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Reportagem | O Mundo dos Deolinda não é Pequenino

 

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Os Deolinda apresentaram o seu mais recente álbum, com uma musicalidade mais diversa e mais madura, mas nem por isso menos castiça.
A noite desta última sexta-feira, dia 3 de Maio, lançava umas rajadas frescas mas leves sobre a Portas de Santo Atão, a casa da mais tradicional sala de espectáculos, o Coliseu dos Recreios.

Os Deolinda andavam a magicar um álbum há algum tempo e foi nesta casa, que já não lhes é estranha, que apresentaram o seu mais recente trabalho, o “Mundo Pequenino”, onde é claro que a banda não tirou a mão da cintura, as feições de bairrista e o avental do peito, mas onde se percebe também que a experiência os fez crescer.
Há ritmos e sons novos, há temáticas diferentes mas continua a haver aquela atitude travessa de quem sabe muito bem o que diz e o faz de língua de fora.

O concerto quase soube a pouco, apesar de ter passado por mais de vinte temas, pois com os Deolinda, não há lugar à exploração do espectáculo pelo espectáculo. Os temas são certeiros, concisos e rebeldes e para isso não há cá floreados que se entreponham.

O novo álbum continua a ser rebelde, continua a apontar o dedo e a chatear quem merece ser chateado, canções como “Algo Novo”, que abriu o concerto, “Gente Torta” e “Háde Passar” que vieram pouco depois, ou ainda “Seja Agora” que já foi apresentada mais para o fim do concerto são apelos à consciência colectiva, à tomada de posições e, mesmo que não assumida, uma pequena revolução interior em cada um de nós. Mesmo quase no fim, apresentaram aquele que promete ser um dos hits deste novo álbum, “Musiquinha” fica no ouvido, é dançável e tem conteúdo.
Mas aqueles que estavam na mira da fisga dos Deolinda, continuam a lá estar, “Medo de Mim” fala sobre bairros sociais e exclusão social e “Balanço” desequilibra a balança semestral de bancos, cortes e avisos de pagamentos.

Já com o anterior trabalho da banda se viu que há conteúdo e há crítica políticosocial, que há muita cabeça por trás dos temas que apresentam e os Deolinda não quiseram deixar que isso se esquecesse, apresentando alguns dos temas dos anteriores álbums, como “Mal por Mal”, “A Problemática Colocação de um Mastro” e “Movimento Perpétuo Associativo”, alguns dos favoritos dos fãs.
Mas onde há muita cabeça, também há muito coração e com “Mundo Pequenino” isso continua: “Concordância”, “Pois foi”, “Semáforo da João XXI” e “Não Ouviste Nada” são temas que retratam  mores e desfadados das paixões, tratam de encontros e desencontros e das coscuvilhices que envolvem os amores ou desamores dos outros.

Por fim e depois de mais de uma hora e meia de um fantástico e energético concerto que poucos como os Deolinda sabem dar, que por tão bom, quase soube a pouco, a banda despediu-se e saiu de palco, mas tal foi a onda de aplausos que a banda lá voltou, com Ana Bacalhau a agradecer e a dizer que o público a tinha deixado sem palavras, algo que segundo a vocalista é um momento raro. Assim relembraram “Clandestino” (um dos temas preferidos do autor deste artigo) e apresentaram “Doidos”, uma conversa sobre aqueles desejos que nos dão de arranhar as costas da pessoa amada num momento de mais paixão, saindo novamente de palco com mais uma enorme onde de aplausos.
Mesmo na meta final apresentaram “Quem Tenha Pressa” um tema bónus do novo álbum e repetiram “Musiquinha” outras duas vezes e mais seriam se a banda funcionasse a pilhas, assim, com enorme emoção a banda agradeceu e saiu de palco.

Que o “Mundo Pequenino” dos Deolinda é enorme lá isso é! Os Deolinda são já uma referência no panorama musical português e ainda parecem ter muitas cartas a dar. Esperemos que assim seja.

Fotografias e artigo por Tiago Alves Silva



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