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Reportagem | Caixa Alfama ’14 – Porque Alfama cheira a Fado
A segunda edição do Festival Caixa Alfama contou com a presença de mais de 40 fadistas de diversos estilos, entre os quais Marco Rodrigues, Katia Guerreiro, Ricardo Ribeiro, Gisela João, Gonçalo Salgueiro, Ana Laíns, Carminho, Pedro Moutinho, António Zambujo, Ana Moura, Jorge Fernando, Cuca Roseta, entre outros.

Katia Guerreiro

Na primeira noite do Festival de Fado em Lisboa, que contou com mais de onze mil visitantes nos dois dias, Katia Guerreiro abriu o palco principal, Palco Caixa, excelentemente acompanhada por Luís Guerreiro e Pedro de Castro nas guitarras portuguesas, Francisco Gaspar no baixo e João Veiga na viola de Fado.
Interpretou temas como “Asas” e “Segredos” e teve ainda tempo para adiantar temas do novo disco com lançamento agendado para Novembro, com produção de Tiago Bettencourt, como por exemplo “Até ao Fim”, com letra de Vasco Graça Moura e música do ex-líder dos Toranja e “Mentiras”.

À mesma hora, Cuca Roseta cantava para as várias pessoas que faziam filas junto ao Largo das Alcaçarias para a ouvir. Os habitantes do largo tinham o privilégio de ver e ouvir a fadista através das janelas de suas casas.
Cuca Roseta cantou, para além de temas do seu reportório, alguns temas do reportório de Amália Rodrigues, como “Barco Negro” e “Estranha forma de vida”, acompanhada em alguns temas por Júlio Resende ao piano, noutros por Pedro Viana na guitarra portuguesa, André Ramos na viola de Fado, e Frederico Gato na viola baixo, assim como também pelo quarteto Opus Quatro e por Cordis – piano e guitarra portuguesa.

Pouco antes, no Palco Amália, situado junto à Fonte do Poeta, Ana Laíns havia começado o que se revelaria um fabuloso concerto, cheio de dinamismo, alegria, boa disposição e boa interacção com o público.
Interpretou temas como “Não sou nascida do Fado” (letra de sua autoria) e “Zanguei-me com meu amor”, entre outros temas, sempre muito aplaudidos pela imensa gente presente na rua da Judiaria, e no beco.
De realçar que o concerto já ia a meio e eram muitas as pessoas em filas para tentar entrar no pequeno largo para ouvir e ver a grande actuação de Ana Laíns.

Mais acima, no Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, actuou Gisela João, para um mar de gente que enchia por completo o centro e as ruas.

A fadista que editou o ano passado o seu álbum de estreia, que já atingiu o galardão de Ouro esteve sempre enérgica em palco, conjugando de forma fabulosa a sua voz com a orquestra clássica do Sul, que a acompanhou no concerto do Festival do Fado.
Muitas eram as pessoas que queriam ver de perto o concerto da fadista, tendo a Gisela João pedido ao público que se encontra sentado no chão junto ao palco, que se levantassem de forma a poder partilhar o concerto com mais pessoas. O pedido da fadista foi correspondido e o concerto não podia ter corrido melhor, entre uma excelente voz, bons músicos e o calor dos aplausos de quem assistia.

De seguida, apresenta-se ao palco Pedro Moutinho, dando início a um concerto com a qualidade artística a que já nos habituou com o tema “Alfama” do reportório de Amália Rodrigues, passando por “Sem Sentido”, entre outros. A pedido de várias pessoas do público o fadista interpretou “Um copo de sol”.
Pedro Moutinho, com uma actuação irrepreensível, na qual se denota a sua postura de Fado, serena e segura.

De volta ao Palco Caixa, a multidão esperava ansiosamente por Ana Moura e António Zambujo, que percorreram e interpretaram juntos diversos êxitos do repertório de ambos, como “Os búzios”, “Lambreta” ou “Desfado”, não sem antes Ana Moura cantar o tradicional “parabéns a você” a António Zambujo que completava nesse dia mais um aniversário.
Um concerto de cumplicidade e mestria ao cantar o fado.
Mais de uma hora de muitos aplausos, onde o público também enteou de viva voz alguns temas. De realçar também a boa disposição entre os fadistas, músicos e público presente.

O segundo dia revelou-se não menos entusiasmante para os amantes de Fado, com a noite a começar bem cedo, pelas 20h45 no Palco Amália com Marco Rodrigues, que pelo segundo ano deu provas de que é merecedor da sua presença no conceituado Festival de Fado.
O fadista foi acompanhado por Pedro Viana na guitarra portuguesa, Frederico Gato no baixo e Nelson Aleixo na viola clássica.

Marco actuou perante um largo da fonte do poeta completamente cheio, de pessoas e de “Bravo!” que se multiplicaram durante todo o concerto. Marco aproveitou para cantar temas do seu novo disco, como “Do Chiado Ao Bairro Alto” e “Que Tom É Que O Fado Quer”, bem como do anterior, o tão conhecido “Tantas Lisboas”. Cantou e dedicou a João Serra (o senhor do adeus, que há uns anos se avistava no largo do Saldanha à noite a acenar a quem por ali circulava), “O Homem do Saldanha”, tema que interpretou parcialmente à capella.
O público não se poupou a aplausos entre os diversos temas e essencialmente no final, pedindo mais um tema ao que Marco respondeu solicitando ao público para se deslocar para o meio dele para cantar o último tema, sem microfone. Mais uma vez foi aplaudido e repetidamente elogiado sem contenção por parte do público.

Por esta altura estava já Gonçalo Salgueiro a terminar um concerto marcado pela expressividade corporal do artista, fazendo lembrar flamenco, juntando o dramatismo colocado na voz, que levou a que o público presente parecesse o dobro ou triplo, tal a efusividade dos aplausos chegando mesmo a pedir “só mais uma!” em coro. O fadista acede após confirmar com a organização que não estaria a entrar pelo tempo dos seus colegas que cantariam a seguir. Interpretou “Povo que lavas no rio” de uma forma que levou mais uma vez o público a um aplauso enorme.

Logo após Gonçalo Salgueiro, subiu ao palco Jorge Fernando, acompanhado por Gustavo Roriz no baixo e Guilherme Banza na guitarra portuguesa.
Deu um espectáculo que em muito agradou ao público entusiasta que acompanhava os diversos temas, mesmo sem solicitação do artista. A actuação passou por temas como “Quebranto” e “Umbadá” mas também “Desespero”, para o qual pediu o acompanhamento da voz de Virgul, e “Chuva”, no qual compartilhou o palco com Berg, vencedor da primeira edição de Factor X. Jorge Fernando aproveitou ainda para uma pequena brincadeira, em volta do tema “Pois É”, que gravou com o rapper Sam The Kid, cantando em uníssono com o público o refrão: “Pois é, a vida está uma… pois é!”, acabando com o público a dizer a “palavra proibida”.

A segunda noite no Palco Caixa encerrava então com chave de ouro. Carminho, de notável qualidade vocal, fantástica interacção com o público, e com uma escolha de alinhamento bastante criteriosa. A fadista actuou para uma imensa multidão junto ao Tejo, tendo interpretado temas como “Folha”, com poema de sua autoria, “Amor Marinheiro” e “Bom dia amor”, no qual pediu ao público para a acompanhar. Teve ainda tempo para fazer uma surpresa ao público presente: a de cantar pela primeira vez ao vivo um tema que integrará o seu novo disco, a editar brevemente. O tema intitula-se “A Ponte”. Recordou os tempos de menina em que corria pelas ruas de Alfama, e interpretou “Alfama”, com o arrebatador início à capella, no qual fez jus ao ditado “silêncio, que se vai cantar o Fado”. Cantou ainda “Marcha de Alfama”, acompanhada com palmas e alegria do público.

Nestes dois dias preenchidos de Fado, houve ainda espaço para os espectáculos d’Os Urbanos e d’As Urbanos, projecto de Diogo Clemente, no Largo das Alcaçarias.
E porque o Fado é do povo e é para todos, no Largo do Chafariz de Dentro houve ainda Fado À Janela.
Assim aconteceu mais uma edição de Caixa Alfama, que promete regressar no próximo ano, dado o êxito reiterado este ano.

De salientar que devido às inúmeras actuações durante os dois dias não nos foi possível assistir a todos os concertos, pelo que lhe deixamos dezenas de fotos que mostram em muito esta segunda edição do Festival do Fado.

Veja as fotos aqui

Texto: Márcia Filipa Moura
Fotos por:
Joana de Queiroz Contante
Márcia Filipa Moura
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