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Reportagem | Noiserv no Centro Cultural de Belém – Sonoridades acolhedoras e intimistas
Na passada noite de sábado, o Centro Cultural de Belém em Lisboa recebeu David Santos e o seu projeto Noiserv para mais um concerto de ambiente intimista.
Com uma tela branca como pano de fundo, o centro do palco é ocupado pela habitual panóplia de instrumentos musicais, característica deste projeto. Do meio do entrelaçamento caótico de fios elétricos sai um letreiro identificador do projeto (Noiserv a letras iluminadas).
O artista entra em palco, acompanhado pela talentosa ilustradora (e prima) Diana Mascarenhas, que toma o seu lugar no palco para digitalmente desenhar o mundo imaginário das canções de Noiserv, ilustrações projetadas em direto na tela em background.
Com um acolhedor “Obrigada e boa noite”, David senta-se rodeado pelo arsenal de instrumentos e inicia o concerto com o tema “Mr. Carousel”. Os instrumentais somam-se, tendencialmente manipulados em múltiplas camadase construídos através de loops, conferindo ao tema um toque original e diversificado. Da guitarra ao xilofone, passando pelos teclados convencional e “human voice” e pelo inesperado megafone interventivo, as sonoridades fundem-se numa concordância única que fica na memória.
O segundo tema interpretado é “This is maybe the place where trains are going to sleep at night” do álbum mais recente (que data de 2013) e cuja melodia é acompanhada pelo sombreado de folhas outonais projetado nas laterais do auditório. Seguem-se “Tokyo Girl”, que fala da importância inerente ao silêncio, e a única música tocada em todos os concertos com mais de 25 minutos, “Bullets on Parade”.
É a vez de se ouvir “I Will Try To Stop Thinking About a Way To Stop Thinking”, ao qual se segue o ritmo cavalgante fundido com o som eletrónico de “The Sad Story of a Little Town”. As canções vão ganhando vida em background, pelas linhas e formas que vão sendo pintadas por Diana no fundo branco, e que se tornam mais nítidas a cada acorde, a cada palavra entoada, a cada loop de instrumental gravado.
Na canção “It’s easy to be a marathoner even if you are a carpenter” as luzes aumentam de intensidade ao ritmo da eletrónica frenética, que serve de mote para incitar à luta pelos sonhos por alcançar. Desta vez em português, a canção “Palco Tempo” (banda sonora do filme “José e Pilar”) ecoa pela sala, intermediada por uma guitarrada rápida e enérgica. O português soa a nosso, e que bem que sabe ao público, que o confirma pela forte e imediata ovação que a canção merece.
Após “I was trying to sleep when everyone woke up”, que fala sobre o processo de cair em adormecimento emocional, David faz questão de
agradecer ao público e a toda a equipa técnica, e é com “Don’t say hi if you don’t have time for a nice goodbye” que se encerra a ilustração de fundo, agora com a palavra Noiserv traçada por cima, em jeito de despedida. Mas não a derradeira, pois faltava ainda o encore de sempre, que traz o músico de volta ao palco, já sozinho, para dois últimos temas: “Today is the same as yesterday, but yesterday is not today” e “Bontempi”.
Após uma nova saída de cena, e quando o fim parecia já certo, David regressa para a final e ainda mais curta estadia em palco (“Eu toco mais outra”), encerrando assim o concerto com a música inspirada “no chupa à venda nas bombas de gasolina”, o tema “Melody Pops”.
Num ambiente 100% intimista e quente, a noite foi de sons que remetem para um universo de possibilidades, com misturas de sons e cor, de
abstrato e imaginativo. As melodias pautadas por cadências próprias personificam os ideais de alguém que tem algo a dizer no panorama musical, e que o faz com identidade própria e ímpar: o talento e unicidade de David como músico e compositor saltaram mais uma vez à vista de todos.
 
Texto: Catarina Albino
Fotos: Ana Catarina Dias
 
 
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