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Entrevista | Bicho do Mato

Os Bicho do Mato são uma banda natural de Évora formada em 2011 por quatro músicos com experiência em outras bandas: António Bexiga (Uxu Kalhus, Ocarina), Daniel Catarino (Uaninauei, O Rijo), Zé Peps (Pucarinho, Aqui Há Baile) e Daniel Meliço (Bandex, Pucarinho).

A sua sonoridade assenta na  música tradicional, o rock, o folk e o universo da World Music: em canções melódicas às quais se contrapõem letras de intervenção humana que apontam “males” – ou melhor, “realidades” – que fazem com que a sociedade se confunda com a selva.

A banda está atualmente em pré-produção para a gravação do disco de estreia, ao mesmo tempo que percorre o país apresentando o seu trabalho.


Made In Portugal- São todos músicos já com experiência na área e, a convite de A Música a Gostar Dela Própria, juntaram-se. Como surgiu este convite?

Tó-Zé [TZ] – O convite surgiu em Abril de 2011,  através do Tiago Pereira, para gravarmos alguns temas em Évora com viola campaniça e outros instrumentos.
Era (e ainda é) costume juntarmos uns quantos músicos para tocar e improvisar nas ruas, jardins e outros espaços públicos da cidade: são os “ataques Ninja”, que não têm dia nem hora marcados.
Gravámos 3 temas no terraço da Sociedade Harmonia Eborense, que acaba por ser uma “segunda casa”, e 2 deles surgiram no próprio dia da gravação. Começaram a surgir convites para tocar ao vivo, e então alinhámos um repertório de canções que apareceram “de rajada”. Por mero acaso, as primeiras canções tinham todas referência a um animal, o que acabou por ditar o nome da banda.
Zé Peps (ZP) – De referir que nessa tarde de gravações bebemos muitas e variadas minis.
MIP- Entretanto decidiram continuar. O que este projeto tem de diferente relativamente às outras bandas em que estão inseridos?

Daniel Catarino (DC) – Sobretudo as pessoas que fazem parte dele, o que faz toda a diferença numa banda que funciona como unidade.
TZ – E essa unidade é maior que a soma das partes, o que acaba por construir uma identidade naturalmente diferente. O Bicho do Mato tem uma composição instrumental peculiar, juntamos instrumentos acústicos como a viola campaniça, o bandolim, o ukulele ou a bateria “cocktail”. As canções que fazemos têm sempre uma referência a um animal, o que dá uma identidade própria ao projecto. 
O facto de termos vários projectos, completa-nos enquanto pessoas e enquanto músicos.
ZP – Para além do que os meus amigos já mencionaram, a um nivel mais pessoal acho que a grande diferença, para além das minis que bebemos juntos, será a maneira como construimos as melodias e os arranjos e o facto de não haver uma regra nem limites no estilo musical.

MIP- Consideram-se – a nível de sonoridade, letra e influências – uma banda tipicamente portuguesa?

DC – Não sei se existe algo como uma banda tipicamente portuguesa, mas gosto de pensar que não o somos. Somos orgulhosamente Portugueses mas não queremos ser típicos, queremos ter uma identidade própria que espelhe o que somos e pensamos.
TZ – Tocamos a música que fazemos e não aquela que nos chegou pela via da oralidade ou da história, nesse sentido, nunca poderíamos colar a palavra “típico” ao nosso trabalho. Temos naturalmente influência de tudo o que vivemos até agora, na música e na vida -, nas nossas cabeças convivem alegremente “monstros” do rock e cantares alentejanos, no mesmo espaço, na mesma festa.
Usamos instrumentos portugueses, ou considerados como tal porque gostamos deles e da sua sonoridade, não por outra razão qualquer. 
ZP – O que é uma banda tipicamente portuguesa? Será uma banda que toca blues com guitarra portuguesa ou uma banda que toca fados com guitarras eléctricas? Ou será uma banda que faz ambas as duas e bebe minis?
MIP- O que o público tem dito sobre vocês?  A aceitação tem sido boa?

DC – A aceitação tem sido incrível, principalmente considerando que temos apenas um single com 3 músicas gravadas em casa. Temos feito a maior parte do trabalho de chegar às pessoas em concerto, e surpreende-nos a abrangência da nossa música. Temos fãs dos 4 aos 80 anos, o que não deixa de ser surpreendente e um excelente sinal para qualquer banda.
TZ – O público é uma entidade abstracta que se constrói de uma coisa concreta, as pessoas.  Notamos que a entidade abstracta está connosco na maioria dos casos e reage ao que tocamos e dizemos, e a entidade concreta tem vindo falar connosco depois dos concertos, pergunta coisas sobre as canções e os instrumentos. São as pessoas que completam o círculo e dão sentido colectivo ao acto “narcisista” de criar. 
ZP – Temos sentido também uma vontade enorme por parte das pessoas de nos pagarem muitas minis após os concertos.
MIP- Quando compõem e escrevem têm como objetivo pôr as pessoas a pensar, por exemplo na situação atual? A componente de intervenção é importante?

DC – Toda a boa música é de intervenção, só não intervém aquela que não parece ter mensagem. Mas do ponto de vista de composição e escrita, o primeiro objectivo é pensarmos por nós e transmitir o que nos vai na alma de forma honesta. É a única forma como gostamos de trabalhar, e felizmente, parece haver muita gente que se identifica com o que fazemos, mas é fundamental sermos integros. O público é que escolhe ouvir-nos, não somos nós que adaptamos a música segundo o que achamos que lhes possa agradar. Acreditamos que é na integridade e honestidade que a música se destaca.
TZ – A nossa música aparece e acontece num período particularmente difícil da nossa história, é incontornável que existam referências a tudo o que nos acontece diariamente. 
ZP- Para além disso, as minis cada vez estão mais caras, o que nos deixa indignados.
MIP- O que nos podem adiantar do vosso disco de estreia? Há previsões de lançamento?

DC – O nosso disco de estreia está a transformar-se numa epopeia pelo motivo mais habitual – dinheiro. Tentamos sobreviver exclusivamente da música que fazemos, e não é fácil juntar crédito suficiente para investir na gravação de um disco. Mas as coisas estão a encaminhar-se e contamos iniciar a gravação nas próximas semanas. A data de lançamento ainda é uma incógnita.
TZ – Queremos gravar o disco o mais rapidamente possível, porque é agora que faz sentido registar este repertório. Já estão a surgir novas canções e queremos fechar o ciclo para não deixarmos pontas soltas e podermos abrir caminho ao Bicho do Mato 2.0.
ZP – Poderei adiantar que será um best of composto e gravado debaixo de uma saraivada de minis.
MIP- Como definem atualmente a música em Portugal?

DC – A música portuguesa é, sempre foi e será tão boa como qualquer outra que tenha para nós algum significado. É mais saudável dividir a música pelo nosso gosto que pelas barreiras do estilo, da língua ou da nacionalidade.
TZ – Está de boa saúde e recomenda-se. Tem havido um fervilhar de ideias e projectos que  fazem lembrar o início dos anos 90, quando não havia garagem que não acolhesse guitarradas ao final da tarde e aos fins-de-semana. Mas mais diversa, por isso talvez mais rica. E também mais conhecida, mais falada e mais representativa do que somos enquanto país, porque existem outros meios de a comunicar e já não há uma dependência tão grande dos órgãos de comunicação social, sediados na sua maioria em Lisboa, e por isso com uma visão limitada do panorama nacional. 
O público também “cresceu”,  não necessariamente em número mas em maturidade. Está mais exigente, mais consciente, mais conhecedor e também menos dependente das opiniões emitidas pelos tradicionais órgãos de comunicação social e “fazedores de opinião” de academia ou de café.
Não fosse esta crise, ou pior, a ideia que esta palavra, transmitida vezes sem conta no espaço público, representa socialmente, estaríamos bem melhor:  músicos com agendas cheias poderiam viver dignamente do seu trabalho e o público teria maior opção de escolha na hora de sair de casa.
ZP – Partilho da mesma opinião dos meus amigos, mas não sem deixar de referir que ainda há algumas bandas betinhas que não bebem minis.

Acompanhe a banda em: 

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