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Telmo Pires com novo álbum, “Através do Fado”
Depois de”Fado Promessa” lançado em 2012 e “Ser Fado” de 2015, chega agora o terceiro álbum de Telmo Pires, “Através do Fado”.

Neste novo trabalho discográfico o fadista assume, também, a responsabilidade de coprodutor, ao lado de Davide Zaccaria, músico e produtor dos álbuns anteriores.

Fadista Telmo Pires

Nos últimos anos, Telmo Pires foi conquistando o público e os media pela Europa, sendo o seu nome associado não só a uma nova voz, mas também a uma nova imagem e postura no Fado contemporâneo.

O fadista assume um processo criativo muito íntimo e próprio. Telmo Pires confidencia que a sua arte advém do seu crescimento enquanto artista e ser humano: «Tudo o que faço é, e sempre foi, uma evolução muito orgânica. Seja no meu percurso artístico ou na minha vida pessoal. Uma coisa está sempre ligada à outra. Cada novo trabalho reflete, também, um novo ponto de vista, uma nova marca na minha vida. Eu vejo a vida, a arte, o amor, a “minha” cidade através do meu próprio Fado. Daí o título do álbum.»

Um fado/destino que o fez abandonar a terra natal, Bragança, rumo à Alemanha, ainda com poucos anos de vida. Em Berlim, Telmo Pires cresceu e tomou contacto com a cultura cosmopolita da capital germânica. Aqui iniciou o seu percurso artístico, mas a saudade tão portuguesa, tão do Fado, fê-lo voltar a Portugal. No Bairro da Graça, um dos mais típicos de Lisboa, encontrou o apaziguamento e a inquietude tão singulares do Fado. É esse sentimento ímpar, em simbiose com a experiência cosmopolita do centro da Europa, que faz com que o fadista encha salas em um pouco por todo o Velho Continente, como aconteceu na sua última digressão pela Alemanha, em novembro, onde reuniu perto de um milhar de pessoas na sala da Filarmónica de Berlim.

“Através do Fado” é um álbum puro. O fadista preferiu gravar em estúdio ao vivo, com os músicos que o acompanharam nos palcos, e sempre sob orientação de Davide Zaccaria. Guitarra portuguesa, viola e baixo. Telmo Pires confessa que esta é a forma mais simples e direta de “transportar” o seu Fado na sua essência. Com uma exceção: “Uma flor de verde pinho”, de Manuel Alegre e José Niza. Tema que, admite, “queria cantar há tantos anos”, mas que só agora é que se sente “maduro” e adulto o suficiente para o poder fazer. Aqui, pediu ao produtor Zaccaria para escrever e gravar um novo arranjo de cordas. E assim fez.

Telmo Pires escolheu dois temas/poemas inéditos seus para abrir e fechar o álbum. “Só o meu canto”, uma melodia forte, sobre a reflexão de que nada nos pertence, que tudo na vida é-nos somente emprestado e que permite ao fadista mostrar, mais uma vez, as suas qualidades e capacidades, não apenas como intérprete, mas também como cantautor. Fecha com o poema “No espelho”, cantado no “Fado Vianinha” de Francisco Viana. Sozinho, à capela, como se tivesse sido abandonado pelo mundo e pela vida. A captação do momento, como se fosse uma fotografia, de um homem que vê e que aceita, que é feito de todas as experiências, mágoas e alegrias do passado, mas que não pode e não quer ignorar o mais importante: o presente.

O novo álbum engloba, também, vários autores contemporâneos. Exemplo disso, o belíssimo poema “Sem peso ou medida” de Tiago Torres da Silva, cantado no “Fado Cravo” de Alfredo Marceneiro, ou “Não sou nascido do Fado” da autoria da cantora, fadista e amiga Ana Laíns. Telmo canta estes versos no “Fado Lopes” de Mário José Lopes, que ganham a máxima expressão e parecem ter sido criados para ele, para o seu jeito e forma de interpretar.

Com “Era uma vez” Telmo criou um Fado canção melódico “que entra logo no ouvido e lá permanece” devido ao seu ritmo e simplicidade. Um Fado que convida a dançar, atual, cuja letra critica e fala ironicamente da situação que se vive na, para ele, “cidade mais linda do mundo”:

«Era uma vez, toda a gente se juntava, para à noite ir à farra lá na tasca do Marquês’, mas hoje em dia, está tudo remodelado, neste hostel não há fado nem se percebe português”!»

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