Cantar fado acompanhado por uma orquestra sinfónica? Sim, é possível. Durante quatro dias, o Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, enche-se para ver Camané, acompanhado pela Orquestra Metropolitana de Lisboa e pelo coro Ricercare. Um concerto entre fados e canções em registos diferentes do seu habitual, às quais a presença de uma orquestra confere um carácter quase cinematográfico.
Camané prova, com esta série de concertos, ser um fadista de poetas. Não faltam autores como David Mourão-Ferreira (“um dos poetas que mais gosto de cantar”, afirma) ou Fernando Pessoa. Mas está longe de ser apenas um fadista. No meio de fados, atreve-se com dois tangos, género pelo qual se confessa apaixonado; com um tema de Jobim, “Inútil Paisagem”; com o tema principal da série televisiva Narcos, “Tuyo”, de Rodrigo Amarante; com canções de Fausto e Amélia Muge. Camané sabe, numa hora e meia de concerto, fazer uma ponte musical entre diferentes géneros, juntando sons portugueses e latino-americanos.
Apesar das inovações no repertório e da mistura de estilos, há obviamente espaço para as obrigatórias “Abandono” (ou Fado Peniche), “Sei de Um Rio” (esta numa versão sublime, com o coro Ricercare a dar um novo tom ao fado de Pedro Homem de Mello e Alain Oulman) ou “Saudades Trago Comigo”. E há ainda espaço para algumas gargalhadas do público quando baralha o alinhamento devido “à falta de óculos”.
“Havemos de Nos Ver Outra Vez”, de Amélia Muge, é a canção com que Camané encerra o concerto. Que assim seja.
Texto: Adriana Dias
Fotos: Márcia Filipa Moura
- Camané
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