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Reportagem | Tiago Bettencourt Acústico

 

Na noite de 15 de Março de 2013 Tiago Bettencourt apresentou-se no Coliseu para dar início à digressão que serve para promover o seu mais recente disco “Acústico”. O disco permite ao cantor reunir as composições mais populares dos seus já 10 anos de carreira com interpretações de temas dos seus artistas de eleição.

Com a plateia do Coliseu como cenário de fundo, Tiago iniciou o concerto sozinho ao piano, onde interpretou “Florbela Espanca”, uma composição simples mas que criou o ambiente para um serão íntimo. Já com a banda em palco e com a sua guitarra em punho, o cantor lança “Parece que o destino nos quebrou” e “Largar o que há em vão” com as luzes a criarem um efeito misterioso e com o cenário de fundo a ser revelado lentamente. As músicas seguem-se e entre elas o intérprete demonstra um à vontade contagiante nos diálogos que tem com o público.
Meio tímido e sempre humilde nas palavras, como se estivesse com amigos de sempre, é a cantar que o seu maior brilho surge, abraçando as melodias com a sua voz meio rouca, meio doce, entre o sussurro e o canto. Com “Canção Simples” inicia o reportório do último disco, o qual viria a reproduzir por completo. “Pó de Arroz” de Carlos Paião permite ao público ajudar no refrão e é ao som deste clássico que o cenário é finalmente revelado. De facto não são muitas as oportunidades que, enquanto espectador, temos a possibilidade de apreciar a plateia do Coliseu de Lisboa, e ao vê-la é evidente porque se trata da sala mais carismática da cidade. As suas características únicas de arquitetura conservadas pelo tempo e iluminadas de uma forma sóbria fazem-nos ter orgulho nesta sala de espetáculos.

De volta ao piano, é interpretada a sequência “Espaço impossível”, “Tens de largar a mão” e “Jogo”, sobressaindo este último como um dos momentos altos da noite, com a banda a entrar no fim do tema tornando-o épico, em que nem as orquestrações faltaram.

De volta a guitarra é apresentado o convidado da noite Samuel Úria, amigo de aventuras que rapidamente demonstra uma cumplicidade que apenas a amizade pode sustentar. Ao dueto entre os dois músicos que se encontra no disco “Já Não Te Encontro Mais”, com Daniel Lima a brilhar no piano, seguiu-se a interpretação dos dois temas “Maria Clementina”, resultado de uma parceria para um spot publicitário muito popular a uma marca de refrigerante.
Com a boa disposição em alta, nem o stand up faltou e entre piadas e histórias, foi interpretado “Lenço Enxuto”, tema emocional com contornos grandiosos, fazendo a sala parecer pequena para a carga emocional atingida.
“Canção do Engate” dá ao público mais uma oportunidade de participar, enquanto que “Só Mais Uma Volta” é introduzida por um pequeno trecho de “Take a Walk on the Wild Side”. Musicas como “Laços” evidenciavam a importância dos silêncios para que as notas solitárias ou as afinações sempre no tom revelassem a acústica impressionante da sala, como se de um estúdio se tratasse. Quando “A Carta” é entoada, o público faz parecer simples o exercício de trautear o êxito português com mais palavras por segundo e depois do ritmo contagiante de “Caminho de voltar”, swing cheio de boa disposição, Tiago abandona rapidamente o palco.

A plateia em pé exige o regresso e o encore é iniciado com o tema “O Campo”, com Tiago ao piano e mais uma vez as sombras coloriram o drama dos sons com o idílico cenário a ser desvendado e uma distorção a encher a acústica da sala com luzes e som em sintonia num final arrepiante que culmina na penumbra de um Tiago solitário ao piano. O público explode após a última nota, numa erupção de aplausos que aclama autor e sua banda como interpretes. Munido de guitarra e harmónica, sozinho no palco, qual Springsteen a trautear o seu “Thunder Road” em Português, Tiago interpreta “Eu Esperei” e a própria imagem faz lembrar a lenda viva americana.
“Temporal” e “Caminho de voltar”, único inédito do disco, encerram o concerto com a letra “Quando o teu sonho arder” a ecoar forte antes de uma despedida em apoteose e a promessa de um regresso a Lisboa para depois do Verão.

Tiago Bettencourt revelou um perfeccionismo na forma como interpretou os temas e apresentou um espetáculo de duas horas coeso e com uma produção que nada fica atrás dos da série “Unplugged” com que a MTV popularizou o estilo. Foi sem dúvida uma noite histórica que o Coliseu viveu e que de certo todos os presentes recordarão como um serão íntimo entre a boa disposição e o desfilar de alguns dos clássicos da música Portuguesa.

Texto: Pedro Pico
Fotografias: Diana Goulão
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