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Reportagem | último dia de Bons Sons
Mais um dia de muito calor (e jactos de água fria), em Cem Soldos.
A aldeia vai acordando lentamente e apesar de todo o fervor do festival, a missa dominical não foi esquecida, garantindo a actividade regular dos aldeões.

A manhã foi dedicada aos festivaleiros de fralda com o Música para Crianças no Auditório e com passeios nos simpáticos burros de Miranda.

Passamos pela praça do Rossio, ainda com pouca gente, paramos para comprar uma Tixa e damos uma vista de olhos pelas tendas de artesanato espalhadas pelo recinto, antes de escolher o sítio ideal para almoçar.

Mais do que prontos para viver este ultimo dia de Bons Sons e porque aqui não há idades e tudo se mistura, netos, pais e avós encontram-se à porta da igreja, para experienciarem o Concerto de Olhos Vendados, com Luís Antero, num ambiente onde somos desafiados a mais do que ouvir, a sentir o som.

Nove jovens de sotaque tripeiro, animam a ultima Tarde ao Sol. Sopa da Pedra, grupo vocal feminino dedicado ao canto à capella, brinda-nos com canções tradicionais muito portuguesas.

Seguimos até ao Palco Giacometti para ouvir mais uma banda do norte. Ermo surpreendeu não só pela sua melodia ímpar como pela portugalidade lírica que cria. Um concerto original e intimista.

E continuando com bons sons portugueses, na praça que agora está cheia, ouve-se A Presença das
Formigas com as suas composições de música tradicional e popular com influências que vão do jazz ao folk, passando pela música erudita. Uma versatilidade a que já nos habituamos neste festival.

No palco mais indie da aldeia, ninguém consegue ficar indiferente ao ambiente dançável criado pela guitarra e bateria dos Memória de Peixe. Aqui, o improviso é um dos ingredientes chave e o resultado foi um concerto incrível cheio de musicalidade e loops enérgicos.

O cair da noite acomoda a alma e acolhe o mestre da guitarra portuguesa António Chaínho no palco Giacometti. Fazendo-se acompanhar de brilhantes músicos e com a presença de Filipa Pais e Ana Vieira que o surpreenderam com uma dedicatória musical, António Chaínho conseguiu conquistar o silêncio do público que ali permaneceu a apreciar a sua incansável reinvenção da guitarra portuguesa.

De volta ao palco Eira, aguarda-nos a fusão entre We Trust e a Banda Filarmónica Gualdim Pais com um conjunto de canções que resumem o espírito do Bons Sons, num concerto que une o tradicional ao contemporâneo.

“Não sou daqui, mas gosto de aqui estar” entoa Amélia Muge no Palco Giacometti, descrevendo a sensação partilhada por todos. Num concerto de sonoridades interétnicas, Amélia Muge deixou o público preparado para o espectáculo mais esperado da noite.

E não foi por acaso que a praça do Rossio encheu.
Sérgio Godinho proporcionou um dos melhores momentos do festival.
Falou-se de liberdade, de ideais e de poesia. Foi uma partilha de emoções entre o artista e o seu público.
A bater o pé ou de caneca na mão, não houve quem não ficasse com um brilhozinho nos olhos a contemplar um dos grandes nomes da música portuguesa.
Sérgio Godinho foi também o herói da noite, ao regressar ao palco depois da sua aparatosa queda, e nos brindar com vinho e poemas, provando que há artistas maiores do que o palco.

Com as emoções ao rubro, depois de um concerto alucinante, a multidão difunde-se. Os mais resistentes encaminham-se até à eira para ouvir os emergentes First Breath After Coma, num espectáculo de post-rock, enquanto que os restantes enchem a caneca pela ultima vez e se despedem da aldeia que lhes ofereceu quatro dias intensos de boas recordações, de pessoas incríveis e de um ambiente extraordinário.

Foi Domingo no Mundo, como diria Sérgio Godinho, e a liberdade passou por Cem Soldos em letras garrafais, a contemplar 38 000 pessoas.

Até 2016.

Texto: Carla Correia 
Fotos: Ana Marques e Carla Correia 

                                           (Todas as fotos do festival AQUI
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