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Dead Combo no Coliseu: O mundo cabe neste hotel (ou uma banda sonora de lisboa)
Quando os Dead Combo encheram o Coliseu de Lisboa em 2014, talvez a cidade ainda fosse a “Lisboa Mulata” sonhada (ou criada) pelos Dead Combo. Mas um “Bunch of Meninos” (um bunch of turistas, of alta finança, of marketing, talvez) apoderou-se dela. E foi transformando a cidade neste “Odeon Hotel”. Em cinco anos, muito mudou na cidade. Mas se há uma banda capaz de representar Lisboa, com todas as suas mudanças, misturas e contradições, são os Dead Combo. Num Coliseu com a plateia totalmente esgotada e as bancadas bem compostas, os Dead Combo apresentaram um concerto baseado no seu último álbum – “Odeon Hotel” –, mas onde também se viajou pelos trabalhos anteriores.
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Um novo som para uma nova Lisboa. A sonoridade do novo disco – e, portanto, deste espectáculo – é bastante mais roqueira, possivelmente também uma influência da produção de Alain Johannes. “É com Deus me dê grana” que o concerto começa. Seguem-se “Mr and Mrs Eleven” e “The Egyptian Magician”, tema dedicado a Zé Pedro, dos Xutos e Pontapés, que consegue a primeira ovação da noite (também certamente pela homenagem). Mas também há momentos acústicos, com “Povo Que Cais Descalço” e a belíssima “Esse Olhar Que Era Só Teu”, em que parecemos entrar no território do fado. E há ainda espaço para ritmos mais latinos, quando soam “Rumbero”, “Cuba 1970” (“dedicada à malta que nasceu nos anos 70”, diz Tó Trips) e “Dear Mrs Carmen Miranda”. A banda é uma mistura de sons e culturas musicais. E não o é Lisboa também desde sempre?

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Dead Combo

Quando os convidados especiais Mark Lanegan e Alain Johannes entram em cena, o público fica eufórico e o espectáculo parece entrar numa segunda parte, ainda com mais ritmo (e, infelizmente, com um som demasiado alto, por vezes a distorcer a boa música da banda – é pena). E o próprio palco, agora com um andaime por onde passeiam vários figurantes que representam a capa de “Odeon Hotel”, reflecte esse ritmo. Um dos momentos altos dá-se quando Mark Lanegan canta “I Know I Alone”, cuja letra é um poema de Fernando Pessoa em inglês. Mas os Dead Combo voltam rapidamente às canções antigas, com Tó Trips a apresentar a muito aplaudida “Lusitânia Playboys” como “uma cantiga sobre dois tipos do jazz que decidem ir ao novo Cais do Sodré e ficam apaixonados por dois sailors de Newcastle”. Não é possível imaginar a banda sem estas histórias. Nem Lisboa…

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Mais um par de músicas e o concerto parece ter terminado. Porém, quem segue a banda sabe que há sempre surpresas à espreita. E assim é. No encore, com os figurantes do cenário entre a banda, “A Menina Dança”, “Miúdas e Motas” e a inevitável “Lisboa Mulata” poem o Coliseu de pé e a dançar. Do mago egípcio aos roqueiros norte-americanos, das lembranças de uma Cuba do passado aos playboys do Cais do Sodré, no hotel dos Dead Combo cabe o mundo inteiro. Mas sobretudo Lisboa.

Texto: Adriana Dias
Fotos: Luís Flôres

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