Carminho cantou pela primeira vez no Campo Pequeno no mesmo dia em que se comemorou o quarto aniversário do Fado como património imaterial da humanidade. “Estou mesmo muito emocionada, acreditem”, diz no princípio do concerto, que dedica à fadista Beatriz da Conceição, falecida no dia anterior.

Perante um Campo Pequeno completamente cheio, Carminho volta a provar a força e a qualidade do seu trabalho. Acompanhada por Marino de Freitas no baixo, Flávio César Cardoso na viola, Ruben Alves nos teclados e acordeão, Ivo Costa na percussão e Luís Guerreiro na guitarra portuguesa, a fadista vai alternando temas de ‘Canto’, o disco mais recente, com canções de outros álbuns, começando com ‘As Pedras da Minha Rua’ e prosseguindo com fados como ‘Ventura’ e ‘Saia Rodada’.

Dois momentos extraordinários acontecem com os fados ‘Andorinha’, da autoria de Carminho, e ‘De Mim Para Ninguém’, que a fadista canta a capella de uma forma magistral. Depois de cantar ‘História Linda’, de Carlos Paião, e ‘Bom Dia Amor’, Carminho apresenta ‘Tu És a Estrela’, uma música inédita que escreveu para o “querido público do Campo Pequeno”. Com ‘Saudades do Brasil em Portugal’, Carminho homenageia o poeta Vinicius de Moraes, autor da letra, e dedica a canção “a todos aqueles que algum dia tiveram que deixar a sua casa”, conseguindo mais um momento arrepiante.

O concerto vai-se aproximando do fim com ‘Meu Amor Marinheiro’, mas perante um público que não quer deixar o local, volta ao palco para o encore com ‘Escrevi Teu Nome no Vento’ e ‘Saia Rodada’, mais uma vez. “Enquanto vocês ficarem aí eu canto!”, ri-se a artista. A última canção é ‘As Minhas Penas’, que só costuma cantar em casas de fado, e canta sem microfone, conseguindo um aplauso estrondoso.

“Este concerto é um ciclo que se fecha na minha vida”, diz Carminho. Vê-se uma artista completa, uma fadista mais aberta também à música tradicional portuguesa e a influências internacionais. A cada projecto, Carminho revela mais criatividade e maturidade. Realmente, o Campo Pequeno foi pequeno para tanto talento.

Texto: Adriana Dias
Fotos: Márcia Filipa Moura

[Mais fotos aqui]