Vemos diariamente surgirem novos artistas/bandas e a serem apelidados da “nova geração” de qualquer coisa mas após um ou outro sucesso deixa-se de ouvir falar dessa tal banda “que veio para ficar” (só que não).
É cada vez mais difícil ver um projeto musical a existir por décadas superando altos e baixos da música, modas, fracassos editoriais ou até substituição de membros da banda – nalguns casos começa por aqui a quebra do projeto.
Apesar de todas as dificuldades, há bandas que já por cá andam há mais de 20 anos. São sinónimo de sucessos musicais que se tornaram grandes clássicos da música portuguesa. São nomes que não nos são indiferentes e, quer gostemos ou não, há que reconhecer que ter mais de duas décadas de carreira em Portugal é algo que está ao alcance de poucos.
Segue 13 bandas portuguesas com mais de 20 anos de carreira, em atividade contínua e de originais, dos mais variados géneros musicais.
UHF – 40 anos de carreira
Os UHF são a banda mais antiga em atividade: 40 anos de carreira!
Formada na Costa de Caparica, em Almada, no ano de 1978, são considerados uma das bandas responsáveis pela expansão do rock em Portugal.
A sua formação inicial era composta por António Manuel Ribeiro (vocal e guitarra), Renato Gomes (guitarra), Carlos Peres (baixo) e Américo Manuel (bateria). Apesar de ter sofrido algumas alterações nos membros da banda, António Ribeiro, fundador e vocalista, tem-se mantido até à data.
“Cavalos de Corrida” foi o primeiro single editado em 1980. No ano seguinte lançaram o primeiro álbum “À Flor da Pele“.
Aquando das comemoração dos 35 anos do lançamento do single “Cavalos de Corrida”, a Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu a “Medalha de Honra da SPA” a António M. Ribeiro, pelos 37 anos de carreira ininterrupta, e aos restantes elementos.
Ao longo de 40 anos de carreira venderam mais de 1,5 milhão de discos – entre álbuns, extended plays, singles e cassetes – e lançaram quinze álbuns de estúdio. Receberam onze discos de prata, sete de ouro, três de platina e vários prémios e condecorações. Em julho de 2017, atingiram a marca de 1700 concertos.
Xutos & Pontapés – 40 anos de carreira
Em dezembro de 1978, Zé Pedro, Kalú, Tim e Zé Leonel formam aquela que é considerado por muitos a melhor banda de rock português, os Xutos e Pontapés. Deram o primeiro concerto em janeiro de 1979 e editam o primeiro disco em 1982.
Apesar de em 1990 alguns dos seus elementos da banda terem iniciado outros projetos – Tim integra os Resistência, Zé Pedro e Kalu abrem o bar Johnny Guitar e integram a banda de Jorge Palma, Palma’s Gang, com Flak e Alex, ambos dos Rádio Macau – os Xutos nunca pararam e no ano seguinte, em 1991, lançam um novo disco.
Em 2004 o Presidente da República Jorge Sampaio, condecorou a banda com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.
A 30 de novembro de 2017 faleceu Zé Pedro, guitarrista e fundador dos Xutos e Pontapés, vítima de doença hepática. A banda garantiu continuidade e tem-se mantido na estrada, bem como a preparar um novo disco.
Há umas semanas atrás os Xutos e Pontapés lançaram “Duelo ao Sol“, tema que conta com a participação de Carlão e que faz parte da banda sonora do filme português “Linhas de Sangue”.
Os GNR – 38 anos de carreira
Uma das bandas portuguesas com mais de 20 anos de carreira é o Grupo Novo Rock (GNR). Foram formados no Porto no ano de 1980, por Alexandre Soares, Vitor Rua e Tóli César Machado. Atualmente a banda é constituída por Tóli César Machado, Rui Reininho (entrou em 1981) e Jorge Romão (entrou em 1983).
Classificaram o seu estilo, no início da carreira, como new wave, patente nos singles “Portugal na CEE” e “Sê Um GNR”, lançados em 1981.
No ano de 2005 foram condecorados com a Medalha de Mérito Cultural pelo Presidente da República Portuguesa Jorge Sampaio. Em 2015 foram galardoados pela Câmara Municipal de Matosinhos com a Medalha de Mérito Dourada e no ano seguinte receberam da Sociedade Portuguesa de Autores a Medalha de Honra.
Tornaram-se discograficamente independentes com a criação da editora própria no ano 2014.
Em novembro de 2016, a propósito dos 35 anos de carreira, celebrados com concertos em Guimarães e Lisboa, os GNR foram distinguidos com a Medalha de Mérito pela Sociedade Portuguesa dos Autores.
Moonspell – 26 anos de carreira
Os Moonspell, banda de heavy metal portuguesa, nasceu no ano 1992.
No ano seguinte à sua formação gravaram a demo “Anno Satanae”, que lhes garantiu um contrato com a editora francesa Adipocere Records com a qual gravam o EP “Under the Moonspell”.
No ano de 1995 editam o primeiro álbum “Wolfheart”. Neste trabalho a banda quebra com o seu antigo estilo, black metal, para produzirem um disco gótico com influências de folk e black metal. Disco que colocou os Moonspell na cena de metal internacional. No ano seguinte lançam “Irreligious”, cujo single “Opium” (música inspirada no poema Opiário de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa), continua a ser uma das músicas mais conhecidas dos Moonspell.
A banda continuou o seu trajeto com a edição de mais discos e concertos um pouco por todo o mundo, até que no ano de 2006 o disco “Memorial” alcançou o primeiro lugar do top de vendas em Portugal e é galardoado como Disco de Ouro. Nesse mesmo ano ganham o prémio de Best Portuguese Act dos MTV Europe Music Awards.
O ano passado a banda lançou o disco “1755”, cantado em português.
Atualmente fazem parte dos Moonspell: Mike Gaspar, Aires Pereira, Ricardo Amorim, Pedro Paixão e Fernando Ribeiro.
Alcoolémia – 26 anos de carreira
Os Alcoolémia são uma banda da Amora, cidade que pertence ao concelho de Seixal. Fundados no ano de 1992 tinham por base, a nível de sonoridade, o rock, variando a textura sonora com o punk rock, hard rock e com o pop.
Gravaram a primeira demo-tape com três temas originais “Quero-te ver nua”, “Curtir a vida” e ainda “Alcoolémia”, um instrumental. Em abril de 1993 gravam a segunda demo-tape na qual se destaca o tema “Não sei se mereço”, que catapultou a banda para a ribalta. No ano seguinte gravam o primeiro álbum, com 11 temas, ao qual dão o nome “Não sei se mereço”, que em 2015 é distinguido com o galardão de Disco de Prata.
Em 1997 lançam o álbum “Não há Tretas” e nesse mesmo ano a banda é distinguida pela Câmara Municipal do Seixal com a Medalha de Prata de Mérito Cultural.
Ao longo de mais de duas décadas de carreira os Alcoolémia tem vindo a sofrer algumas mudanças na formação banda, mas sempre em atividade, a banda tem vindo a lançar novos temas e álbuns e atuado um pouco por todo o país.
Clã – 26 anos de carreira
Os Clã nasceram no final do ano de 1992 pela mão de Hélder Gonçalves, que convida para este projeto Miguel Ferreira, Pedro Biscaia, Pedro Rito, Fernando Gonçalves e Manuela Azevedo.
Dão os primeiros concertos em 1994 e dois anos depois lançam o álbum de estreia “LusoQUALQUERcoisa”. Apesar das boas críticas ao disco o ‘boom’ da banda só acontece no ano seguinte, em 1997, com a edição do segundo àlbum, “Kazoo”, do qual são extraídos os singles “GTI (Gentle, Tall & Intelligent)”, “Problema de Expressão” e “Sem Freio”. Com este disco a banda inicia uma digressão de mais de dois anos, com mais de 100 espetáculos em Portugal e com passagem por Macau e Brasil.
No ano de 2000 lançam “Lustro”, segundo álbum, que garante o reconhecimento da banda por parte da crítica e do público e que recebe o galardão de Disco de Ouro. Dois anos depois “Lustro” é editado em França.
A banda continuou o seu trajeto, lançando mais discos e atuando em Portugal mas também no estrangeiro, como Texas (EUA), Espanha, Brasil, entre outros países.
O mais recente álbum dos Clã foi editado o ano passado; “Fã”, um disco com originais que a banda compôs para o musical com o mesmo nome.
Bizarra Locomotiva – 25 anos de carreira
Os Bizarra Locomotiva nasceram em 1993 pela mão de Rui Sidónio e Armando Teixeira com o propósito de participar num concurso de música em Lisboa, o qual venceram. No ano seguinte atuam no festival francês Printemps de Bourges e lançam o álbum de estreia, homónimo.
Em 1995 lançam mais dois álbuns e tem a sua primeira grande atuação em Portugal no palco do festival Sudoeste.
No ano de 2004 há uma renovação na banda e é lançado “Ódio”, o primeiro trabalho gravado pela formação atual e o quinto álbum da história da banda.
Aquando da celebração de 20 anos de carreira, já com nove discos editados, um deles platina, atuam no festival Super Bock Super Rock 2006 ao lado dos Korn e dos Soulfly.
“Mortuário” é o último álbum da banda lançado em 2015.
Atualmente os Bizarra Locomotiva encontram-se a celebrar 25 anos de carreira com dezenas de concertos de norte a sul do país.
Blind Zero – 24 anos de carreira
Nascidos no Porto em 1994 lançaram no ano seguinte o EP, “Recognize”, que esgotou em nove dias. Ainda em 1995 editaram “Trigger”, o primeiro longa-duração, que agitou o panorama musical português tornando-se no primeiro disco de rock cantado em inglês de uma banda nacional a atingir o galardão de Disco de Ouro.
No ano seguinte os Blind Zero em parceria com a banda de hip-hop Mind da Gap lançam “Flexogravity“, um EP de fusão; rock, hip-hop, e industrial. “Flexogravity” foi considerado por vários críticos como o EP do ano.
Em 2003 lançam “A Way to Bleed Your Lover”, quarto álbum de estúdio, que conta com a participação de Jorge Palma e de Dana Colley (ex-saxofonista da banda norte-americana Morphine). Este álbum foi considerado um dos melhores discos do ano por parte da imprensa especializada. Nesse mesmo ano, na cerimónia de entrega de prémios do MTV Europe Music Awards 2003, realizada em Edimburgo, os Blind Zero vencem a categoria “Best Portuguese Act”. Foi a primeira vez que a MTV atribuiu um prémio a uma banda portuguesa.
“Often Trees” é o mais recente álbum dos Blind Zero lançado no final do ano passado.
The Gift – 24 anos de carreira
Os The Gift são uma banda natural de Alcobaça, formada no ano de 1994, por Nuno Gonçalves e Miguel Ribeiro. A eles se juntaram John Gonçalves, Ricardo Braga (saiu da banda em 1997) e Sónia Tavares.
No ano da sua formação ficam classificados no segundo lugar do Concurso de Música Moderna do Bar Ben, em Alcobaça. Segue-se no ano seguinte o primeiro concerto em nome próprio no Mosteiro de Alcobaça. Em 1996 atuam no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no “Espaço 7-9” e aí recebem o convite para tocar no Porto, no bar Labirintho, em novembro desse ano. Com esse concerto surge o incentivo para gravarem o primeiro disco, “Digital Atmosphere”. Segue-se uma tour por 630 auditórios, muitos deles esgotados, e em 1998 a edição do primeiro trabalho discográfico “Vinyl”, sem o apoio de uma editora discográfica, pois pretendiam ser uma banda independente.
Em 2005 vencem na categoria de “Best Portuguese Act”, o MTV Europe Music Awards. Segue-se em 2006 o lançamento do álbum ao vivo e DVD “Fácil de Entender”, cujo nome é o de uma canção cantada em português e faixa escondida do álbum “AM-FM”.
Em 2007 conquistam o Globo de Ouro de Melhor Grupo com o álbum “Fácil de Entender”.
Em 2012 o site Art Vinyl elege o disco “Explode” como uma das melhores capas do ano 2011. O álbum ficou em 27.º lugar, numa lista de 50 melhores capas que inclui nomes como Coldplay, The Strokes e Jay-Z.
Em 2017 lançaram o mais recente disco, “Altar”, produzido por Brian Eno, que os levou a percorrer vários países; Holanda, EUA, Alemanha, Espanha, Brasil, Luxemburgo, Amesterdão e Rússia. Deram ainda dois concertos nos Coliseus portugueses.
Blasted Mechanism – 23 anos de carreira
Os Blasted Mechanism surgiram no ano de 1995, por ideia de Valdjiu e Karkov, como uma banda diferente no espectro musical português.
O primeiro álbum chega quatro anos depois da formação da banda. “Plasma” é o nome que dão ao seu disco de estreia.
Em 2005 editam “Avatara”, o quarto álbum de estúdio e no ano seguinte são galardoados com o Globo de Ouro, pela SIC, como Melhor Banda Portuguesa.
Em 2007 lançam o álbum “Sound in Light” que contou com a participação de vários convidados especiais, nacionais e internacionais, como António Chaínho, Rão Kyao, Dani Macaco, Transglobal Underground, Nidi D’arac, Gaia Beat e Kumpania Algazarra.
No início de 2008 a banda anunciou que Karkov, o vocalista até então, deixava os Blasted Mechanism “declarando que já não tem energia para dar ao projeto”. Para o lugar do Karkov entrou Pedro Lousada, com o nome Guitshu.
Atualmente a banda, que já foi várias vezes nomeada para o prémio Best Portuguese Act nos MTV Europe Music Awards, é formada por Valdjiu, Ary, Guitshu e Fred Stone, tendo este ano ingressado nos Blasted Mechanism o músico sueco Joahn Eckman.
Para além da nova formação, a banda anunciou novo look e novo single, bem como um novo álbum “Sinchronicity”, a ser lançado em breve.
Dealema – 22 anos de carreira
Os Dealema são um dos mais antigos grupos de hip-hop em Portugal. Surgiram no ano de 1996 com membros naturais das cidades de Gaia e do Porto.
Começaram com a fusão de dois projetos musicais, Factor X (Mundo e Dj Guze) e Fullashit (Fuse e Expeão). Mais tarde conheceram o “5° elemento”, Maze, e todos juntos formaram os Dealema que há mais de 20 anos se mantêm no ativo exactamente com a mesma formação.
Em julho de 1996 lançaram “O Expresso do Submundo”, primeiro disco e 7 anos depois lançam o álbum homónimo, que arrebatou a crítica e conquistou o público e fez com que os Dealema tocassem nalguns dos maiores festivais de música em Portugal.
Em 2008 lançam “V Império”, novo disco que veio confirmar e consolidar o estatuto dos Dealema no panorama musical. Deste disco fazem parte alguns dos maiores hinos de Dealema, tais como “Sala 101”.
No final do ano de 2013 lançam “Alvorada da Alma”, sexto trabalho discográfico que conta, pela primeira vez, com 12 convidados, alguns deles nomes internacionais do hip-hop.
No início de 2017 lançaram uma série que documenta 20 anos de carreira do grupo.
Santamaria – 20 anos de carreira
Os Santamaria são uma banda de estilo eurodance formada no ano de 1998. A banda natural do Porto surgiu através dos irmãos, que ainda hoje integram a banda, Tó Lemos (teclados) e Filipa Lemos (vocalista).
Com os três primeiros álbuns – “Eu Sei, Tu És” (1998), “Sem Limite” (1999) e “Voar” (2000) – venderam mais de 100 mil cópias de cada disco.
Em 2001 receberam o Globo de Ouro para Melhor Grupo.
No ano de 2007 lançam “Elements”, nono álbum de estúdio e que marca a entrada de Lucas Junior, produtor e teclista que já tinha colaborando por várias ocasiões com o grupo e que se mantém na formação dos Santamaria até aos dias de hoje.
Em 2008, ano de celebração de uma década de carreira, dão um concerto no dia 8 de agosto, na Avenida dos Aliados, em pleno centro do Porto, para mais de 20 mil pessoas. Desse concerto surge o CD e DVD “10 Anos – Ao Vivo”.
Em novembro de 2013, a assinalar 15 anos de existência, escolheram o Coliseu do Porto para a gravação de um CD e DVD ao vivo.
Atualmente o grupo Santamaria, que contam com 21 discos de platina e 2 de ouro, encontram-se a celebrar os 20 anos de carreira com uma tour pelo país.
Anjos – 20 anos de carreira
Os Anjos são uma banda composta pelos irmãos Nelson Rosado e Sérgio Rosado.
A dupla, que se faz acompanhar desde os primeiros anos de carreira por banda ao vivo, lançou o primeiro álbum, “Ficarei”, em 1999, com o qual alcançaram todos os tops de vendas e conquistaram uma tripla platina. Nesse mesmo ano, pelo Natal, lançam uma nova edição de “Ficarei” que contém a música “Nesta Noite Branca”, com a cantora Susana, e que se tornou um dos temas ícone dos irmãos Rosado.
De disco em disco, de sucesso em sucesso, em 2007 são convidados a gravar todos os temas da novela “Vingança”, da SIC. Apesar dos temas não serem originais o disco alcançou bastante notoriedade.
Em 2008 celebraram 10 anos de carreira com um concerto na cidade de Albufeira e editam esse espetáculo em disco.
No ano seguinte voltam aos discos originais e lançam “Virar a Página”. O tema que deu nome ao álbum conta com a participação especial de Sérginho Moah, vocalista do grupo brasileiro Papas na Língua. Este tema foi um enorme sucesso em Portugal e também no Brasil.
Em 2012 gravam o álbum “Anjos Acústico”, que os levou a percorrer Portugal com uma tour acústica durante mais de 2 anos.
Em outubro de 2013 os Anjos celebraram 15 anos de carreira no Campo Pequeno, em Lisboa. Um concerto com muita energia, cumplicidade e emoção.
No final do ano de 2017 lançaram “Longe”, álbum que mantém a marca sonora da dupla mas que se reconhece a aposta num som mais moderno e arrojado. Este sexto álbum de originais da dupla ocupou o primeiro lugar do Top de Vendas Nacional e o tema “Para Longe” tornou-se um dos hits do ano, tendo, até à data, mais de 5 milhões de visualizações no youtube.
E são estas as bandas portuguesas com mais de 20 anos de carreira.
Há ainda outras bandas portuguesas que existem há mais de 20 anos mas que não tiveram a sua atividade contínua, como o caso dos Taxi, Resistência, Madredeus, Primitive Reason, Ala dos Namorados e Pólo Norte.
Texto: Daniela Henriques