras palmas mais entusiastas acompanhados por um baixo cantarolar da audiência. O ânimo continuou com o cantor a ficar sozinho em palco para interpretar Lambreta, gracejando com a plateia que ria cada vez com mais vontade. A música seguinte retornou ao ambiente do fado no seu tom mais tradicional com o tema de Frederico Valério, A Rua dos meus Ciúmes. De seguida, ouviu-se o belíssimo Guia do álbum homónimo; Apelo – um poema de Vinicius de Moraes – e Fado Desconcertado.

O momento mais especial da noite ( uma vez que foram todos de excelentíssima qualidade) aconteceu quando o músico ficou sozinho em palco e quis partilhar com o público as suas origens através das Modas Alentejanas. A primeira, Fui Colher uma Romã, deixou a descoberto toda a plenitude e delicadeza vocal de António Zambujo, que incorporou a (sua) alma alentejana , a inocência sonhadora da juventude e ingenuidade igualmente sonhadora do amor. Cada palavra expelida era sentida e dolorosamente sincera, quase como um lamento sussurrado que maravilhou e comoveu os presentes. O tema Gotinha de água foi dividido a meias com o público que aproveitou a força do momento para também expressarem e homenagearem o nosso cancionário que é tantas vezes esquecido e posto de lado.

Com o regresso dos restantes músicos ao palco, assistiu-se a um momento peculiar com a imitação de alguns sons e animais, servindo de mote ao tema A Tua Frieza Gela com o arranjo menos tradicional e mais ”eletrónico” de todo o repertório cantado.

A narrativas das letras de Zambujo são exímias e certeiras, bem como a lacónica ironia humorística que reveste alguns das suas canções, como é o caso de Zorro – um tema muito querido dos fãs.

Depois de Barroco Tropical e Não me dou longe de ti, chega a música que ninguém queria ouvir “Está na hora de ir embora…”, com o cantor a agradecer “terem preenchido as cadeiras” e a apresentar novamente os restantes músicos.


Readers Digest foi a última música antes de a plateia se levantar numa ovação demorada àquele que nos fez lembrar que Portugal tem talento, parafreseando o programa televisivo, e que estávamos perante um deles.
Mas as emoções ainda não tinham terminado, Zambujo regressou para um encore de duas músicas: Valsinha de Vinicius de Moraes e uma homenagem  a Alfredo Marceneiro.

António Zambujo propôs uma nova roupagem ao fado: a sua voz sussurrada de menino homem, que tem tanto de inocente como de atrevida, deliciou-nos com histórias que cabem nos sonhos de todos nós, com amores que nos são comuns e sentimentos que nos chegam ao coração. Tudo isto de forma tão natural que, ainda sem saber, já estávamos todos conquistados : “Foi fácil, estupidamente fácil”.

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