“O Tempo é o que fazemos com ele” é o nome da crónica Adeus Que Me Vou Embora de Paula Viana para o Garband. A banda em destaque é os The R.E.F and The Kid.

Adeus Que Me Vou Embora

uma Crónica por Paula Viana

O Tempo é o que fazemos com ele

Cada vez mais dou por mim a pensar que o tempo acelerou sem que um aviso prévio fosse feito. Devia ser considerado culpado mesmo antes de ir a tribunal. Um dia hoje é uma semana do antigamente, uma semana é um mês e um mês sei lá… a eternidade. Talvez porque hoje o tempo seja coisa rara, não sei. Ou talvez seja a desculpa mais fácil para escaparmos à verdade absoluta de que o tempo é simplesmente o que fazemos com ele. E mesmo que o tempo que nos sobra caiba num buraco de uma agulha, ele continua a existir. Quero então acreditar que o tempo ou a falta dele não é desculpa para nada. Um dia continua a ter 24 horas e um ano 365 dias, portanto o planeta Terra continua a girar na mesma órbita e não vale a pena acreditar em teorias da conspiração de que o mundo está contra nós e agora não temos tempo para nada. Verdade de la palisse meus caros.

Quando somos crianças e jovens temos a capacidade de sonhar, acreditamos. Se pensarem bem foi assim com todos, embora alguns de vocês talvez já se tenham esquecido, porque o tempo também tem essa característica mesquinha de apagar algumas memórias. Depois os anos passam e deixamos de acreditar, perdemo-nos nas rotinas diárias e vamos deixando para trás os nossos sonhos, ficamos inertes a ver o tempo a passar. Mas pergunto: será que tem obrigatoriamente de ser assim? Não vamos culpar novamente o tempo, pois não?

Estes dias em conversa com um amigo do projeto GARBAND descobri uma banda, os The R.E.F and The Kid, assaltou-me logo à mente o que quereria dizer R.E.F… Ora bem, não é que quer dizer… Reformados? Verdade, sim. E quem seria o The Kid? Nada mais nada menos do que o miúdo da banda. Passo a explicar: trata-se de uma banda de rock em que os membros já ultrapassaram a casa dos 60 anos e agora que estão reformados resolveram fazer reviver o sonho que os une. Curiosamente também há um agradável encontro de gerações, com o membro mais novo da banda na casa dos 20 anos. Ao GARBAND Music Fest os The R.E.F and The Kid assumiram quem são: “Somos músicos que não tocávamos juntos desde 1974/1975 e agora ao fim de 45 anos e já na reforma, resolvemos pegar nas guitarras e voltar à música. Podíamos ir para o jardim jogar às cartas, mas optamos por revisitar as canções que se foram acumulando na gaveta. Juntos há aproximadamente dois anos, a ensaiar, a fazer os arranjos de todas as músicas e sobretudo a recordar como se toca em conjunto.”

Apraz-me saber que continuam a existir pessoas capazes de continuar a acreditar nos seus sonhos e vontades independentemente da idade e que fazem do tempo o “seu” tempo. Na cultura ocidental a passagem do tempo é encarada como um peso, um fardo. Há quem deixe de olhar para o espelho porque já não gosta do que vê. As rugas, os cabelos grisalhos e a perda de vigor físico são quase uma sentença para deixar de acreditar. Mas e o nosso interior? Deixamos de ter sonhos e vontades? Não. Velhos são os trapos e nunca é tarde demais para (re)começar.

Adeus… que me vou embora.

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