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Reportagem | Rui Veloso Trio – O lado íntimo e nú das canções (c/ fotogaleria)

Depois do concerto no coliseu do Porto, foi a vez de Lisboa acolher mais uma vez Rui Veloso, acompanhado dos músicos Alexandre Manaia e Berg, na sala de culto Coliseu dos Recreios.

Em jeito intimista e de grande cumplicidade entre os músicos e o público, as canções são tocadas na sua forma mais primitiva e nua. Sentem-se em pleno os acordes de guitarra, e cada nota musical proferida é como um arrepio na pele, dada a sua sonoridade profundamente melódica.

A viagem começa na dita “sala” de Rui Veloso, cenicamente composta por sofás e candeeiros seus, e uma mesa “comprada no OLX”, revelação feita por Rui Veloso no decorrer do concerto. De facto, o concerto inicia-se com uma conversa de sofá, informal e espontânea, entre os três músicos, que se posicionam em frente ao palco para iniciar o concerto assim que as luzes nele incidem, rodeados de instrumentos musicais.
Os primeiros acordes de ‘A Gente Não Lê’ enchem a sala de musicalidade. Segue-se uma mole de sucessos do artista, como ‘Primeiro Beijo’, ‘O Prometido é Devido’, ‘Porto Côvo’, ‘Porto Sentido’, ‘Nunca me Esqueci’, que vão sendo intercalados por outros menos tocados nos concertos ao vivo de Rui Veloso como ‘Esta Mulher é a minha Ruína’, ‘A Origem do Mal’, ‘Beirã’, ‘Valsinha das Medalhas’.

A viagem decorre em harmonia com a audiência, que bebe intensamente cada palavra e cada som. Do seu vasto reportório ouvimos também ‘Um Trolha D’Areosa’,  ‘Benvinda Sejas Maria’ (com a referência em tom de homenagem a Bernando Sassetti), ‘Cavaleiro Andante’, ‘Fado do Ladrão Enamorado’, ‘Tasco da Mouraria’ (uma composição feita para Mariza), ‘Ai Quem Me Dera A Mim Rolar Contigo Num Palheiro’ (“Acho que deve ser a canção portuguesa com o título mais longo”, diz Rui em tom de brincadeira) e ‘Canção de Alterne’.

Com ‘Chico Fininho’ o trio despede-se, saindo do palco. Rapidamente o público inicia o tradicional bater de pés no chão a chamar os músicos (som característico antes dos encores), mas sempre com a certeza do seu regresso. O palco voltou a recebê-los e ouviram-se modas alentejanas protagonizadas pelos convidados Adiafa, num momento de arrepiar, especialmente com o lindíssimo ‘Feira de Castro’.
Mais uma saída de palco, ainda mais breve que a última, porque o público ansiava pelo momento alto da noite e pelos grandes temas ainda não tocados. Seguiram-se dois dos maiores hinos de Rui Veloso, ‘Jura’ e ‘Anel de Ruby’, este último cantado em uníssono pelo público, num ritmo emocionado característico da canção.

Uma nova despedida, esta sim a derradeira, que trouxe de volta ao palco todos os músicos, incluindo os convidados Adiafa. A grande noite fechava-se assim com o tema ‘Não há Estrelas no Céu’ e o repetido ‘Feira de Castro’, e os merecidos e honrosos aplausos de despedida da audiência fizeram-se ouvir.

Num Coliseu lotado, cheio de gente de várias idades, a envolvência do cenário, aliada ao clima pessoal e íntimo conferido pelos arranjos dos temas, uniram os músicos ao público, num forte elo de sintonia musical. O carinho do público para com o músico foi notório, transparecendo no acompanhamento das músicas, nos aplausos, e sempre que o artista o interpelava, entre canções.
Numa noite grandiosa, onde se reviveu a banda sonora de quem cresceu nos anos 80 e 90, Rui Veloso, com a sua longa carreira de cerca de 35 anos, mostrou mais uma vez que mantém vivo o amor pela profissão e a sua excelência musical. Que venham mais anos de boa música, e que se encham salas e salas para o escutar.

Texto: Catarina Albino
Fotos: Catarina Dias (catdias.com/blog)

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